sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ezequiel Nasser e Merrill Lynch duelam na Justiça de Nova York

Sexta-Feira, 30 de Janeiro de 2009 (do Estadão)

Ezequiel Nasser e Merrill Lynch duelam na Justiça de Nova York

Fundos de ex-banqueiro cobram do banco US$ 612 milhões; instituição diz que levou calote de US$ 78 milhões dos Nasser
David Friedlander e Patrícia CançadoTamanho do texto? A A A A
Dois dos personagens mais agressivos do mundo das finanças, o banco americano Merrill Lynch e o ex-banqueiro Ezequiel Nasser, que foi dono do Excel Econômico, estão brigando na Suprema Corte de Nova York. Cinco fundos de investimentos de Nasser, de seu filho Raymond e de seu tio, Albert, cobram US$ 612 milhões da instituição. Numa ação contra a Merrill, eles alegam que foram enganados, induzidos a fazer maus negócios e que perderam dinheiro porque o banco liquidou operações com derivativos sem seu consentimento. A Merrill Lynch diz o contrário. Afirma ter levado um calote dos Nasser e desde abril cobra na Justiça US$ 78 milhões por perdas com operações de alto risco realizadas por eles.

"Eles (Merrill Lynch) liquidaram as aplicações, se apoderaram de todas as garantias sem avisar e pegaram as contas para a carteira deles", disse ao Estado Raymond Nasser, diretor dos fundos que tinham conta na Merrill. Para chegar aos US$ 612 milhões, os fundos pedem US$ 112 milhões por perdas com corretagem, US$ 200 milhões com a liquidação de swaps, além de US$ 300 milhões em indenizações.

"(Os Nasser) não querem pagar a dívida e têm feito os maiores esforços para fugir de suas obrigações", afirmou, em e-mail enviado ao Estado, Mark Herr, vice-presidente de comunicação corporativa da Merrill Lynch, que foi vendida no fim do ano passado para o Bank of America . "Eles se apresentavam como investidores extremamente sofisticados e movimentaram mais de US$ 1 bilhão nos três anos em que foram nossos clientes."

No centro da disputa aparece o Bear Sterns, primeiro grande banco de investimento americano a quebrar com a crise financeira global. Os fundos que os Nasser tinham na Merril Lynch investiam em opções de compra de ações do Bearn Sterns desde meados de 2007. Quando a instituição foi à lona, em março do ano passado, a cotação dos papéis despencou de US$ 60 para US$ 2 em apenas uma semana, gerando um prejuízo que nenhum dos envolvidos diz exatamente quanto foi.

Para cobrir parte das perdas, a Merrill Lynch afirma em seu processo que, após tentativas - sem sucesso - de cobrar o pagamento, foi buscar o dinheiro em outras aplicações dos Nasser no banco. A decisão foi liquidar investimentos em swaps que os fundos da família mantinham na instituição. A medida não teria sido suficiente para bancar o prejuízo. Portanto, em abril, a Merrill Lynch foi à Justiça para cobrar US$ 78 milhões dos Nasser. No processo, afirma que os Nasser "negaram e negligenciaram suas dívidas com a Merrill Lynch apesar dos pedidos feitos". Mais: "com a intenção de esconder, atrasar e enganar a Merrill Lynch, fizeram uma série de transferências de suas aplicações para contas em outros bancos."

Os Nasser também fazem acusações pesadas contra a Merrill Lynch. Primeiro, culpam os profissionais da instituição por negligência.Dizem que investiram nos papéis do Bear Sterns influenciados por avaliações enviesadas feitas pelos analistas da Merrill, que "omitiram informações e fraudaram números". Dizem ainda que a Merrill vendeu os papéis no pior momento, quando o Bear Sterns faliu. "Eles resolveram liquidar as opções quando os papéis estavam a US$ 2. Por que esperaram tanto tempo se poderiam ter liquidado quando as ações estavam cotadas a US$ 60?", afirmou Ezequiel Nasser ao Estado. "

Os fundos dos Nasser também acusam a Merrill Lynch de tê-los prejudicado quando liquidou as operações de swap para cobrir os prejuízos com papéis do Bear Sterns. "Eram as operações mais lucrativas. Rendiam US$ 25 milhões por ano aos fundos", diz Raymond. "Até hoje eles não apresentaram boleto, nenhuma contabilidade convincente para mostrar a contraparte, o valor, nada."

Na tentativa de mostrar à Justiça que a Merrill Lynch teria reconhecido internamente as falhas no caso deles, os Nasser citam a demissão de seis funcionários da Merrill Lynch, dos escritórios de São Paulo e de Nova York, responsáveis pelo monitoramento de suas contas dos fundos. A Merrill não quis se manifestar sobre esse ponto.

O processo dos Nasser cita ainda a demissão de Cláudia Srour, uma espécie de gerente das contas dos fundos dos Nasser na Merrill Lynch, como evidência da suposta má fé da instituição. No processo, dizem que ela foi demitida por ter se "recusado a assinar declarações falsas" para prejudicá-los.

Claudia, agora longe da Merrill, continua próxima aos Nasser. É consultora pessoal de Ezequiel e deve se tornar sócia Raymond num escritório de gestão de recursos, a Analytica, com sede em Nova York. No site do escritório, o nome de Claudia já aparece.

Ezequiel Nasser vive entre São Paulo e Nova York, onde afirma administrar dinheiro pessoal e o de clientes. Membro de uma família tradicional de banqueiros, os Safra, nos anos 70 e 80 Ezequiel Nasser trabalhou para os tios Edmond (já falecido), nos Estados Unidos, e Joseph, no Brasil. Em 1990 abriu seu próprio banco, o Excel, que durante anos esteve entre os três mais rentáveis do país. Mais tarde comprou, com ajuda do governo, os restos do banco Econômico, que estava falido.

Foi a fase em que Nasser, um homem discreto que vivia com medo de sequestro depois de passar mais de dois meses em cativeiro, mais apareceu. Foi brincar o Carnaval em Salvador, onde ficava a sede do Econômico, e passou a patrocinar clubes de futebol populares, como o Corinthians. Mas não conseguiu resgatar a imagem do banco que, mergulhado em dificuldades financeiras, acabou sendo vendido pelo valor simbólico de R$ 1 aos espanhóis do Bilbao Vizcaya,que já saíram do País.

Sumido desde o fim do Econômico, o ex-banqueiro Nasser reaparece agora na disputa com o banco norte-americano.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

22/01/2009 - 11h33
Governo consegue bloquear mais de US$ 2 bi em contas no exterior relacionadas à Satiagraha

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da Folha Online
O Ministério da Justiça conseguiu o bloqueio de mais de US$ 2 bilhões, ou seja, R$ 4,5 bilhões, em contas bancárias mantidas no exterior e relacionadas à Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

A Operação Satiagraha ocorreu no dia 8 de julho do ano passado, contra suspeitos de corrupção e de promover lavagem de dinheiro. Entre os presos estavam o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas e o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.

Folha Imagem

Naji Nahas, Celso Pitta e Daniel Dantas foram presos durante a Operação Satiagraha, da PF
Segundo o ministério, desse montante, cerca de US$ 500 milhões resultam de cooperação do governo americano, e trata-se do maior bloqueio de recursos suspeitos de ilícitos da história do Brasil.

A pasta afirmou que o local do bloqueio e os nomes dos titulares não serão divulgados, em consequência do compromisso assumido com os países cooperantes e para não atrapalhar as investigações.

O bloqueio foi determinado por ordem judicial expedida em cooperação Jurídica Internacional. A ação foi coordenada pela Secretaria Nacional de Justiça, com a participação do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), da Justiça Federal e da Polícia Federal.

No ano passado, a Secretaria Nacional de Justiça havia conseguido bloquear US$ 46 milhões dos investigados na Operação Satiagraha. O dinheiro estava no Reino Unido. De acordo com o blog do Josias, o dinheiro seria de Dantas.

A reportagem está tentando contato com o advogado do banqueiro, Nélio Machado, para comentar o novo bloqueio.

Investigações

Segundo a PF, as investigações começaram há cerca de quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 6ª Vara Criminal Federal.

Na apuração foram identificadas pessoas e empresas supostamente beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, supostamente comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.

Para a prática dos delitos, o grupo teria possuído empresas de fachada. As investigações ainda descobriram que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.

Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização teria atuado no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios inclusive do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Entenda o esquema de pirâmide financeira realizado por Madoff

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008, 15:03 | Online
De: O Estadão


SÃO PAULO - Bernard Madoff, operador renomado de Wall Street e fundador da Bernard L. Madoff Investment Securities LLC, foi preso no dia 11 de dezembro acusado de estar por trás de um esquema multibilionário e fraudulento de pirâmide financeira conhecido como Ponzi.



A fraude era feita da seguinte forma: a empresa de Madoff atraía os investidores oferecendo níveis de rentabilidade que chegavam a 1% ao mês, ou seja, mais de 10% de retorno no investimento por ano. Ele, então, utilizava o dinheiro desses novos investidores para pagar clientes antigos, que queriam resgatar os recursos aplicados.



O esquema funcionava porque os rendimentos não eram pagos aos investidores todo mês, apenas acompanhado por eles. Esse dinheiro só seria devolvido ao cliente quando este resgatasse seu investimento. O problema é que, diante de grande demanda por resgates em decorrência da crise financeira, o fundo de Madoff ficou sem dinheiro para pagar os investidores e a fraude veio à tona.



Agora que suas supostas vítimas questionam por que as autoridades americanas não checaram antes o que estava acontecendo, parece que a forma como Madoff operava foi decisiva para o seu sucesso. Descrito como "afável" e "de alto nível, mas de uma forma discreta", o banqueiro se esforçou para manter sua aura de exclusividade.



Muitos de seus clientes mais ricos foram conquistados em conversas em clubes para abastados em Nova York ou na Flórida, e Madoff dava a eles uma sensação de pertencerem a um círculo privilegiado. Ele usou esses grandes nomes para atrair outros investidores, até que sua influência passou a se estender a grandes bancos, fundos hedge e até mesmo organizações beneficentes.



As operações de Madoff, de fato, eram bem obscuras. Além de sua empresa original, a Bernard L. Madoff Investment Securities, ele dirigia uma empresa de assessoria financeira totalmente separada - e é essa empresa que está envolvida na suposta fraude.



Ele nunca revelou seus métodos de operação no mercado ou como ele gerava os lucros substanciais para os investidores que representava. "É uma estratégia do meu negócio. Não posso dar muitos detalhes", disse ele certa vez.



A Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos Estados Unidos tinha autoridade para investigar os negócios de Madoff. Analistas financeiros levantaram dúvidas sobre as práticas de Madoff repetidamente ao longo da última década, incluindo uma carta de 1999 para a SEC que acusava Madoff de estar realizando o esquema Ponzi. Mas a agência não conduziu nem mesmo uma análise de rotina no fundo de investimentos até a semana passada.



Mas como essa situação não levantou antes a suspeita dos órgãos reguladores?



A resposta envolve provavelmente uma combinação do prestígio pessoal de Madoff com sua exploração cuidadosa de certas brechas no sistema. Como ex-presidente da Nasdaq, com uma coleção de outras diretorias no currículo, e generoso doador em causas beneficentes, Madoff era um homem que inspirava confiança.



Quanto aos reguladores, a SEC regularmente fiscalizava a Bernard L. Madoff Investment Securities, mas não sua empresa separada de assessoria financeira. Essa empresa gerenciava um fundo hedge que não estava registrado na SEC até setembro de 2006 - e, de acordo com relatos, nunca foi sujeito a inspeção depois disso.



Detalhes de investigações mais antigas da SEC sobre os negócios de Madoff estão agora sendo divulgados. Na semana passada, a SEC disse que as operações de Madoff com títulos foram investigadas em 2005 e na época concluiu-se que ele havia violado a regra que determina que os corretores obtenham a melhor cotação possível.



Cofre familiar



As investigações estão apenas começando. Os investigadores ainda não disseram quando acreditam que Madoff tenha começado a prática fraudulenta de usar investimentos novos para pagar os investidores já existentes. Não está claro quanto dinheiro foi perdido ou quantas pessoas estavam envolvidas.



Ainda não veio a público se ele gastou tudo, se guardou em algum lugar ou simplesmente perdeu o dinheiro. Foi revelado pelo jornal Evening Standard que Madoff mantém no centro de Londres um pequeno escritório onde guardava milhões em dinheiro.



Comparado com o edifício Lipstick, de Manhattan, em Nova York, onde fica a sede central de seu banco de investimentos, o escritório londrino, no número 12 de Berkeley Street, no bairro de Mayfair, é bem mais discreto.



Uma fonte disse ao jornal que a sede anônima era como um "cofre familiar" do banqueiro, no qual guardava o equivalente a 88 milhões em dinheiro para determinadas operações familiares. Nesse escritório trabalham 28 pessoas, incluindo analistas e especialistas em investimentos, e à frente dessa sede está Stephen Raven, de 70 anos, um dos nomes mais respeitados na City de Londres.



Raven ocupou um cargo durante 16 anos no Conselho da Bolsa de Londres e também foi membro do Conselho de Administração do banco Warburg's, além de ser diretor-fundador da Liffe. Logo após saber da monumental fraude cometida por seu chefe, Raven publicou uma declaração à imprensa na qual afirmava que as atividades desenvolvidas nesse escritório nada tinham a ver com a companhia americana de gestão de ativos.