quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O pontífice contra o pecado da lavagem

Diário de Pernambuco
Edição de quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Vaticano edita normas para combater o crime e dar transparência às movimentações econômicas da igreja

Vaticano - O papa Bento XVI promulgou ontem as normas contra a lavagem de dinheiro, passo decisivo do Vaticano em direção à transparência de suas transações econômicas, objeto de graves acusações e suspeitas por décadas. O decreto papal ou motu proprio para a luta contra a lavagem de dinheiro entrará em vigor hoje, anunciou o Vaticano. A medida tem por objetivo ´prevenir e lutar contra a lavagem de capitais provenientes de atividades criminosas e para o financiamento de terrorismo`, destacou a igreja em um comunicado.

A aplicação das novas leis e a criação de uma ´Autoridade para a Informação Financeira` permitem que o Vaticano entre na lista de Estados que respeitam as normas para a luta contra a lavagem de dinheiro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) e o Grupo de Ação Financeira (GAFI). Segundo a agência de notícias religiosas i.Media, com essa medida o Vaticano começa a formar parte da lista de países que respeitam as normas contra a lavagem de dinheiro.

O decreto contém uma série de disposições para o respeito dos acordos assinados em 2009 entre o Vaticano e a União Europeia e contempla todas as atividades econômicas da Santa Sé, inclusive os Museus Vaticanos e a entidade que administra seu enorme patrimônio imobiliário de Roma. ´Trata-se de um fato histórico`, sustenta o jornal La Stampa, que antecipou a notícia. As novas medidas preenchem uma lacuna na legislação do Vaticano e enviam um sinal importante de rigor, após os escândalos que estouraram nos anos 1980 pela gestão de suas finanças e suas controversas relações com banqueiros próximos à máfia siciliana.

A quebra, em 1982, do outrora maior banco da Itália, o Banco Ambrosiano (do qual o Vaticano era um acionista importante) dirigido por Roberto Calvi, encontrado misteriosamente morto sob uma ponte em Londres, e suas conexões com o ´banqueiro de Deus`, monsenhor Paul Marcinkus, foi um dos maiores casos político-financeiros do pós-guerra.

Daniel Dantas // Legislação dos EUA complica banqueiro

Diário de Pernambuco
Edição de quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Justiça dos Estados Unidos está autorizada, desde 22 de dezembro passado, a bloquear os bens mantidos no território norte-americano por suspeitos de atividades criminosas em outros países. A sanção da nova Lei de Bloqueio de Bens Criminais Arrestados foi comemorada pela Secretaria Nacional de Justiça, no Brasil, como o instrumento legal para congelar cerca de US$ 500 milhões em patrimônio do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, nos EUA.

Ainda não há clareza, entretanto, sobre a permanência desse volume de recursos de Dantas no país. Em agosto passado, a Corte de Apelação do Distrito de Columbia havia suspendido um bloqueio mantido por cerca de um ano nas contas de Dantas e de sua irmã, Verônica, em instituições norte-americanas. A decisão foi tomada porque a Justiça brasileira não havia concluído o julgamento do caso. Naquela ocasião, as cortes dos EUA não dispunham de base legal para bloquear bens relacionados a casos ainda em andamento na Justiça de outro país.

A lacuna foi preenchida pela Lei de Bloqueio de Bens Criminosos Arrestados, projeto dos senadores Sheldon Whitehouse (democrata) e John Cornyn (republicano). Com apenas um único capítulo, a lei autoriza as cortes norte-americanas a bloquear bens sujeitos a arresto por processos civis ou criminais movidos em outros países. A medida pode ser adotada antes ou depois do julgamento do caso pela Justiça estrangeira. De acordo com a assessoria de Whitehouse, bastará o pedido formal das autoridades judiciais de outro país para as cortes americanas bloquearem esses bens.

Segundo a assessoria de Whitehouse, o projeto de lei foi sugerido pelo Departamento de Justiça dos EUA. O texto daria maior poder ao organismo de impedir a movimentação de recursos de procedência duvidosa - especialmente fraudes financeiras, corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e de armas - em instituições financeiras do país. A aprovação do texto se deu por unanimidade no último 2 de dezembro, no Senado - duas semanas depois na Câmara dos Deputados.

domingo, 26 de dezembro de 2010

“IMF get out”: a versão europeia de um antigo drama brasileiro

ANDREI NETTO, de O Estadão
25 nov 2010

Na Irlanda, pesquisas de opinião e analistas políticos indicam que a maior parte da opinião pública não é contra o pacote de ajuda de € 85 bilhões, oferecido pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como vacina contra a bancarrota. Ainda assim, entre militantes de uma minoria nacionalista, que se diz “humilhada” e atingida em sua soberania, ecoa uma frase: “IMF get out”, a versão em inglês de um mantra bem conhecido dos brasileiros, o “Fora FMI”.
Entre janeiro e fevereiro, Atenas foi palco de greves, passeatas e confrontos violentos – inclusive com mortes. Entre setembro e outubro, Paris, Lyon e suas periferias incendiárias também assistiram a protestos e conflitos entre a polícia e manifestantes. Mas o 24 de novembro de 2010 talvez venha a marcar, no futuro, o início de uma insatisfação generalizada dos europeus contra as políticas de austeridade contra a crise das dívidas públicas.
Ontem, manifestações simultâneas e independentes deixaram quatro países em estado febril: na Irlanda, Grã-Bretanha, Itália e Portugal trabalhadores e estudantes foram às ruas contra as medidas de rigor adotadas pelos governos europeus – liberais e socialistas, diga-se. Até então, o fenômeno da insatisfação pública era menosprezado e atribuído aos gregos, “corruptos demais”, ou aos franceses, “mimados demais”. Agora, é cada vez mais difícil explicar por que os protestos tomam as ruas em países ordeiros e avessos a movimentos sociais, como a Inglaterra.
Há na Europa um temor crescente de que as medidas de socorro, como o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FESF), inventado pelos líderes políticos em Bruxelas para auxiliar a Grécia em maio, não sejam suficientes para aplacar o risco de falência de países periféricos, como Irlanda e Portugal, ou nada periféricos, como Espanha e Itália. Afinal, nem a rica e estável Europa pode seguir pagando empréstimos de € 110 bilhões ou € 85 bilhões para socorrer cada país da zona euro.
No mercado financeiro, assim como nas universidades, especialistas em macroeconomia se perguntam qual é a solução para a crise das dívidas. Muito se fala na implosão do euro e no renascimento das moedas nacionais, como o marco, o franco ou a lira. Mas essa alternativa, sustentam economistas como Daniel Cohen, especialista em reestruturação de dívidas e acadêmico da Escola de Economia de Paris, não é realista, porque ninguém na Europa está disposto a arriscar a desintegração da UE, um projeto político maior do que tudo: o de garantir a paz. Cohen e outros entendem que os planos de austeridade pecam em um ponto: implodem o que resta do Estado de bem-estar social no momento em que o desemprego explode, o que só tende a aprofundar o fosso da recessão. Sem crescimento, não há equilíbrio fiscal, afirmam esses especialistas.
Para eles, a União Europeia só tem uma alternativa: coordenar suas políticas macroeconômicas e alinhar estratégias fiscais. Em síntese: integrar-se cada vez mais. O entrave está nos palácios, onde governos como o de Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e David Cameron voltaram-se aos problemas internos sem entender o recado da crise: ou os países da Europa aceitam sua interdependência, ou serão cada vez mais dependentes do FMI.

domingo, 14 de novembro de 2010

BANCO CENTRAL DO BRASIL - Nota à Imprensa sobre Banco Panamericano

BANCO CENTRAL DO BRASIL

Nota à Imprensa sobre Banco Panamericano
10/11/2010 17:10:00

Brasília - Com relação ao fato relevante divulgado em 9/11/2010 pelo Banco Panamericano S/A, o Banco Central esclarece o seguinte:
Em sua rotina de supervisão do sistema financeiro, o Banco Central detectou inconsistências nos registros contábeis do Banco Panamericano. Seguindo os procedimentos legais, o Banco Central comunicou o fato ao grupo controlador da instituição e determinou a adoção de providências imediatas para regularização da situação patrimonial do banco, tendo o controlador do Banco Panamericano solicitado prazo para a solução financeira do aporte de capital. No dia 3 de novembro passado, o controlador apresentou ao Banco Central, dentro do prazo legal, a proposta de recomposição patrimonial. Na semana corrente, o plano foi estruturado e executado.
Para sanar o problema, o controlador do Banco Panamericano realizou um depósito na instituição no valor de R$ 2,5 bilhões (dois e meio bilhões de reais), com recursos obtidos de uma operação de crédito com garantias realizada junto ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Por se tratar de restabelecimento de equilíbrio patrimonial, a participação acionária da Caixa Econômica Federal e dos demais acionistas minoritários não foi alterada em razão da operação realizada pelo sócio majoritário. O fato relevante divulgado em 9/11/2010 pelo Banco Panamericano S/A diz respeito, portanto, a operação financeira de caráter privado, visando à proteção de seus clientes e do sistema financeiro.
O FGC, criado pela Resolução CMN no. 2197/95, é uma entidade de direito privado, que tem por objetivo oferecer mecanismos de proteção a depositantes e outros credores de instituições financeiras. Para cumprir essa função, conta com recursos de contribuições do próprio setor bancário. O FGC já realizou diversas operações financeiras de caráter preventivo com o objetivo de garantir a liquidez do sistema financeiro, a exemplo das medidas por ele adotadas durante a crise econômica de 2008. Não foram usados recursos públicos.
A aquisição de participação acionária do Banco Panamericano pela CaixaPar, subsidiária da Caixa Econômica Federal, foi realizada ao amparo da Lei 11.908/2009. A análise realizada pelo Banco Central a respeito da operação de aquisição foi concluída na forma da legislação em vigor. O Banco Central não tem competência legal para avaliar a oportunidade e a conveniência de negócios privados, nem para efetuar auditoria nos demonstrativos das partes para efeito da aquisição de participações societárias, tarefa que cabe aos auditores contratados pelas partes para esse fim. A análise do BC leva em conta índices de concentração e competitividade do mercado, ou seja, busca identificar o mercado relevante e eventual impacto sobre a concorrência.
O Banco Central está tomando todas as providências cabíveis na situação, visando à investigação dos fatos e à apuração de responsabilidades, nos termos de suas competências legais de supervisão do sistema financeiro. Os resultados desse processo serão comunicados às autoridades competentes, observadas as disposições legais aplicáveis, inclusive no que diz respeito ao sigilo legal incidente na espécie.

Brasília, 10 de novembro de 2010.
Banco Central do Brasil
Assessoria de Imprensa
imprensa@bcb.gov.br
(61)3414-3462

Logo será esquecido como o baque do Panamericano pode acontecer num ramo que se supunha saneado

Não há explicação para as auditorias não flagrarem as fraudes e a fiscalização do BC ter sido menos frequente ou rigorosa do que se supunha

12/11/2010 - 18:05 - Antonio Machado

A fraude de R$ 2,5 bilhões detectada no Banco Panamericano, do empresário Silvio Santos, logo estará soterrada no noticiário por fatos mais quentes. É da vida que as notícias sejam efêmeras.

E, no entanto, o que poderia ser um escândalo, cuja propagação não interessa ao governo, ao mercado financeiro e aos empresários do setor bancário, é também a oportunidade para que sejam revistas as condicionantes que permitiram um baque dessa magnitude num ramo da economia que se supunha saneado e a salvo de trambiques.

O evento que levou o empresário a entregar todo o seu patrimônio, do SBT à rede de lojas do Baú da Felicidade, como garantia para o empréstimo que resgatou o seu banco da ruína certa tem implicações que transcendem o próprio caso, começando pelo modelo de salvação.

Desde que o Banco Central apurou a fraude no Banco Panamericano, no início de agosto - basicamente devido à venda de carteiras de crédito para outros bancos e fundos de direitos creditórios sem dar baixa dos contratos de empréstimos cedidos, gerando assim uma receita fictícia -, o governo se concentrou em minimizar o pepino.

Duas preocupações foram à mesa. A do BC, por suposto, envolvia a melhor forma de tratar a insolvência do Panamericano com mínimos danos à economia. É da missão dos bancos centrais prevenir tudo o que possa implicar riscos sistêmicos à atividade bancária.

Ao governo preocupava os desdobramentos da necessária intervenção sobre o Panamericano. As eleições estavam chegando e a candidatura de Dilma Rousseff poderia ser cobrada, já que no fim de dezembro a Caixa Econômica Federal comprara por R$ 739 milhões 49% do capital votante, equivalente a 36,6% do capital total, do Panamericano.

A crise do banco de Silvio Santos expunha um fato inquestionável: a autoridade monetária do país, além de responsável pela saúde do sistema financeiro, e um dos três grandes bancos federais levaram bola entre as pernas.

Não ameniza saber que firmas conceituadas de auditoria, como Deloitte, que assina os balanços do banco, e KPMG, contratada para checar a contabilidade antes que a Caixa fechasse o negócio, também tomaram frango. Em última instância, a garantia da higidez bancária é do BC. E a Caixa é quem aprovou a compra.

Um atraso conveniente

Não procede, por tudo isso, a informação de que o presidente Lula desconhecesse o problema ao receber o empresário-apresentador no fim de setembro, no Palácio do Planalto. Silvio Santos, segundo um amigo, foi a Lula para confirmar que cederia seus bens em garantia do empréstimo salvador, conforme a solução anunciada esta semana.

Dê-se o desconto de que a fórmula usada era original, sem chance de aplicação imediata. Mas foi também conveniente, já que a demora do trâmite para resgate do Panamericano deu tempo a que passasse a eleição presidencial e o caso não fosse aproveitado pela oposição.

A preocupação de Lula

Em vez da intervenção direta, o BC negociou para que o FGC (Fundo Garantidor de Créditos), criado em 1995 exatamente para ressarcir os depósitos de correntistas e aplicadores até R$ 60 mil por CPF, jogasse a bóia salvadora.

A empresa holding de Silvio Santos, dona de todos seus negócios, emitiu debêntures em valor equivalente ao furo do Panamericano, e elas foram subscritas pelo FGC.

A idéia era evitar que o governo aparecesse socorrendo banqueiro. Os recursos do FGC são dos próprios bancos, provenientes de uma taxa compulsória sobre os depósitos bancários. “A grande conclusão é que o problema foi solucionado sem o uso de um único centavo de dinheiro público”, saudou o presidente do BC, Henrique Meirelles.

Mistérios insondáveis

Dinheiro público não houve, mas a sociedade é que vai pagar pelos malfeitos do Panamericano. A retenção ao FGC é custo aos tomadores de empréstimos, já que incluída pelos bancos como item do “spread” - diferença entre o juro pago na captação e o cobrado do devedor.

Já o empréstimo a Silvio Santos foi de pai para filho: ele terá dez anos para pagar em parcelas semestrais sem juros, três anos de graça e correção pelo IGP-M. Para não parecer deboche, ele deveria ficar proibido de recitar o seu bordão: “Quem quer dinheiro?”.

Com a poeira assentada, ficam abertos os motivos de as firmas de auditoria não flagrarem as fraudes contábeis, a fiscalização do BC ter sido menos frequente ou rigorosa do que se supunha, e este grande enigma: o que fez a Caixa se interessar por um banco miúdo, caudatário da imagem de seu dono, que está completando 80 anos? Os mistérios do subprime nacional, como os dos EUA, são insondáveis.

Reforço do oligopólio

É tempo de o governo retomar a discussão iniciada no fim de 2008, auge da crise global do crédito, e depois largada, sobre o futuro dos bancos pequenos num setor que tende ao oligopólio no mundo. A concentração dos ativos e empréstimos no país é de 75% em apenas cinco bancos. Oligopólio implica, normalmente, baixa concorrência.

Aos pequenos caberia levar o crédito às parcelas da sociedade não atendidas pelos grandes bancos. Foi assim enquanto a liquidez foi farta e propensa ao risco no mundo. Sem rede de captação, bancos pequenos repassam dinheiros tomados emprestados de outros bancos e grandes investidores, sobretudo institucionais.

Tal recurso hoje é restrito e vai encolher devido às normas prudenciais mais austeras em exame pelos países do Grupo dos 20. É só questão de tempo.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A ONU precisa de uma reforma

Editorial do Diário de Pernambuco
Edição de sexta-feira, 12 de novembro de 2010


Condenar os Estados Unidos pela injeção de US$ 600 bilhões na economia é pretender atar a maior potência do planeta, que tenta se reerguer depois de enfrentar uma das maiores crises financeiras da história, sem conseguir assegurar postos de trabalhos suficientes para os cidadãos. Ainda que não seja menos verdadeira a afirmação de que a medida interna repercute negativamente sobre outras nações e acirra a guerra cambial, Washington exerce direito de defesa legítimo. Mais: bem sucedida, a reação do Federal Reserve, o banco central norte-americano, pode, a médio prazo, render bons resultados para a comunidade internacional.

Nada disso, porém, torna menos urgente a necessidade de construção de uma governança global, calçada no multilateralismo, com poder de arbítrio e de enfrentamento de questões pontuais que desequilibram os mercados. Desde o tsunami que varreu o mundo em 2008, a partir do estouro da bolha imobiliária em Wall Street, essa é uma exigência imperativa da globalização. E essa é a tarefa sobre a qualdeveriam, mas não vão, se debruçar as oito nações mais industrializadas e as 12 principais potências emergentes do mundo, que se reúnem na Cúpula do G-20 em Seul (Coreia do Sul). Uma vez mais, não se espera que os líderes cumpram o seu papel.

O predomínio da lei da sobrevivência, em que cada um busca se proteger sem preocupações para além das próprias fronteiras, termina mal para todos. Prova-o o efeito estufa. Frustram-se inúmeras tentativas de contenção do aquecimento global, enquanto o degelo eleva o nível dos oceanos e altera o clima em todo o planeta, com consequências funestas do Polo Sul ao Polo Norte. Na economia não é diferente. A desvalorização artificial de moedas pelos países para inserção mais vantajosa dos produtos nacionais no mercado internacional provoca desequilíbrios que desarrumam os sistemas cambial, monetário e comercial.

Nota dissonante no concerto das nações, o unilateralismo dissimulado cobre de ceticismo a Cúpula do G-20. Não se espera que o marxismo chinês abandone o contraditório exacerbamento do mercantilismo com políticas de fortalecimento do yuan. Da mesma forma, os EUA não deixarão de adotar medidas de recuperação econômica para valorizar o dólar. Propõe-se saída global, com a definição de ´parâmetros indicativos`, espécie de sistema sismológico para detectar terremotos cambiais, monetários e comerciais. A sugestão é válida, mas, no contexto, suscita mais dúvidas que certezas. A primeira é óbvia: a quem caberá o controle?

O G-20 reúne os emergentes com as grandes potências, mas não lhes dá poder para mudar regras. Tende, pois, a prevalecer em Seul a lei da selva, a política do protecionismo, com cada país entrando no jogo do mercado com normas próprias. A necessária governança global, que crie condições de equilíbrio para todos, carece de fórum mais amplo e legítimo: as Nações Unidas. Desde que reformulada, a ONU, sim, seria o palco adequado para uma revisão dos acordos de Bretton Woods, em que as nações mais industrializadas vencedoras da Segunda Guerra definiram, em julho de 1944, as ainda vigentes regras comerciais e financeiras das relações mundiais, arcabouço superado pela globalização.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Banco Panamericano

EDITORIAL DO SINAL (SINDICATO DOS FUNCIONÁRIOS DO BACEN)

Banco Panamericano

Sociedade demanda transparência e punição aos responsáveis
O Sinal, como tantas outras instituições e entidades, reconhece no Banco Central um órgão de excelência no serviço público.
Tal excelência tornou o Brasil referência mundial na condução da recente crise, com o aprimoramento da supervisão bancária desde aquela, anterior, que se abateu sobre o sistema bancário em 1996.
Temos, como representantes do funcionalismo do Órgão, ressaltado nossa excelência em diversos fóruns e oportunidades, incluindo a mídia.
Não poderíamos, portanto, furtar-nos de comentar os problemas envolvendo o Banco Panamericano, situação que coloca em xeque nossa Instituição e, por conseguinte, seus servidores.
A despeito dos avanços do BC, acima comentados, o Sinal vinha, há algum tempo, sobretudo por meio da Revista Por Sinal, alertando para alguns riscos nos seus procedimentos habituais.
Dois deles, bastante significativos:
1) o de se apoiar em demasia no foco no risco - consubstanciado na sistemática de análise denominada rating -, e
2) fazer análises indiretas baseadas em dados fornecidos pelos bancos;
Estes procedimentos, embora importantíssimos para diagnosticar a situação dos bancos, não substituem as inspeções in loco e a checagem direta das operações que sustentam aquelas informações, em busca de indícios de fraude ou erro. O rating, em especial, drena de tal forma os recursos humanos disponíveis para a fiscalização que acaba por tornar materialmente inviáveis as inspeções diretas.
Tudo leva a crer, por tudo o que foi divulgado até agora, que há indícios de fraude no caso do Panamericano, o que muitas vezes é impossível de ser descoberta sem essa averiguação sem intermediários.
Ao tempo em que reconhecemos o trabalho da Supervisão Bancária por haver identificado possível manobra fraudulenta, instamos o BC a vir a público não só para, sobre o caso em tela, prestar contas de forma transparente à sociedade.
Instâmo-lo, sim, a rever o foco meramente no risco sistêmico, a fortalecer estruturalmente a fiscalização, a programar inspeções diretas com mais frequência e a considerar centrais em seu trabalho tanto a detecção de riscos, irregularidades, ilegalidades e fragilidades normativas como o incremento na cooperação com a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público, dentre outros.
Dessa forma, mais administradores inescrupulosos seriam impedidos de atuar no sistema financeiro e os problemas seriam descobertos antes de tomarem dimensões bilionárias, como acontece agora no Panamericano.
A gravidade do caso, contrariamente ao que vem sendo afirmado por dirigentes do SFN e até pelo Presidente da República, não é atenuada pelo fato de os R$ 2,5 bi terem sido emprestados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e não terem saído (diretamente) dos cofres públicos.
A Caixa Econômica Federal (CEF) - empresa pública - é acionista do Panamericano, e os recursos do FGC são depositados pelos bancos, mas oriundos das tarifas cobradas dos cidadãos. Ou alguém, ingenuamente, supõe que esse custo não seja considerado pelas instituições financeiras?
Ademais, se um banco médio demanda tal volume de recursos, será que, na hipótese remota de uma crise mais séria, os R$ 30 bilhões à disposição do FGC seriam suficientes para socorrer bancos maiores?
O Sinal não estranha que fraudes como essa, constatada no Banco Panamericano, aconteçam e possam voltar a acontecer, na medida em que ainda é frouxa e ultrapassada a legislação que trata do funcionamento do SFN, o que reforça urgentemente a necessidade de regulamentação do Art. 192 da Constituição Federal. O SFN, infelizmente, não foge à regra geral de não punição no país.
E não se pode falar de impunidade, neste caso, sem comentar a lamentável atuação do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) - conhecido como Conselhinho -, que tem como hábito aliviar as penalidades impostas pelo Banco central a administradores de instituições.
É chegada a hora de a sociedade - e, em especial, os legisladores - reverem o papel daquele fórum. Hoje, a atuação do Conselho só faz alimentar um ambiente de verdadeira impunidade no SFN.
Ainda sob o aspecto da fiscalização bancária, perguntamo-nos, depois de mais este caso, qual tem sido a utilidade dos auditores independentes?
Eles devem analisar anualmente as contas dos bancos, e seus relatórios servem de material auxiliar para o BC. Como foi possível não identificarem tal “erro”?
A propósito, o escândalo do Banco Nacional já tem algo em comum com o caso Panamericano: a mesma auditoria independente, a KPMG.
Deve o Banco Central, portanto, continuar a fiar-se nesses auditores? Alguém, entre eles, será punido? Ou não se acharão os responsáveis, pois o FGC está aí exatamente para cobrir os rombos e jogar perguntas impertinentes para debaixo do tapete?
Assim como aprendemos com a crise de 1996, precisamos ter em mente a de 2008, para não repetir os mesmos erros.
Valemo-nos da mesma figura usada pelo Diretor de Supervisão bancária do BC, Alvir Hoffmann - a de um carro vendido e não contabilizado.
O exemplo é ilustrativo, só que é preciso saber o modelo do carro, quem vendeu, quem comprou, quem ganhou com tudo isso e, sobretudo, quem será penalizado pela falta (muito grave).
Queremos, como servidores do BC, uma Instituição cada vez mais forte, principalmente no que diz respeito à salvaguarda dos interesses da sociedade nos temas que nos dizem respeito.
O BC precisa atuar de forma contundente e realista em casos da espécie, sob pena de acabar por perder a aura de respeitabilidade de que hoje, merecidamente, desfruta.
Para isso, o caso do Banco Panamericano não pode “ficar por isso mesmo”.

BC atribui responsabilidade por rombo no Panamericano a falhas de auditorias

Responsabilidade por verificar se as operações de crédito eram fictícias cabia às empresas de auditoria, segundo o Banco Central

10 de novembro de 2010 | 23h 30
David Friedlander, Fernando Nakagawa e Leandro Modé

SÃO PAULO - O Banco Central (BC) refutou na quarta-feira as críticas de que teria demorado para encontrar o rombo de R$ 2,5 bilhões na contabilidade do Banco Panamericano e jogou a responsabilidade nas empresas de auditoria. O BC argumenta que sua função é analisar balanços, não conferir se foram adulterados. A auditoria interna do Panamericano era a Delloite.

Na terça-feira à noite, o Grupo Silvio Santos, controlador do Panamericano, anunciou um aporte de R$ 2,5 bilhões na instituição para cobrir um buraco equivalente. A diferença de valores, conforme antecipou o portal estadão.com.br, foi provocada por fraudes contábeis. O dinheiro para o aporte foi obtido em um empréstimo concedido pelo Fundo Garantidor de Crédito.

Criado em 1995, o FGC é uma entidade privada mantida pelos bancos que funciona como uma espécie de seguro para os depositantes em caso de quebra/liquidação de alguma instituição financeira. A operação com o Panamericano é a primeira desse gênero feita pelo Fundo.

A reportagem apurou que o Panamericano vendia carteiras de crédito para outros bancos (sobretudo os grandes de varejo, como Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC), mas não dava baixa no balanço. Com isso, continuava contabilizando como seus os pagamentos feitos pelos devedores.

"A manutenção desses ativos na carteira gerava receitas extras, além da própria receita obtida com a venda da carteira. Portanto, o balanço trazia ativos e receitas a mais", explicou o diretor de Fiscalização do BC, Alvir Hoffmann.

O problema foi detectado há cerca de seis semanas por técnicos do BC quando estavam sendo conferidos financiamentos vendidos pela instituição.

Ao se deparar com a diferença de números, técnicos do BC passaram a avaliar carteira por carteira para encontrar a causa do problema. Foi um trabalho de mais de um mês.

A operação causou reações também no meio político. O deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), um dos principais aliados do candidato derrotado à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, afirmou na quarta-feira ter havido "motivação eleitoral" por parte do governo, que teria se omitido das irregularidades envolvendo o banco.

Perdas

O presidente do Conselho do FGC, Gabriel Jorge Ferreira, explicou as condições do crédito ao Grupo Silvio Santos. Segundo ele, o empresário Silvio Santos deu como garantia do empréstimo todas as 44 empresas que fazem parte de sua holding.

O pagamento será feito em 10 anos, com carência de três (nesse período, o grupo não terá de pagar nem juros nem amortização). O próprio Ferreira, porém, indicou que a ideia é que o grupo venda alguns de seus ativos para honrar o empréstimo.

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), os investidores reagiram em pânico ao anúncio do Panamericano. As ações preferenciais da instituição caíram quase 30%. No ano, já acumulam desvalorização de 54%.

O novo diretor-superintendente do Panamericano, Celso Antunes da Costa, procurou demonstrar tranquilidade ao comentar o primeiro dia de trabalho. "Esse banco tem uma força de vendas enorme", disse.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Déficit dos EUA foi capital de giro do mundo. Agora, cobram a alma dos ajudados pela sua perversão

Correio Braziliense – Brasil S/A - Demônio de Fausto - 09/11/2010

Demônio de Fausto

Por Antonio Machado
machado@cidadebiz.com.br



Sem a perspectiva da história dificilmente se entenderá as razões da mão pesada do governo Barack Obama para repor os EUA no caminho do crescimento econômico anterior à recessão, iniciada ao final de 2007 e oficialmente encerrada, mas ainda a um ritmo meia boca.



O instrumento das emissões de moeda acionado pelo Federal Reserve (Fed) é muito maior e possante do que avaliam os críticos, para os quais o apelo ao gasto público, como o ministro Guido Mantega diz que vai contrapor na cúpula dos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20), quinta e sexta-feira, em Seul, seria muito mais eficaz.



Menos ruinoso para as demais economias, certamente. Só que Obama ficou de mãos atadas, com a maioria da Câmara tomada nas eleições parlamentares pelos republicanos. O recurso ao déficit fiscal, já superesgarçado, ou ao aumento de impostos os republicanos não vão aprovar. Restaram as emissões, solução que parece mais fraca.



Há um acalorado debate sobre a eficácia de medida tão extrema. O argumento é que o volume de emissões anunciado pelo Fed – US$ 600 bilhões até final do próximo semestre, cerca de US$ 75 bilhões/mês - seria insuficiente para ativar o crédito e, assim, a demanda nos EUA, mas é o que bastaria para valorizar as demais moedas.



A economia global entrará em pane, se todos os governos tentarem defender a moeda nacional para anular a queda relativa do dólar. É o que o governo Lula vem tentando sem sucesso. O risco existe e é esperado, se, como tudo indica, os governos fracassem em Seul.



Antes de sua ação unilateral, o governo dos EUA ofereceu ao G-20 um acordo pelo qual os países com superávits, como China e Japão, turbinariam o mercado interno, o que reduziria suas exportações e, na mão contrária, demandaria importações dos EUA.



Nenhum governo topou. A aposta é que os EUA não teriam cacife para dobrar o braço dos parceiros. E tudo ficará pior, renascendo a inflação em meio à estagnação da economia americana e muito mais desemprego.



Nenhum dos cenários previstos é favorável à economia mundial. Mas também é arriscado cogitar os EUA batidos e na lona. Embora haja o risco, os problemas poderão ser muito maiores para os outros.



Emissões de US$ 6 tri



Os críticos não sacaram o tamanho da encrenca. À primeira vista, as emissões planejadas pelo Fed parecem incapazes de fazer cócegas a uma economia de US$ 14 trilhões, na qual o consumo corresponde a 70% do movimento. Só que US$ 600 bilhões injetados sob a forma de recompra de papéis federais carregados pela banca equivalem, dado o multiplicador bancário (10 para 1), a um potencial de crédito de US$ 6 trilhões. A dinheirama tomará o destino que a banca quiser.



Versão menos fatalista



Sem confiança do consumidor já extremamente endividado e temeroso do futuro devido ao desemprego elevado, o crédito não flui. Agrava a situação que tal cenário não incentiva as empresas a investir. A dinheirama, assim, vazaria para outros países.



Alega-se que os EUA perderam a fé em si mesmos. É o que acontece aos poderosos que se acomodam. Mas há outra versão menos fatalista e mais pragmática.



Os EUA estariam provando do próprio veneno que receitaram a todos os países em desenvolvimento endividados. Como o Brasil depois da indigestão do crescimento acelerado até fim dos anos 1970, os EUA acumularam dívidas e sucatearam indústrias. O que nós fizemos?



Fabricamos uma recessão, que implicou desemprego e baixa do custo salarial, liberando produção para exportar. A crise chegou até nós pela escassez de dólares para pagar importações e dívidas. Dólares eles têm. Basta emitir. É basicamente o que difere os dois casos.



Embasamento histórico



O embasamento histórico ao que estão fazendo, dada a recusa do G-20 em colaborar, remonta ao acordo de Bretton Woods, que lançou as bases do atual ordenamento monetário do mundo.

Os EUA desvirtuaram o dólar em seu próprio interesse ao usá-lo para bancar os déficits fiscais e externos. Mas sem isso jamais teria havido globalização.



Os déficits criaram a liquidez que funcionou como capital de giro do desenvolvimento global. Primeiro, para reconstrução da Europa e Japão arrasados pela guerra. Depois, dos atuais emergentes. Os EUA cobram agora a alma dos que se beneficiaram de sua perversão.



A crise mais profunda



Como potência vitoriosa na 2ª Guerra, maior economia e mecenas da reconstrução do pós-guerra, os EUA impuseram a paz em seus termos, mas não foi por isso que adveio a globalização dos anos de 1970 em diante. O entrelaçamento do comércio global ao mercado financeiro dependia da liquidez do dólar, que os EUA emitiam com parcimônia, até porque não havia grandes déficits fiscais e comerciais.



A relação foi quebrada durante a Guerra do Vietnã, financiada por emissões. O Federal Reserve não conseguiu manter a paridade do dólar ao ouro, como definido em Bretton Woods, até que em 1971 ela foi eliminada. O dólar se transformou numa moeda qualquer.



Depois vieram os choques do petróleo, espécie de imposto sobre os países importadores. Não houve uma depressão global porque a banca reciclou os petrodólares como empréstimos, que quebraram adiante o mundo em desenvolvimento. A dívida passou da banca para o mercado financeiro, convertida em papéis transacionáveis.



O dólar foi peça chave em cada um desses eventos, que acabaram por “financeirizar” o conjunto da economia real. Essa é a crise mais profunda.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Banco Panamericano foi vítima de fraude de R$ 2,5 bilhões

Segundo pessoas que acompanham o processo, rombo é resultado de ativos e créditos fictícios registrados por diretores do Panamericano supostamente para inflar os resultados da instituição.

09 de novembro de 2010 | 20h 19

David Friedlander, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O Grupo Silvio Santos anunciou agora na noite desta terça-feira, 9, um aporte de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano, do qual é o principal acionista, com recursos emprestados pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O objetivo foi cobrir um rombo de R$ 2,5 bilhões descoberto cerca de um mês atrás pelo Banco Central, segundo o Estado apurou.

Grupo Silvio Santos aportará R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano
Segundo pessoas que acompanham o processo, o rombo é resultado de ativos e créditos fictícios registrados por diretores do Panamericano supostamente para inflar os resultados da instituição.

A operação de empréstimo junto ao FGC foi fechada no último fim de semana, depois que os técnicos do BC conseguiram dimensionar o tamanho do rombo. A fraude passou despercebida pelos controles internos do Panamericano, seus auditores independentes e até pelo pente fino da Caixa Econômica Federal, que no ano passado comprou 49% do capital do Panamericano.

A guerra do câmbio e o G-20

Editorial de O Diário de Pernambuco
Edição de terça-feira, 9 de novembro de 2010


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita Dilma Rousseff chefiam a delegação brasileira à cúpula do G-20, que reúne os chefes de Estado das 20 maiores economias do planeta, em Seul, capital da Coreia do Sul. Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega (que também participa do encontro), já declararam para a torcida interna que vão gritar o quanto puderem contra a chamada guerra cambial liderada pela China e pelos Estados Unidos e, principalmente, em protesto pelas recentes medidas de expansão monetária do Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano.

Estão mais do que certos nossos representantes. É bom que façam o maior barulho possível, mesmo sabendo que isso vai adiantar muito pouco ou quase nada. Pode servir apenas de explicação prévia para eventuais medidas que o Brasil venha a tomar para se defender da verdadeira tempestade que está se tornando visível no horizonte.

Só quem não acha importante acompanhar o que se passa no mundo, especialmente nas economias centrais, não sabe que o comércio internacional e as finanças públicas vão de mal a pior e que isso afeta a todos os países. Mas o Brasil só vai cometer os erros do passado, quando julgou ser uma ilha de estabilidade em um mundo em crise, se quiser ou se ninguém se dispuser a alertar o governo para o insucesso da avestruz que enfia a cabeça na areia, para fugir do perigo. O encontro de Seul dificilmente vai produzir consenso em torno de ação conjunta de alguma consequência.

Será proveitoso se servir para mostrar que a ilusão dos tapinhas nas costas e das gentilezas protocolares são apenas parte do cerimonial diplomático. O que realmente conta é o interesse econômico de cada país envolvido. Nesta hora, conta mais que tudo o peso específico de cada país e cada vez menos a saudável ideia da multilateralidade. O jogo passa a ser bruto e fica evidente que a velha máxima dos amigos à parte na hora dos negócios não foi inventada à toa.

Todos vão partir para a batalha. A maior economia do mundo já deu seus primeiros passos. Começaram rebaixando os juros para próximo de zero. Seguiu-se a desvalorização do dólar. Esta semana veio a injeção de US$ 600 bilhões na economia, uma medida que prejudica todo mundo, tomada antes da reunião do G-20 para tornar-se fato consumado. O passo seguinte é a viagem do presidente Barack Obama à Ásia, em busca de acordos bilaterais, que tendem a atropelar negociações em bloco. Os norte-americanos confirmam sua velha postura: eu me arrumo e o G-20 e o mundo que se virem.

Mais do que protestos, o que resta ao Brasil é trabalho árduo. Com os contratos em dia e a moeda estabilizada, o país tem hoje muito a perder. É hora de voltar ao dever de casa: conter os gastos públicos para poder baixar os juros, deixar de atrair capital especulativo, não demandar mais dívidas e não precisar retirar mais fôlego da sociedade via impostos. Caso se confirme um novo tsunami mundial, será melhor estarmos mais uma vez preparados para fazer dele uma marolinha. Se ele não vier, melhor ainda.

'Não podemos assumir prejuízos para ajudar os Estados Unidos'

Meirelles afirma que o Brasil já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial
09 de novembro de 2010 | 0h 00

Jamil Chade CORRESPONDENTE / BASILEIA - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu que o País já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial e que "não cabe ao Brasil assumir os prejuízos para ajudar a economia americana".
Em entrevista ao Estado, Meirelles admitiu que a injeção de liquidez de US$ 600 bilhões feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode ter um impacto negativo. Mas insiste que o Brasil está tomando "todas as medidas necessárias" para proteger sua economia.
Meirelles participou nos últimos dois dias do encontro entre os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo, em evento na Basileia, Suíça. A seguir, a entrevista.
O Brasil deu sinais de ter resistido bem à crise de 2008. A onda de liquidez atual pode ameaçar a economia brasileira em 2011 ou gerar risco de criar bolha de ativos?
O Brasil está tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira do excesso de liquidez mundial e impedir a formação de bolhas nos preços de ativos. Como exemplo, o Banco Central do Brasil tem comprado o excesso de liquidez em dólares, e esterilizado os reais que são emitidos em consequência da compra de reservas. Além disso, o Banco Central tem reforçado as regras prudenciais, para evitar que o excesso de liquidez se transforme em aumento inadequado do risco de crédito no sistema financeiro brasileiro. Também foram adotadas medidas fiscais, através do IOF.

Qual a posição do Brasil em relação à política de expansão monetária americana?

A posição do Brasil é de que esse aumento da liquidez americana, que gera fluxos de entrada em países que estão mostrando solidez na economia, é negativa para o Brasil. O País está crescendo com uma expansão robusta do mercado doméstico. Portanto, como não precisamos dessa excessiva liquidez externa, ela torna-se prejudicial à economia brasileira.

O governo americano insiste que a injeção de US$ 600 bilhões é de interesse de todos, já que seria de interesse de todos ver o crescimento da economia americana. Além disso, declaram que o objetivo não é desvalorizar a moeda. O sr. acha que a recuperação da economia dos Estados Unidos é uma meta que deve ser buscada por todos e que de fato merece o sacrifício de outras economias?

O Brasil já está dando a sua devida contribuição para a recuperação da economia mundial através de um crescimento substancial da demanda doméstica, portanto consideramos que o Brasil já cumpriu sua parte. Não cabe ao Brasil assumir prejuízos para ajudar a economia americana. Em consequência, estamos tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira.

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, falou que a incerteza é o que marca a atual etapa da economia mundial. De que forma isso afeta o Brasil e os planos de crescimento do País em 2011?

O Banco Central do Brasil está levando em consideração essa incerteza em seu processo decisório. Estamos tomando todas as providências para evitar que mudanças de cenário sejam prejudiciais para o Brasil. Atualizamos as nossas hipóteses de trabalho constantemente, visando adaptar a economia brasileira às incertezas da economia mundial. Por exemplo, o desempenho abaixo do esperado da economia mundial, a partir do segundo trimestre, foi imediatamente incorporado nas hipóteses de trabalho do BC e no seu processo de tomada de decisões. A força da economia brasileira, aliada aos bons fundamentos, ao forte crescimento da demanda doméstica e à não dependência da demanda externa, faz com que as perspectivas de crescimento para o Brasil em 2011 sejam sólidas.

Basileia 3 deve ser aprovada nesta semana. Qual será o impacto para o Brasil? O Brasil terá bancos entre aqueles considerados como influência sistêmica e que exigirão maior capital?

O impacto para o Brasil será limitado, na medida em que grande parte das diretrizes aprovadas já estão implantadas no Brasil. Faremos algumas mudanças pontuais, como a do crédito fiscal intertemporal, mas haverá tempo suficiente para adaptação do sistema até 2019. Não estão finalizados os critérios para a definição de quais são os bancos sistemicamente importantes e, portanto, é prematuro definir se existirão instituições brasileiras classificadas nessa categoria.

No próximo governo, o sr. aceitaria um posto que não fosse o de presidente do Banco Central?

No momento adequado, vou pensar no assunto.

'Não podemos assumir prejuízos para ajudar os Estados Unidos'

'Não podemos assumir prejuízos para ajudar os Estados Unidos'
Meirelles afirma que o Brasil já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial
09 de novembro de 2010 | 0h 00
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Jamil Chade CORRESPONDENTE / BASILEIA - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu que o País já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial e que "não cabe ao Brasil assumir os prejuízos para ajudar a economia americana".
Em entrevista ao Estado, Meirelles admitiu que a injeção de liquidez de US$ 600 bilhões feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode ter um impacto negativo. Mas insiste que o Brasil está tomando "todas as medidas necessárias" para proteger sua economia.
Meirelles participou nos últimos dois dias do encontro entre os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo, em evento na Basileia, Suíça. A seguir, a entrevista.
O Brasil deu sinais de ter resistido bem à crise de 2008. A onda de liquidez atual pode ameaçar a economia brasileira em 2011 ou gerar risco de criar bolha de ativos?
O Brasil está tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira do excesso de liquidez mundial e impedir a formação de bolhas nos preços de ativos. Como exemplo, o Banco Central do Brasil tem comprado o excesso de liquidez em dólares, e esterilizado os reais que são emitidos em consequência da compra de reservas. Além disso, o Banco Central tem reforçado as regras prudenciais, para evitar que o excesso de liquidez se transforme em aumento inadequado do risco de crédito no sistema financeiro brasileiro. Também foram adotadas medidas fiscais, através do IOF.

Qual a posição do Brasil em relação à política de expansão monetária americana?

A posição do Brasil é de que esse aumento da liquidez americana, que gera fluxos de entrada em países que estão mostrando solidez na economia, é negativa para o Brasil. O País está crescendo com uma expansão robusta do mercado doméstico. Portanto, como não precisamos dessa excessiva liquidez externa, ela torna-se prejudicial à economia brasileira.

O governo americano insiste que a injeção de US$ 600 bilhões é de interesse de todos, já que seria de interesse de todos ver o crescimento da economia americana. Além disso, declaram que o objetivo não é desvalorizar a moeda. O sr. acha que a recuperação da economia dos Estados Unidos é uma meta que deve ser buscada por todos e que de fato merece o sacrifício de outras economias?

O Brasil já está dando a sua devida contribuição para a recuperação da economia mundial através de um crescimento substancial da demanda doméstica, portanto consideramos que o Brasil já cumpriu sua parte. Não cabe ao Brasil assumir prejuízos para ajudar a economia americana. Em consequência, estamos tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira.

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, falou que a incerteza é o que marca a atual etapa da economia mundial. De que forma isso afeta o Brasil e os planos de crescimento do País em 2011?

O Banco Central do Brasil está levando em consideração essa incerteza em seu processo decisório. Estamos tomando todas as providências para evitar que mudanças de cenário sejam prejudiciais para o Brasil. Atualizamos as nossas hipóteses de trabalho constantemente, visando adaptar a economia brasileira às incertezas da economia mundial. Por exemplo, o desempenho abaixo do esperado da economia mundial, a partir do segundo trimestre, foi imediatamente incorporado nas hipóteses de trabalho do BC e no seu processo de tomada de decisões. A força da economia brasileira, aliada aos bons fundamentos, ao forte crescimento da demanda doméstica e à não dependência da demanda externa, faz com que as perspectivas de crescimento para o Brasil em 2011 sejam sólidas.

Basileia 3 deve ser aprovada nesta semana. Qual será o impacto para o Brasil? O Brasil terá bancos entre aqueles considerados como influência sistêmica e que exigirão maior capital?

O impacto para o Brasil será limitado, na medida em que grande parte das diretrizes aprovadas já estão implantadas no Brasil. Faremos algumas mudanças pontuais, como a do crédito fiscal intertemporal, mas haverá tempo suficiente para adaptação do sistema até 2019. Não estão finalizados os critérios para a definição de quais são os bancos sistemicamente importantes e, portanto, é prematuro definir se existirão instituições brasileiras classificadas nessa categoria.

No próximo governo, o sr. aceitaria um posto que não fosse o de presidente do Banco Central?

No momento adequado, vou pensar no assunto.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A pedido do BCB, Ministério Público abre processo contra o site Fairplace

http://www.bc/Deseg/Noticias/NoticiaMateria.asp?Materia=133

(Última modificação: 3/11/2010)

O Banco Central decidiu agir para conter, ainda no início, o que chama de agiotagem on-line, que pode deixar um rastro de prejuízos país afora. A instituição denunciou ao Ministério Público a Fairplace, que se apresenta com uma rede social na qual quem tem dinheiro pode emprestar para quem precisa a juros menores do que os cobrados no cheque especial ou no cartão de crédito (entre 9% e 10% ao mês). Na avaliação do BC, a Fairplace está transgredindo a lei ao exercer o papel de instituição financeira sem ter autorização para isso. Os responsáveis serão investigados pelo MP e poderão ser enquadrados na Lei nº 7.492, a do Colarinho Branco, por crime contra o sistema financeiro nacional.

Quem vê a propaganda da Fairplace na internet acredita se tratar de um negócio da China. De um lado, o site oferece a quem empresta o dinheiro a possibilidade de receber um rendimento (3,2% ao mês, em média) muito superior ao pago por aplicações tradicionais como a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa — entre 0,5% e 0,8% mensais. De outro, garante aos tomadores do empréstimo a possibilidade de saírem do sufoco por meio de débitos mais baratos. Para o BC, trata-se de um processo semelhante a uma pirâmide. Bastará alguns dos devedores não honrarem seus compromissos para que uma onda de calote seja detonada. Os próprios responsáveis pela Fairplace garantem que não se responsabilizam por qualquer problema. São meros repassadores de recursos.

As negociações entre emprestadores e tomadores de crédito são fechadas por meio de leilões, um sistema chamado de P2P (ponto a ponto). Vence aquele que aceitar a taxa de juros mais baixa para emprestar os recursos — que pode chegar ao valor de R$ 5 mil por operação. Criada há seis meses, a Fairplace já conta com 14 mil pessoas credenciadas e realizou 410 operações, movimentando R$ 1,6 milhão. Com todos esses números, a rede social não se intimidou em propagandear seu sucesso, mesmo ciente de estar operando à margem da lei. No último 23 de outubro, porém, o Correio alertou para os riscos das facilidades oferecidas pela Fairplace. De início, o BC se recusou a se posicionar sobre as irregularidades. Mas acabou reconhecendo que havia denunciado a empresa ao MP em agosto. O processo já foi aberto.



Intermediário

O sistema criado pela Fairplace passa aos interessados um ar de sofisticação. Para tentar um empréstimo, o interessado deve preencher um cadastro, onde é avaliado o seu nível de risco pela conceituada Serasa Experian. Com os dados em mãos, emprestadores realizam um leilão, no qual oferecem o dinheiro com diferentes taxas de juros. Ganha quem propõe a mais baixa. Desse modo, o site recebe 2% de cada parcela recebida pelo emprestador. Já quem assumiu a dívida paga uma comissão que pode variar de 5% a 8% do valor.

O sócio-fundador da Fairplace, Eldes Mattiuzzo, apresenta o site sem constrangimento. “Trata-se de uma sociedade prestadora de serviços de intermediação e captação de empréstimos entre particulares por meio virtual”, diz. E acrescenta: “A Fairplace não faz qualquer tipo de concessão direta de empréstimos ou financiamentos. Apenas usamos nossa plataforma na internet para reunir as pessoas interessadas nos negócios”.

Na visão de especialistas, o BC está corretíssimo em agir, para evitar que o modelo usado pela Fairplace se espalhe como uma praga. “Para ser intermediário do mercado financeiro é preciso ter o registro de instituição financeira ou de fundo de investimento. Se há um novo meio que ofereça investimentos ao público, ele deve estar cadastrado junto aos órgãos competentes”, afirma José Luiz Rodrigues, presidente da Consultoria JL Rodrigues, voltada para o sistema financeiro.

A mesma avaliação é feita pelo professor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC. “Captar recursos junto ao público é privativo de instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central ou de fundos de investimentos licenciados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, observa. Para ele, uma entidade que capta recursos de terceiros à margem da legislação gera risco para a poupança popular.



Lei prevê até prisão

Se a Lei nº 7.492, do Colarinho Branco, for seguida à risca pelo Ministério Público, os responsáveis pela Fairplace poderão estar sujeitos à prisão. A norma considera instituição financeira pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade a captação, intermediação, administração ou aplicação de recursos financeiros de terceiros. Justamente o que o site afirma que não é. “Em casos como esse, o BC tem de agir rápido para evitar que o menor número de pessoas sejam afetadas”, afirma um ex-diretor de Organização e Normas do Banco Central.

A legislação brasileira, por meio do Sistema Financeiro Nacional, atribui ao BC as tarefas de conceder autorização, regular e fiscalizar as atividades das instituições financeiras que funcionam no país. A CVM, por sua vez, é responsável por regular o segmento de capitais, protegendo os investidores. “Por meio da política conhecida como disclosure, os administradores de fundos são obrigados a divulgarem diariamente informações como patrimônio líquido, investimentos, resgates e número de investidores de cada carteira”, explica o superintendente de Relações com Investidores Institucionais da CVM, Francisco José Bastos Santos. Além disso, sempre que um fundo operar de forma irregular, o órgão alertará o mercado por meio de boletins.

Na visão de Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC, apesar de o Banco Central e de a CVM se esforçarem para ser cada vez mais eficientes no que diz respeito a regulação, sempre estão atrás das soluções que surgem no mercado. “Com o tempo, as autoridades do sistema financeiro estão se tornando mais eficientes, mas, mesmo assim, é difícil, porque elas sempre ficarão para trás, pois o mercado é muito ágil e criativo”, diz.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Carta entregue por Amaury Ribeiro Jr. aos jornalistas

Confira a carta entregue por Amaury Ribeiro Jr. aos jornalistas (fonte: site TERRA - 26 de outubro de 2010 • 19h20 • atualizado às 19h25)


O jornalista Amaury Ribeiro Junior entregou nesta terça-feira (26) uma carta aos jornalistas contendo parte do material entregue por ele à Polícia Federal em relação a investigações que fez no período de 1998 e 2002 sobre as privatizações de empresas estatais no governo Fernando Henrique Cardoso. A nota contém informações sobre a CPMI do Banestado, conseguidas, segundo o jornalista, "de forma legal sem quebra de sigilo fiscal". Ele reitera também não ter sido movido por nenhuma militância partidária, mas sim pelo "jornalismo".

Amaury foi indiciado, nesta segunda-feira (25), por quatro crimes no caso que investiga a violação do sigilo fiscal de lideranças tucanas e familiares do candidato à presidência José Serra (PSDB). De acordo com o parecer da PF, o jornalista cometeu os crimes de violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documento falso e oferecimento de vantagem a testemunha.

Confira na íntegra a carta de Amaury Ribeiro Jr.:



Nota à imprensa

Aos colegas jornalistas:

Estou passando às mãos de todos cópia de uma pequena parte do material que entreguei hoje à Polícia Federal. Todos os papéis foram obtidos de forma legal sem quebra de sigilo fiscal. Vale lembrar que a documentação refere-se aos anos de 1998 até 2002.

O que foi entregue não é resultado de militância partidária, que nunca tive, e sim da única militância que reconheço e pratico, a do jornalismo. Prova disse é que, em junho de 2005, fui o autor de "Aparece o dinheiro", reportagem de IstoÉ (edição 1863), em que foi exposto o Mensalão do PT. Desejo que a liberdade de imprensa em vigor no país possa servir, agora, ao esclarecimento da população.

São informações oficiais a que tive acesso nos longos anos em que estou trabalhando no tema das privatizações. Pela primeira vez estão sendo trazidas ao conhecimento público. São, portanto, absolutamente inéditas. Foram obtidas judicialmente através de uma ação de exceção de verdade. São documentos da CPMI do Banestado, cujo acesso estava, até então, proibido aos brasileiros. Agora, vieram à luz. Espero que possam, enfim, ajudar a esclarecer um período sombrio do país. Vocês são parte importante e decisiva neste processo.

Chamo a atenção para dois pontos especialmente, ambos alicerçados em informações oficiais obtidas pela dita CPMI na base de dados da conta Beacon Hill do banco JP Morgan Chase e no MTB Bank, ambos de Nova York. A Beacon Hill Service Corporation (BHSC) onde eram administradas muitas subcontas com titulares ocultos. Nos EUA, a BHSC foi condenada em 2004 por operar contra a lei. No Brasil, inspirada pela designação Beacon Hill, a Polícia Federal deflagrou a Operação Farol da Colina, apurando, entre outras personalidades envolvidas, nomes como os do ex-governador paulista Paulo Maluf e do banqueiro Daniel Dantas. Os pontos em questão são os seguintes:

1 . Os depósitos comprovados (pag. 4/11) do empresário GREGÓRIO MARIN PRECIADO, casado com uma prima de JOSÉ SERRA e ex-sócio do ex-governador de São Paulo (o mesmo SERRA), na conta da empresa Franton Interprises (pag. 3/11), vinculada ao ex-caixa de campanha do próprio SERRA e de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, RICARDO SÉRGIO OLIVEIRA. A soma de tais valores ultrapassa os US$ 1,2 milhão e cresce sobretudo no ano eleitoral de 2002, quando SERRA foi candidato à Presidência. Mais de 80% dos recursos recebidos pela Franton na Beacon Hill tem origem em PRECIADO. RICARDO SÉRGIO, como se sabe, foi diretor do Banco do Brasil e o grande articulador de consórcios de privatização no período FHC.

2. Os depósitos realizados pela empresa Infinity Trading, pertence ao empresário CARLOS JEREISSATI, (pag 9/11) igualmente na Franton Interprises e RICARDO SÉRGIO. JEREISSATI liderou um dos consórcios que participou dos leilões de privatização e comprou parte da Telebrás. É de conhecimento geral que a formatação de consórcios e as privatizações da Telebrás também tiveram a intervenção de RICARDO SÉRGIO. Em muitas ocasiões se falou de propina na venda de estatais, mas esta é a primeira vez que aparece uma evidência disso lastreada por documentos bancários oficiais.

Tenho certeza da relevância do material e espero que façam bom uso dele. Um abraço a todos e bom trabalho.

Amaury Ribeiro Junior

sábado, 23 de outubro de 2010

G-20 faz acordo sobre política monetária e reforma do FMI

Europeus entregarão duas vagas no conselho de direção do Fundo e 6% a mais de poder de votação às nações emergentes
23 de outubro de 2010 | 9h 56

Reuters
GYEONGJU - Os países que compõem o G-20 chegaram a um acordo no sábado para deter as desvalorizações competitivas de moedas, embora não tenham conseguido um consenso sobre uma linguagem mais firme que poderia ter estimulado o dólar.


O acordo de reforma do FMI foi descrito como um momento "histórico" pelo diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, o que levará aos europeus entregar duas vagas no conselho de direção e 6% a mais de poder de votação às nações emergentes. "Esta é a maior reforma já realizada na direção da instituição", afirmou a jornalistas Strauss-Kahn, quem está no comando do organismo de 187 países.

O acordo transformará a China no terceiro integrante mais poderoso do FMI, superando potências tradicionais como Alemanha, França e Itália. A Índia passará do 11º ao oitavo lugar. A Rússia ficará em nono e o Brasil em 10º lugar.

"Nossa demanda era de que a cota de participação deveria refletir a realidade e as fortalezas econômicas atuais, (caso contrário) teria danificado a credibilidade da instituição. Isso está sendo corrigido agora", disse o ministro de Finanças indiano, Pranab Mukherjee.

O G-20 decidiu há um ano entregar ao menos 5% dos direitos de votação a nações em desenvolvimento como Índia e Brasil, cujo peso dentro do FMI não estava de acordo com seu ritmo de desenvolvimento.

Política monetária e câmbio

Os esforços dos Estados Unidos para limitar os atuais desequilíbrios das contas correntes a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma medida que apontava diretamente ao superávit da China, encontraram resistência em várias nações.

Os membros do G-20 se comprometeram em um comunicado a "regular as desvalorizações competitivas de suas moedas", enquanto as nações em desenvolvimento prometeram reduzir seus déficits orçamentários ao longo do tempo e tomar ações para controlar os desequilíbrios das contas correntes.

"Para que o mundo possa crescer a um ritmo forte e sólido no futuro... precisamos trabalhar para conquistar um maior equilíbrio no caminho da expansão global enquanto nos recuperamos da crise", disse o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner.

Propostas dos EUA causam tensão

As propostas dos Estados Unidos para regular os desequilíbrios das contas correntes acontecem enquanto Pequim acumulou US$ 2,65 trilhões em reservas de moeda oficial como consequência de seu enorme superávit comercial, o que levou a Câmara dos Deputados norte-americana a aprovar uma lei que ameaça retaliações a menos que a China permita o fortalecimento de sua moeda.

Autoridades chinesas não fizeram comentários sobre a disputa, mas uma fonte do G-20 disse que Pequim era contra qualquer comunicado que comprometesse explicitamente os países a limitar seus balanços de conta corrente ou com qualquer outro regulamento sobre política monetária.

As tensões que no encontro levaram Japão e China a rebater as propostas norte-americanas continuaram até depois do fim da cúpula. A Alemanha disse que havia críticas à política norte-americana de injetar dinheiro no sistema bancário que terminou chegando a economias emergentes como o Brasil, causando bolhas nos preços dos ativos.

"Tentei deixar claro em minha contribuição a discussão que considero (o relaxamento) uma forma errada de atuar", disse o ministro alemão de Economia, Rainer Bruederle. "Um excessivo e permanente incremento no dinheiro (injeção de fundos) é, sob meu ponto de vista, uma manipulação indireta da taxa (de câmbio)", afirmou.

Contudo, a Coreia do Sul foi mais otimista sobre o resultado da reunião e disse que o G-20 estava ajudando a acabar com a incerteza dos mercados. "Isso terminará com a controvérsia pela taxa de câmbio", afirmou o ministro sul-coreano de Finanças, Yoon Jeung-hyun.

(Fiona Shaikh e Langi Chiang)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fed confirma novas emissões de dólares, e cresce fuga para outros ativos e moedas como o real

Fed confirma novas emissões de dólares...

Correio Braziliense – Brasil S/A – 15/10/2010



Esse é o caminho que deve acelerar a queda do dólar no mundo, que chega a 40% em dez anos, tanto quanto seria o atraso do renminbi



Por Antonio Machado

machado@cidadebiz.com.br



O que os representantes dos 187 países associados ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial que foram à assembléia anual das duas organizações em Washington no fim de semana queriam ouvir só foi conhecido quando eles se preparavam para voltar.



Entre os feriados de segunda-feira, nos EUA, e terça, no Brasil, o Federal Reserve (Fed) divulgou a ata da reunião de setembro de seu comitê de política monetária, o Copom americano, trazendo a confirmação sinistra do que todos temiam: o reinício das emissões de dólares para a aquisição de papéis do Tesouro dos EUA.



É o caminho que deverá acelerar a depreciação do dólar em curso no mundo, 40% nos últimos dez anos – tanto quanto se diz que seria o atraso do renminbi sobre o dólar. E senha para a guerra cambial anunciada pelo ministro Guido Mantega para desconforto dos chefões das finanças globais, que preferiam tratar reservadamente o que já está visível há tempos, com risco de colapsar o comércio mundial.



O jogo é bruto e não há iminência de acordo. Não houve na reunião do FMI/Banco Mundial. E dificilmente haverá na cúpula do Grupo dos 20 (G-20), daqui a um mês em Seul, se o G-2, de EUA e China – que têm os maiores desequilíbrios entre déficits e superávits globais -, não encontrar um meio harmônico de equalizar as suas contas.



Não se descarta nem mesmo que o G-2 simule uma confusão do capeta e se entenda nos bastidores à custa dos “outros” - como a zona do euro, os produtores de petróleo e grandes emergentes, tipo Brasil, os mais frágeis diante dos EUA, que têm o poder das emissões, e a China, com US$ 2,5 trilhões de reservas e moeda colada o dólar. Se ele cai, o renminbi vai atrás; se sobe, idem com batatas.



A coisa está assim: ou aceitam por bem ou aceitam por mal. Com os juros de política monetária zerados nos EUA, tanto o dólar como os ativos denominados na moeda perdem valor no confronto cambial, sem desvalorizações competitivas. Mas o despejo de mais dólares poderá ser de tal monta que até os mecanismos de defesa empregados pelos bancos centrais se tornarão impotentes. Basta acompanhar o real.



Havia a crença no mercado de que nem por um dilúvio a Fazenda e o Banco Central tolerariam dólar abaixo de R$ 1,70. Está a R$ 1,65. Já se acreditou que o piso seria R$ 1,80, R$ 1,90 etc.



O BC compra todo o fluxo líquido de divisas, o Tesouro faz o mesmo e a Fazenda dobrou para 4% o IOF sobre o capital estrangeiro aplicado em renda fixa e fundos de investimento. E nada, o dólar só cai.



Ao Guido, com respeito



O ministro Guido Mantega, sempre loquaz sobre questões cambiais, já tendo até feito sugestões ao presidente Barack Obama – aumentar gastos fiscais em vez de imprimir dinheiro -, com todo o respeito, deveria é parar de dizer que o governo está preparado para comprar todo o fluxo líquido de dólares que entrar no país.



A essa altura, depois da ata do Federal Reserve, que soa como uma espécie de ultimato, a declaração de Mantega parece um convite aos dólares ociosos no mundo a vir para o Brasil. Outros países com a mesma dificuldade do real, como Japão, muito mais preparados que o Brasil, insinuam ações mais drásticas.



Aproxima-se o dia em que um deles, provavelmente da Ásia - Tailândia e Malásia são candidatos, segundo os especialistas -, anunciará a centralização cambial.



Novas bolhas inflando



As valorizações dos preços das commodities agrícolas e metálicas, sem nenhuma conexão com a demanda, demonstram a progressão da fuga do dólar na direção de ativos reais - tema para outra coluna.



Não é de somenos a ameaça de novas bolhas nem de inflação global, quanto mais os EUA tentem escapar da deflação. A desinflação que a China exporta há duas décadas é brinquedo perto do que pode vir.



A ata do Federal Reserve previne que novas “acomodações podem ser adequadas em pouco tempo” e que a decisão dependerá da situação da economia. Traduzindo: depois das eleições legislativas em novembro devem recomeçar as emissões para recompra de papéis do Tesouro.



O que fará o governo?



O Fed não disse quanto. Mas se pode deduzir: só o déficit fiscal de 2011 está projetado em US$ 1,15 trilhão. O certo seria cortar gasto, mas o Congresso dos EUA não aprova. Político é tudo igual.



Se a China não aprecia o renminbi para exportar menos e consumir mais. Se corte fiscal nos EUA não dá, já que agravaria a recessão. Se outros “se” são por ora inamovíveis, restam as emissões contra as quais o mundo se prepara. E nós? Com Dilma ou Serra, a resposta terá de ser rápida e contundente quando se fizer necessária.



Mais etanol nos EUA



A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, EPA, em inglês, aumentou de 10% para 15% a mistura de etanol a gasolina, mas só para carros e comerciais leves lançados depois de 2007. É um avanço importante num país viciado em petróleo mais pelo simbolismo da decisão.



O impacto será pequeno nos EUA e irrelevante para a indústria de álcool brasileira. Pelos dados da UNICA, que representa as usinas brasileiras, veículos fabricados depois de 2007 são apenas 18% da frota dos EUA. A UNICA reivindica o fim ou a redução da tarifa que tornam gravosas as exportações de etanol para os EUA.



O pleito tem a simpatia da EPA. Nos EUA, o etanol é de milho, que disputa espaço com a produção para consumo humano. O desinteresse das montadoras e o lobby dos ruralistas, porém, travam a decisão nos EUA

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Emergentes terão de "engolir" moeda forte, dizem bancos

11/10/2010 - 08h15
da Folha de São Paulo


LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Banqueiros e investidores mandaram um recado aos países emergentes e desenvolvidos após a conclusão aguada do encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional): acostumem-se ao novo equilíbrio da economia global, câmbio incluso.

"A mensagem aos emergentes é: acostumem-se com suas moedas fortes. Estamos em um mundo diferente" disse Philip Suttle, economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais).

"Os mercados veem isso, se ajustam e colocam capital nesses países. Quem tentar resistir a isso vai fracassar."

Para o diretor-presidente do fundo de investimentos Pimco, o maior na gestão de papeis emergentes, trata-se de uma nova normalidade que impõe desafios a todos.

"Isso aparece na migração acelerada das dinâmicas de crescimento e riqueza em direção aos emergentes", disse Mohamed El-Erian em apresentação do Banco Mundial.

O egípcio disse estar "impressionado" com o Brasil.

AGENDA FROUXA

A reunião do FMI terminou com uma agenda frouxa, em que a principal proposta é o monitoramento do quanto a política econômica de um país prejudica a dos demais.

Mas o modelo e a data de início não foram definidos.

O debate principal em Washington --os desequilíbrios globais e o câmbio, que opõe EUA (com desajustes fiscais) e China (com moeda subvalorizada) -- ficou inconcluso, com uma vaga expectativa de definição deixada para a reunião do G20, em novembro, em Seul.

Voz dissonante no IIF, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, enfatizou que os emergentes estão agindo no câmbio para "se proteger".

Mas o brasileiro disse depois à Folha ver risco no fato de cada pais tomar medidas de forma independente. "A otimização de cada uma das partes não vai levar à otimização do mundo, vai levar a uma confusão", disse.

Setubal afirmou que não espera "nenhum desastre" no câmbio e que a bola está nas mãos do G20. Para o banqueiro, no entanto, o Brasil terá de se acostumar com um deficit em conta corrente de até 5% do PIB (para 12 meses até julho, foi de 2,2%).

"É administrável, mas acho importante o setor público aumentar o nível de poupança para acomodar a compra de dólar e manter o nível de reservas", afirmou. Ele espera que o dólar varie entre R$ 1,70 e R$ 1,80.

REGULAÇÃO EXCESSIVA

O IIF, que reúne mais de 400 grandes bancos, reclamou do que vê como excesso de regulamentação imposto às instituições após a crise, o que, afirma, encarece o crédito e solapa a capacidade de financiar a retomada global.

"Algumas regulamentações foram longe demais", afirmou Josef Ackerman, diretor-presidente do grupo, citando o recente acordo de Basileia 3, que fixa parâmetros de alavancagem e proteção para os bancos na tentativa de evitar nova bolha.

Os banqueiros criticaram a tentativa de criar uma lista de "instituições grandes demais para falhar", que acabou fora do acordo pelo temor de que virasse uma lista negra na mira dos governos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Condenado no caso Société Générale diz que está deprimido e que pagou por todos

06/10/2010 - 08h47
da Folha de São Paulo

DA FRANCE PRESSE, EM PARIS

Um tribunal francês condenou nesta terça-feira o ex-trader do banco Société Générale Jerome Kerviel a três anos de prisão e a devolver à empresa 4,9 bilhões de euros (US$ 6,8 bilhões), valor do prejuízo que provocou à instituição, em um processo emblemático para os problemas do mercado financeiro.

O Tribunal Correcional de Paris considerou Kerviel, 33 anos, culpado de abuso de confiança, falsificação e introdução fraudulenta de dados em um sistema de informática.

Segundo a corte, que julga crimes penais, o ex-trader "não respeitou as regras de seu mandato ao tomar posições especulativas sem que o banco soubesse e em proporções gigantescas".

"Ficou claramente demonstrado que o comportamento de Jerome Kerviel e suas mentiras era tão sofisticados que o banco não podia suspeitar do que estava fazendo", afirmou Jean Veil, um dos advogados do Société.

Como havia solicitado o Société Générale durante o julgamento, que aconteceu de 8 a 25 de junho, o tribunal condenou Kerviel a devolver ao banco os 4,9 bilhões de euros --como danos e prejuízos-- que a instituição alega ter perdido por culpa do ex-funcionário.

Joel Saget/AFP

O operador financeiro Jerome Kerviel chega para a audiência no Tribunal de Paris, na França, escoltado por policial
Kerviel foi julgado por ter assumido posições financieras especulativas de bilhões de euros com operações fictícias. A acusação havia solicitado cinco anos de prisão --um em liberdade condicional-- para o jovem que se tornou um símbolo dos disparates financeiros mundiais.

O escândalo foi revelado em janeiro de 2008, meses antes da explosão da crise financeira internacional. Kerviel foi o único acusado no processo.

Após a leitura da sentença, o advogado de Kerviel, Olivier Metzner, anunciou que vai entrar com recurso por considerar o veredicto "totalmente irrefletido e inverossímil". Meztner havia solicitado a absolvição do cliente, que se declarou inocente de todas as acusações.

Durante o processo, Kerviel manteve a mesma linha de defesa: admitiu ter perdido o senso de realidade, mas repetiu que os superiores permitiam sua livre atuação e, inclusive, o estimulavam a assumir riscos desde que isso permitisse ganhos financeiros.

Mas o tribunal considerou que os elementos mencionados pela defesa não permitem deduzir que o banco Société Générale tivesse conhecimento das atividades fraudulentas.

O tribunal anunciou os três anos de prisão e mais dois de liberdade condicional. No entanto, o tribunal não decidiu por uma multa nem ordenou o envio do ex-trader de maneira imediata para a prisão.

Kerviel, que passou 38 dias em prisão provisória em 2008, se apresentou no início do julgamento como "consultor de informática" com salário mensal de 2.300 euros. Com a quantia, levaria 17.000 anos para pagar os 4,9 bilhões de euros que deve ao Société Générale.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A irresponsabilidade dos bancos centrais

30 de setembro de 2010

Paul Krugman

Parece haver atualmente dois tipos de pensadores no mundo dos bancos centrais. De um lado temos as pessoas responsáveis – aquelas que acreditam que devemos aumentar os juros diante do alto desemprego e da inflação cada vez menor porque… bem, é isso que as pessoas responsáveis fazem.

Do outro lado temos as pessoas irresponsáveis, que acreditam que os bancos centrais devem combater tanto a inflação quanto a deflação na tentativa de impedir que o declínio atual se transforme num estado semipermanente de depressão. Haverá limites para o ridículo?

Na Suécia, meu ex-colega Lars Svensson, agora trabalhando no Riksbank, está preocupado com o desejo de seus colegas de aumentar os juros diante de uma inflação muito abaixo da meta e de uma economia que ainda está longe da recuperação plena. Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Svensson é apenas um dos maiores especialistas mundiais em economia monetária, dedicando muito de seu tempo ao estudo dos problemas enfrentados pela política monetária diante do limite inferior igual a zero.

Na Grã-Bretanha, Adam Posen, do Comitê de Política Monetária, pede a adoção urgente de medidas adicionais:

Só saberemos se a flexibilização quantitativa e as outras formas de estímulo terão sido suficientes quando houver claros indicadores de que nossas medidas estão alterando as variáveis desejadas – juros do mercado, salários, produção, emprego e expectativas de inflação – suficientemente, no sentido correto e num processo sustentado.

Não acho que um banco central possa simplesmente dizer, ‘veja, expandimos nosso balanço patrimonial mais do que em qualquer outro momento da história’, ou ‘fizemos coisas que nunca tínhamos feito antes’, e com isso sugerir que já tenhamos feito o bastante ou até demais (não que o Banco da Inglaterra tenha de fato feito muito).

Na minha opinião, trata-se de um caso de lógica invertida. Equivale a dizer ‘o incêndio deve ter sido apagado, pois já usamos contra ele mais água do que em todos os incêndios anteriores’ ou ‘já devemos ter chegado ao nosso destino, pois estamos viajando há horas e já usamos um tanque cheio de gasolina’.

Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Posen é apenas o maior especialista anglo-saxão na década perdida japonesa.

Ironias à parte, a ascensão do caucus da dor é realmente impressionante – sou um cínico experiente, e nem mesmo eu fui capaz de prever esta. Como destaca Posen, as principais teorias macroeconômicas – que sugerem a necessidade de muito mais estímulo, tanto fiscal quanto monetário – se sustentaram bastante bem nesta crise; acima de tudo, elas fizeram as precisões corretas a respeito da inflação e dos juros, enquanto as doutrinas subjacentes ao caucus da dor se mostraram equivocadas quanto a tudo.

Ainda assim, os “responsáveis” pela política econômica estão rejeitando as teorias que funcionam para favorecer aquelas que dão errado.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CÂMBIO FLUTUANTE

do Editorial do Diário de Pernambuco de 29.09.2010

A capitalização da Petrobras tinha data, tamanho e consequências conhecidas. Uma delas, a mais comentada nos últimos meses, seria o aumento do ingresso de dólares na economia brasileira, o que, aliás, se confirmou sem grandes abalos. Especialistas mais experientes na questão cambial já previam que esse evento também marcaria uma nova etapa de pressões para que o governo venha a tomar medidas "enérgicas" para conter a valorização do real ante a moeda norte-americana. Mais do que isso, era também razoável esperar que os saudosistas do intervencionismo governamental na economia em geral e no câmbio em particular se movessem no sentido de inspirar compartimentos mais conservadores da equipe econômica a agir pela volta triunfal das cotações determinadas nos fins das tardes das sextas-feiras pela autoridade monetária.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conseguido, não sem esforço, resistir a esse tipo de pressão, e isso é o que se espera também do próximo ocupante do Palácio do Planalto. O maispopular dos presidentes da história republicana brasileira não tem motivos para se arrepender de ter optado por ficar prioritariamente do lado do poder compra dos salários do trabalhador. Lula percebeu o papel do câmbio flutuante em relação à realidade da economia e, principalmente, que essa política cambial facilitaria o combate à inflação, à medida que permite a comparação de preços com as demais ofertas no mercado internacional. Com isso, fica reduzida a capacidade do fornecedor brasileiro de fixar preço de acordo com a sua conveniência e não conforme sua capacidade de disputar mercados, inclusive o interno.

A não intervenção no câmbio força a modernização da indústria nacional. É claro que esse esforço seria mais bem-sucedido se amparado por consistentes políticas de estímulo ao investimento, por eficiente infraestrutura básica e por carga tributária mais leve e mais parecida com a dos nossos concorrentes mundiais. Mesmo assim, a manutenção do câmbio flutuante tem mostrado ser a solução mais adequada para reduzir a vulnerabilidade externa da economia brasileira. Persiste uma defasagem na competitividade do país, o que naturalmente se acirra com a perda crescente de valor do dólar, principal moeda de troca do planeta, fenômeno que tem motivações muito além da questão brasileira, mas que, nem por isso, pode ser menosprezada.

É nesse sentido que se justifica a atuação correta do Banco Central de enxugar o excesso de liquidez da moeda norte-americana na economia brasileira, fazendo aquisições maciças e, com elas, reforçando as reservas cambiais, hoje acima de US$ 260 bilhões. Foi esse colchão, aliás, que ajudou a aumentar a credibilidade do Brasil no mercado internacional de capitais, a ponto de receber graduação de investimento pelas maiores agências de risco do mundo. Portanto, dispensável ou não, a anunciada disponibilização dos recursos do Fundo Soberano do Brasil (FSB) para o esforço de contenção de eventuais excessos de dólares na economia, especialmente na vaga da capitalização da Petrobras, pode ser positiva. Mas que não sirva de chave para reabrir a porta da velha política do câmbio administrado pelos sábios do governo, um retrocesso pelo qual poderemos pagar caro, como aconteceu no passado.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"Santo escândalo" abala o Vaticano Igreja // Justiça italiana investiga por lavagem de dinheiro dois executivos do "banco do papa". Santa Sé se diz "perplexa", mas confiante nos diretores

do DIÁRIO DE PEERNAMBUCO
Isabel Fleck
isabelfleck.df@dabr.com.br

Brasília - Antes mesmo de se recuperar da recente polêmica sobre os casos de pedofilia, a Santa Sé se viu mergulhada em mais um escândalo de grandes proporções, desta vez envolvendo o já problemático banco do Vaticano. A Justiça italiana está investigando por lavagem de dinheiro dois dirigentes do Instituto para a Obra Religiosa (IOR), e ordenou a apreensão de 23 milhões de euros (cerca de R$ 52 milhões) depositados em uma conta do banco Credito Artigiano. O Vaticano se disse "surpreso e perplexo" com as acusações, mas reafirmou a confiança na idoneidade do presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi, e do diretor-geral, Paolo Cipriani, ambos envolvidos no caso.

De acordo com a Justiça, o banco administra, por meio de contas identificadas apenas com a sigla IOR, grandes quantias de dinheiro de procedência não declarada. E essa, na verdade, é a grande acusação que pesa sobre o banco da Santa Sé: omitir dados em relação às transações, como a identidade dos autores e a natureza da movimentação bancária - o que é exigido por normas que visam a evitar a lavagem de dinheiro. A imprensa italiana divulgou que o IOR pretendia transferir 20 milhões de euros ao banco alemão JP Morgan Frankfurt e a mais três instituições financeiras, o que teria chamado a atenção da Promotoria de Roma.

"A Santa Sé manifesta perplexidade e surpresa pela iniciativa do Tribunal de Roma, já que os dados exigidos se encontram no escritório competente do Banco da Itália", explica um comunicado emitido ontem pela liderança católica. O Vaticano ainda reiterou o compromisso de trabalhar de forma "transparente" no que concerne às transações do IOR. O presidente do banco, por sua vez, se disse "profundamente humilhado" pelas acusações. "Cumpri todas as indicações do Banco Central (italiano)", disse à TV estatal RAI. A omissão dos dados pode ser punida com até três anos de prisão e multa de 50 mil euros.

Essa é a primeira polêmica envolvendo o banco do Vaticano desde o escândalo da quebra, em 1982, do Banco Ambrosiano, que era na época o maior banco privado italiano e do qual o Vaticano era o principal acionista. Gianluigi Nuzzi, autor do livro Vaticano S.A., que traz uma compilação de 5 mil documentos sobre transações escusas do IOR entre as décadas de 1970 e 1990, destacou a atuação do Banco da Itália, que detectou as irregularidades nas operações recentes do IOR e bloqueou-as. "O foco nas atividades do IOR mostra que a parede de silêncio que existia entre a Itália e o 'banco do papa' veio abaixo", disse Nuzzi à agência Bloomberg.

Cautela - O professor da Universidade de Brasília (UnB) Virgílio Arraes, especialista em temas políticos da Santa Sé, acredita que o Vaticano dificilmente incorreria no mesmo erro depois do grande escândalo da década de 1980. "Na época da Guerra Fria, as características especiais do banco do Vaticano possibilitaram esse tipo de ação, que até hoje envolve muitas dúvidas. Mas, a partir desse episódio, o papa ficou mais criterioso, não colocou mais nas mãos de um cardeal a administração cotidiana do banco, e sim de profissionais, economistas", observa.

Para ele, até que tudo seja devidamente esclarecido, ainda há possibilidade de que tenha havido uma falha na escrituração da movimentação bancária, que não teria revelado os dados exigidos. "Ou o próprio banco poderia estar sendo utilizado para a lavagem de dinheiro", considera, lembrando que o banco do Vaticano sempre foi "um dos pontos sensíveis na administração da Santa Sé".

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Brasil vem dando exemplo ao mundo, diz James Galbraith

“A desigualdade social no Brasil está sendo reduzida nos últimos anos porque o país gasta menos dinheiro para ajudar o setor financeiro e mais dinheiro para ajudar o próprio Brasil”, disse o economista norte-americano James Galbraith no seminário internacional sobre governança global promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Para Galbraith, Brasil atravessa um período de “estado de bem-estar democrático” que revela aos países mais desenvolvidos um caminho diferente daquele proposto pelos dogmas neoliberais.
Maurício Thuswohl
BRASÍLIA – O economista norte-americano James Galbraith afirmou na quinta-feira (16) que o Brasil vem dando ao mundo um exemplo de como enfrentar com sucesso a crise econômica global. Segundo Galbraith, que participou em Brasília de um seminário internacional sobre governança global organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), “a desigualdade social no Brasil está sendo reduzida nos últimos anos porque o país gasta menos dinheiro para ajudar o setor financeiro e mais dinheiro para ajudar o próprio Brasil”.

Ao optar por aumentar os investimentos em infra-estrutura, emprego e renda ao invés de promover arrocho para combater a crise, o Brasil, segundo Galbraith, atravessa atualmente um período de “estado de bem-estar democrático” que revela aos países mais desenvolvidos um caminho diferente daquele proposto pelos dogmas neoliberais: “O Brasil joga na cara do mundo neoliberal que pode haver crescimento social e econômico sustentável ao lado de um processo democrático funcional”, disse.

Galbraith afirmou que “o processo de governança global comandado pelo mercado financeiro e pela ideologia neoliberal desde o final dos anos oitenta foi um fracasso constrangedor”. O economista lembrou seu livro “O Estado Predatório” para afirmar que o maior perigo econômico da atualidade é deixar que as forças do mercado financeiro voltem a dominar as ações de estado: “A prosperidade dos banqueiros geralmente é contrária à prosperidade geral da população”.

A evolução da desigualdade mundial, segundo Galbraith, está diretamente ligada às diversas crises pelas quais passou o capitalismo financeiro nas três últimas décadas: “Aconteceu uma mudança abrupta e dramática a partir dos anos oitenta. As crises na América Latina, a queda do comunismo no Leste Europeu e a crise asiática de 1997 fazem parte de um fenômeno comum, proporcionado pelo domínio do mercado financeiro, que fortaleceu os países mais ricos e as pessoas mais ricas de cada país”, disse.

Essa sucessão de eventos, segundo a análise do economista norte-americano, culminou com a mais recente crise financeira global, iniciada com o estouro da bolha das hipotecas nos Estados Unidos: “Não aconteceu uma crise da Grécia, mas sim um desdobramento da grande crise de 2008, que foi a maior fraude financeira da história. E, devo dizer, não vamos sair desta crise facilmente ou em breve”.

Desmatamento
Durante o seminário, que foi organizado em parceria com a Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS), o Brasil, graças a sua política de combate ao desmatamento, também mereceu elogios do argentino Eduardo Viola, que é professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

Viola citou os esforços do país para deter o desmatamento na Amazônia: “De 2004 a 2009, o Brasil reduziu o desmatamento da floresta de 24 mil hectares para sete mil hectares. É um caso único no mundo. Na medida em que o Brasil vai tomando medidas internas acertadas, torna-se um personagem cada vez mais importante nas discussões globais sobre o clima”.

O professor, no entanto, afirmou não acreditar que seja ainda válido o conceito de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento estabelecido pelo Protocolo de Quioto: “É claro que os EUA e os países da União Européia tiveram um papel histórico decisivo no aumento das emissões de gases estufa. Atualmente, no entanto, a China aumenta cada vez mais suas emissões”, exemplificou, lembrando que o país asiático_ que lança anualmente na atmosfera seis toneladas per capita de carbono enquanto os EUA emitem 20 toneladas per capita _ ainda tem “espaço” para aumentar suas emissões.

No caso dos EUA, Viola afirmou que o governo de Barack Obama “avançou muito pouco” na luta contra o aquecimento global, apesar da aprovação no ano passado de uma lei de energia e clima: “A lei aprovada é insuficiente e, em caso de vitória do Partido Republicano nas eleições parlamentares de novembro, a possibilidade de aprovação de uma lei do clima mais abrangente certamente será abandonada”, avaliou.


Fotos: Eduardo Seidl

É viável que Brasil cresça 5% nos próximos anos, diz Krugman

quinta-feira, 16 de setembro de 2010


O Prêmio Nobel de Economia de 2008 ressaltou que o Brasil tem um mercado interno grande e apresenta boas condições econômicas, com uma forte redução da desigualdade social nos últimos anos.
Ricardo Leopoldo, da Agência Estado


SÃO PAULO - O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, afirmou nesta quinta-feira, 16, ser viável que o Brasil cresça na média de 5% nos próximos três ou quatro anos. "Esse é um País que tem 200 milhões de habitantes, um mercado interno grande e apresenta boas condições econômicas, com uma forte redução da desigualdade social nos últimos anos", apontou o norte-americano. O economista fez referência aos 29 milhões de pessoas que saíram da classe E e ingressaram nas classes C e D de renda de 2003 a 2009, como apontou a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ).


Krugman classificou como "sensível" e "bem razoável" a condução na política econômica pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Os três demônios estão sob controle: a inflação, o câmbio e a questão fiscal", afirmou. O acadêmico destacou que não vê o atual desempenho da economia como uma expansão muito alta, que justificaria toda a empolgação com o País, registrada no mercado financeiro internacional.

O economista observou que esse sentimento positivo também foi registrado nos Estados Unidos em 1993 e 1994, no governo do ex-presidente Bill Clinton, o que foi muito importante para que aquele país ingressasse no maior período de prosperidade de sua história.

Krugman mostrou-se tranquilo em relação à transição política do Brasil, dado que ocorre neste ano a eleição presidencial. "Vejo as declarações dos candidatos, o que não interfere na economia", afirmou.

Câmbio

Ao contrário do que manifestou há cerca de um ano, em São Paulo, o prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, não acredita que a valorização do câmbio hoje seja um problem para a economia do Brasil. "Se o déficit de transações correntes atingir 3% a 4% do PIB, tudo bem. O quadro fica preocupante quando esse indicador fica bem maior, algo perto de 6% a 7% do Produto Interno Bruto."

Perguntado pela Agência Estado o que o fez mudar de opinião, ele respondeu com certa ironia: "É que naquela época eu não estava suficientemente pessimista sobre a economia mundial como estou hoje".

Em palestra realizada esta manhã na capital paulista, Krugman destacou que o nível de atividade nos EUA deve ficar fraco nos próximos seis anos. Ele também ressaltou que para o desemprego naquele país retornar ao patamar de pleno de emprego, ou seja, algo próximo a 5%, deverá demorar pelo menos 20 anos. Atualmente a taxa de norte-americanos desocupados é de 9,6%.

O colunista - cujo blog no New York Times é publicado com exclusividade no Brasil pelo E&N - destacou que a valorização cambial seria nefasta para a economia brasileira se ela estivesse enquadrada em um dos três seguintes cenários. O primeiro é de altíssimo endividamento do governo e de empresas em dólares.

O segundo é o que qualificou como "armadilha de liquidez para exportações", no qual a moeda doméstica excessivamente forte poderia impactar muito a produção industrial local e também as vendas externas. Nesse contexto ocorreria uma queda do nível de atividade interna, o que geraria alto desemprego. Num cenário como esse os juros poderiam cair para taxas muito baixas, mas tal medida seria inócua.

E a terceira é algo como ocorreu nos EUA de 2002 a 2007, quando foi registrado o ingresso muito grande de recursos internacionais que propiciou uma vasta onda de investimentos em vários tipos de ativos, como residências. Mais tarde, tal excesso de liquidez gerou bolhas naquele país, o que criou a atual crise na qual a economia norte-americana está envolvida. "Esse terceiro cenário é algo para se observar no futuro, mas não acredito que tem altas chances de ocorrer no Brasil", disse.
LAVAGEM DE DINHEIRO (DO SITE: SINAL.ORG.BR)



Nós, brasileiros, temos ouvido e lido muito, ultimamente, notícias sobre lavagem de dinheiro. As denúncias surgem, uma após a outra, e, enquanto são investigadas e rendem noticiário, sabemos delas diariamente, até que outra denúncia surja, e as anteriores caiam no ostracismo.

O fato é que lavagem de dinheiro não é uma exclusividade brasileira, nem é coisa recente. Contas numeradas na Suíça, por exemplo, mantêm sigilo sobre seus titulares há muitos anos e, a exemplo desse país europeu, vários dos chamados “paraísos fiscais” se vêm constituindo ao longo do tempo, oferecendo facilidades fiscais e bancárias aos capitais neles depositados.

Essas facilidades, que incluem taxas e impostos reduzidos, a mesma garantia de confidencialidade suíça e a possibilidade de se abrir e fechar empresas muito rapidamente, e a um custo muito baixo, acabou por naturalmente atrair os proprietários de recursos ilícitos. Daí o tráfico de drogas, contrabando e a corrupção haverem encontrado seu paraíso no que passaram a ser os centros de lavagem de dinheiro, ou, simplesmente, lavanderias.

A legitimação de recursos vindos de atividades ilegais faz com que o crime compense, quando permite a ocultação do dinheiro pelos criminosos. O dinheiro que passa atualmente por lavagem, em todo o mundo, totaliza cerca de um trilhão de dólares por ano, permitindo aos criminosos financiarem várias outras atividades criminosas paralelas. Além disso, a lavagem de dinheiro anda passo a passo com a corrupção, agrava os problemas sociais e atenta contra a integridade das instituições financeiras.

Vivendo na era da informática e da Internet, os fraudadores que lavam dinheiro têm acesso à velocidade e à facilidade com que podem circular hoje os recursos desta para aquela, deste para aquele paraíso fiscal.

É preciso – e várias iniciativas se estão dando nesse sentido – uma cooperação nacional e internacional objetivando a identificação das fontes dos recursos ilícitos - para que se descubram quais as atividades e pessoas criminosas os geram - bem como o seu confisco a esses proprietários ilegais.

No Brasil, que estima atualmente em US$ 10 bilhões o seu prejuízo anual, estudam-se hoje novas formas de combate, que passem necessariamente pela integração dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro, como a Receita Federal, Ministério da Fazenda e Banco Central, com o Ministério Público, o Poder Judiciário e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

Com a edição desta página, o SINAL pretende subsidiar os visitantes do Portal com as notícias mais atualizadas sobre o assunto, além de alimentá-la com artigos de autores especializados, fornecendo informação a quantos a visitarem e ajudando a conscientizar a população da gravidade desse delito, e do quanto ele entrava o desenvolvimento social do Brasil e do mundo.

Ver outras informações sobre Lavagem de dinheiro no site:http://www.sinal.org.br/lavagem_de_dinheiro/index.asp
LAVAGEM DE DINHEIRO (DO SITE: SINAL.ORG.BR)



Nós, brasileiros, temos ouvido e lido muito, ultimamente, notícias sobre lavagem de dinheiro. As denúncias surgem, uma após a outra, e, enquanto são investigadas e rendem noticiário, sabemos delas diariamente, até que outra denúncia surja, e as anteriores caiam no ostracismo.

O fato é que lavagem de dinheiro não é uma exclusividade brasileira, nem é coisa recente. Contas numeradas na Suíça, por exemplo, mantêm sigilo sobre seus titulares há muitos anos e, a exemplo desse país europeu, vários dos chamados “paraísos fiscais” se vêm constituindo ao longo do tempo, oferecendo facilidades fiscais e bancárias aos capitais neles depositados.

Essas facilidades, que incluem taxas e impostos reduzidos, a mesma garantia de confidencialidade suíça e a possibilidade de se abrir e fechar empresas muito rapidamente, e a um custo muito baixo, acabou por naturalmente atrair os proprietários de recursos ilícitos. Daí o tráfico de drogas, contrabando e a corrupção haverem encontrado seu paraíso no que passaram a ser os centros de lavagem de dinheiro, ou, simplesmente, lavanderias.

A legitimação de recursos vindos de atividades ilegais faz com que o crime compense, quando permite a ocultação do dinheiro pelos criminosos. O dinheiro que passa atualmente por lavagem, em todo o mundo, totaliza cerca de um trilhão de dólares por ano, permitindo aos criminosos financiarem várias outras atividades criminosas paralelas. Além disso, a lavagem de dinheiro anda passo a passo com a corrupção, agrava os problemas sociais e atenta contra a integridade das instituições financeiras.

Vivendo na era da informática e da Internet, os fraudadores que lavam dinheiro têm acesso à velocidade e à facilidade com que podem circular hoje os recursos desta para aquela, deste para aquele paraíso fiscal.

É preciso – e várias iniciativas se estão dando nesse sentido – uma cooperação nacional e internacional objetivando a identificação das fontes dos recursos ilícitos - para que se descubram quais as atividades e pessoas criminosas os geram - bem como o seu confisco a esses proprietários ilegais.

No Brasil, que estima atualmente em US$ 10 bilhões o seu prejuízo anual, estudam-se hoje novas formas de combate, que passem necessariamente pela integração dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro, como a Receita Federal, Ministério da Fazenda e Banco Central, com o Ministério Público, o Poder Judiciário e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

Com a edição desta página, o SINAL pretende subsidiar os visitantes do Portal com as notícias mais atualizadas sobre o assunto, além de alimentá-la com artigos de autores especializados, fornecendo informação a quantos a visitarem e ajudando a conscientizar a população da gravidade desse delito, e do quanto ele entrava o desenvolvimento social do Brasil e do mundo.

Ver outras informações sobre Lavagem de dinheiro no site:http://www.sinal.org.br/lavagem_de_dinheiro/index.asp


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