quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Carta entregue por Amaury Ribeiro Jr. aos jornalistas

Confira a carta entregue por Amaury Ribeiro Jr. aos jornalistas (fonte: site TERRA - 26 de outubro de 2010 • 19h20 • atualizado às 19h25)


O jornalista Amaury Ribeiro Junior entregou nesta terça-feira (26) uma carta aos jornalistas contendo parte do material entregue por ele à Polícia Federal em relação a investigações que fez no período de 1998 e 2002 sobre as privatizações de empresas estatais no governo Fernando Henrique Cardoso. A nota contém informações sobre a CPMI do Banestado, conseguidas, segundo o jornalista, "de forma legal sem quebra de sigilo fiscal". Ele reitera também não ter sido movido por nenhuma militância partidária, mas sim pelo "jornalismo".

Amaury foi indiciado, nesta segunda-feira (25), por quatro crimes no caso que investiga a violação do sigilo fiscal de lideranças tucanas e familiares do candidato à presidência José Serra (PSDB). De acordo com o parecer da PF, o jornalista cometeu os crimes de violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documento falso e oferecimento de vantagem a testemunha.

Confira na íntegra a carta de Amaury Ribeiro Jr.:



Nota à imprensa

Aos colegas jornalistas:

Estou passando às mãos de todos cópia de uma pequena parte do material que entreguei hoje à Polícia Federal. Todos os papéis foram obtidos de forma legal sem quebra de sigilo fiscal. Vale lembrar que a documentação refere-se aos anos de 1998 até 2002.

O que foi entregue não é resultado de militância partidária, que nunca tive, e sim da única militância que reconheço e pratico, a do jornalismo. Prova disse é que, em junho de 2005, fui o autor de "Aparece o dinheiro", reportagem de IstoÉ (edição 1863), em que foi exposto o Mensalão do PT. Desejo que a liberdade de imprensa em vigor no país possa servir, agora, ao esclarecimento da população.

São informações oficiais a que tive acesso nos longos anos em que estou trabalhando no tema das privatizações. Pela primeira vez estão sendo trazidas ao conhecimento público. São, portanto, absolutamente inéditas. Foram obtidas judicialmente através de uma ação de exceção de verdade. São documentos da CPMI do Banestado, cujo acesso estava, até então, proibido aos brasileiros. Agora, vieram à luz. Espero que possam, enfim, ajudar a esclarecer um período sombrio do país. Vocês são parte importante e decisiva neste processo.

Chamo a atenção para dois pontos especialmente, ambos alicerçados em informações oficiais obtidas pela dita CPMI na base de dados da conta Beacon Hill do banco JP Morgan Chase e no MTB Bank, ambos de Nova York. A Beacon Hill Service Corporation (BHSC) onde eram administradas muitas subcontas com titulares ocultos. Nos EUA, a BHSC foi condenada em 2004 por operar contra a lei. No Brasil, inspirada pela designação Beacon Hill, a Polícia Federal deflagrou a Operação Farol da Colina, apurando, entre outras personalidades envolvidas, nomes como os do ex-governador paulista Paulo Maluf e do banqueiro Daniel Dantas. Os pontos em questão são os seguintes:

1 . Os depósitos comprovados (pag. 4/11) do empresário GREGÓRIO MARIN PRECIADO, casado com uma prima de JOSÉ SERRA e ex-sócio do ex-governador de São Paulo (o mesmo SERRA), na conta da empresa Franton Interprises (pag. 3/11), vinculada ao ex-caixa de campanha do próprio SERRA e de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, RICARDO SÉRGIO OLIVEIRA. A soma de tais valores ultrapassa os US$ 1,2 milhão e cresce sobretudo no ano eleitoral de 2002, quando SERRA foi candidato à Presidência. Mais de 80% dos recursos recebidos pela Franton na Beacon Hill tem origem em PRECIADO. RICARDO SÉRGIO, como se sabe, foi diretor do Banco do Brasil e o grande articulador de consórcios de privatização no período FHC.

2. Os depósitos realizados pela empresa Infinity Trading, pertence ao empresário CARLOS JEREISSATI, (pag 9/11) igualmente na Franton Interprises e RICARDO SÉRGIO. JEREISSATI liderou um dos consórcios que participou dos leilões de privatização e comprou parte da Telebrás. É de conhecimento geral que a formatação de consórcios e as privatizações da Telebrás também tiveram a intervenção de RICARDO SÉRGIO. Em muitas ocasiões se falou de propina na venda de estatais, mas esta é a primeira vez que aparece uma evidência disso lastreada por documentos bancários oficiais.

Tenho certeza da relevância do material e espero que façam bom uso dele. Um abraço a todos e bom trabalho.

Amaury Ribeiro Junior

sábado, 23 de outubro de 2010

G-20 faz acordo sobre política monetária e reforma do FMI

Europeus entregarão duas vagas no conselho de direção do Fundo e 6% a mais de poder de votação às nações emergentes
23 de outubro de 2010 | 9h 56

Reuters
GYEONGJU - Os países que compõem o G-20 chegaram a um acordo no sábado para deter as desvalorizações competitivas de moedas, embora não tenham conseguido um consenso sobre uma linguagem mais firme que poderia ter estimulado o dólar.


O acordo de reforma do FMI foi descrito como um momento "histórico" pelo diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, o que levará aos europeus entregar duas vagas no conselho de direção e 6% a mais de poder de votação às nações emergentes. "Esta é a maior reforma já realizada na direção da instituição", afirmou a jornalistas Strauss-Kahn, quem está no comando do organismo de 187 países.

O acordo transformará a China no terceiro integrante mais poderoso do FMI, superando potências tradicionais como Alemanha, França e Itália. A Índia passará do 11º ao oitavo lugar. A Rússia ficará em nono e o Brasil em 10º lugar.

"Nossa demanda era de que a cota de participação deveria refletir a realidade e as fortalezas econômicas atuais, (caso contrário) teria danificado a credibilidade da instituição. Isso está sendo corrigido agora", disse o ministro de Finanças indiano, Pranab Mukherjee.

O G-20 decidiu há um ano entregar ao menos 5% dos direitos de votação a nações em desenvolvimento como Índia e Brasil, cujo peso dentro do FMI não estava de acordo com seu ritmo de desenvolvimento.

Política monetária e câmbio

Os esforços dos Estados Unidos para limitar os atuais desequilíbrios das contas correntes a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma medida que apontava diretamente ao superávit da China, encontraram resistência em várias nações.

Os membros do G-20 se comprometeram em um comunicado a "regular as desvalorizações competitivas de suas moedas", enquanto as nações em desenvolvimento prometeram reduzir seus déficits orçamentários ao longo do tempo e tomar ações para controlar os desequilíbrios das contas correntes.

"Para que o mundo possa crescer a um ritmo forte e sólido no futuro... precisamos trabalhar para conquistar um maior equilíbrio no caminho da expansão global enquanto nos recuperamos da crise", disse o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner.

Propostas dos EUA causam tensão

As propostas dos Estados Unidos para regular os desequilíbrios das contas correntes acontecem enquanto Pequim acumulou US$ 2,65 trilhões em reservas de moeda oficial como consequência de seu enorme superávit comercial, o que levou a Câmara dos Deputados norte-americana a aprovar uma lei que ameaça retaliações a menos que a China permita o fortalecimento de sua moeda.

Autoridades chinesas não fizeram comentários sobre a disputa, mas uma fonte do G-20 disse que Pequim era contra qualquer comunicado que comprometesse explicitamente os países a limitar seus balanços de conta corrente ou com qualquer outro regulamento sobre política monetária.

As tensões que no encontro levaram Japão e China a rebater as propostas norte-americanas continuaram até depois do fim da cúpula. A Alemanha disse que havia críticas à política norte-americana de injetar dinheiro no sistema bancário que terminou chegando a economias emergentes como o Brasil, causando bolhas nos preços dos ativos.

"Tentei deixar claro em minha contribuição a discussão que considero (o relaxamento) uma forma errada de atuar", disse o ministro alemão de Economia, Rainer Bruederle. "Um excessivo e permanente incremento no dinheiro (injeção de fundos) é, sob meu ponto de vista, uma manipulação indireta da taxa (de câmbio)", afirmou.

Contudo, a Coreia do Sul foi mais otimista sobre o resultado da reunião e disse que o G-20 estava ajudando a acabar com a incerteza dos mercados. "Isso terminará com a controvérsia pela taxa de câmbio", afirmou o ministro sul-coreano de Finanças, Yoon Jeung-hyun.

(Fiona Shaikh e Langi Chiang)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fed confirma novas emissões de dólares, e cresce fuga para outros ativos e moedas como o real

Fed confirma novas emissões de dólares...

Correio Braziliense – Brasil S/A – 15/10/2010



Esse é o caminho que deve acelerar a queda do dólar no mundo, que chega a 40% em dez anos, tanto quanto seria o atraso do renminbi



Por Antonio Machado

machado@cidadebiz.com.br



O que os representantes dos 187 países associados ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial que foram à assembléia anual das duas organizações em Washington no fim de semana queriam ouvir só foi conhecido quando eles se preparavam para voltar.



Entre os feriados de segunda-feira, nos EUA, e terça, no Brasil, o Federal Reserve (Fed) divulgou a ata da reunião de setembro de seu comitê de política monetária, o Copom americano, trazendo a confirmação sinistra do que todos temiam: o reinício das emissões de dólares para a aquisição de papéis do Tesouro dos EUA.



É o caminho que deverá acelerar a depreciação do dólar em curso no mundo, 40% nos últimos dez anos – tanto quanto se diz que seria o atraso do renminbi sobre o dólar. E senha para a guerra cambial anunciada pelo ministro Guido Mantega para desconforto dos chefões das finanças globais, que preferiam tratar reservadamente o que já está visível há tempos, com risco de colapsar o comércio mundial.



O jogo é bruto e não há iminência de acordo. Não houve na reunião do FMI/Banco Mundial. E dificilmente haverá na cúpula do Grupo dos 20 (G-20), daqui a um mês em Seul, se o G-2, de EUA e China – que têm os maiores desequilíbrios entre déficits e superávits globais -, não encontrar um meio harmônico de equalizar as suas contas.



Não se descarta nem mesmo que o G-2 simule uma confusão do capeta e se entenda nos bastidores à custa dos “outros” - como a zona do euro, os produtores de petróleo e grandes emergentes, tipo Brasil, os mais frágeis diante dos EUA, que têm o poder das emissões, e a China, com US$ 2,5 trilhões de reservas e moeda colada o dólar. Se ele cai, o renminbi vai atrás; se sobe, idem com batatas.



A coisa está assim: ou aceitam por bem ou aceitam por mal. Com os juros de política monetária zerados nos EUA, tanto o dólar como os ativos denominados na moeda perdem valor no confronto cambial, sem desvalorizações competitivas. Mas o despejo de mais dólares poderá ser de tal monta que até os mecanismos de defesa empregados pelos bancos centrais se tornarão impotentes. Basta acompanhar o real.



Havia a crença no mercado de que nem por um dilúvio a Fazenda e o Banco Central tolerariam dólar abaixo de R$ 1,70. Está a R$ 1,65. Já se acreditou que o piso seria R$ 1,80, R$ 1,90 etc.



O BC compra todo o fluxo líquido de divisas, o Tesouro faz o mesmo e a Fazenda dobrou para 4% o IOF sobre o capital estrangeiro aplicado em renda fixa e fundos de investimento. E nada, o dólar só cai.



Ao Guido, com respeito



O ministro Guido Mantega, sempre loquaz sobre questões cambiais, já tendo até feito sugestões ao presidente Barack Obama – aumentar gastos fiscais em vez de imprimir dinheiro -, com todo o respeito, deveria é parar de dizer que o governo está preparado para comprar todo o fluxo líquido de dólares que entrar no país.



A essa altura, depois da ata do Federal Reserve, que soa como uma espécie de ultimato, a declaração de Mantega parece um convite aos dólares ociosos no mundo a vir para o Brasil. Outros países com a mesma dificuldade do real, como Japão, muito mais preparados que o Brasil, insinuam ações mais drásticas.



Aproxima-se o dia em que um deles, provavelmente da Ásia - Tailândia e Malásia são candidatos, segundo os especialistas -, anunciará a centralização cambial.



Novas bolhas inflando



As valorizações dos preços das commodities agrícolas e metálicas, sem nenhuma conexão com a demanda, demonstram a progressão da fuga do dólar na direção de ativos reais - tema para outra coluna.



Não é de somenos a ameaça de novas bolhas nem de inflação global, quanto mais os EUA tentem escapar da deflação. A desinflação que a China exporta há duas décadas é brinquedo perto do que pode vir.



A ata do Federal Reserve previne que novas “acomodações podem ser adequadas em pouco tempo” e que a decisão dependerá da situação da economia. Traduzindo: depois das eleições legislativas em novembro devem recomeçar as emissões para recompra de papéis do Tesouro.



O que fará o governo?



O Fed não disse quanto. Mas se pode deduzir: só o déficit fiscal de 2011 está projetado em US$ 1,15 trilhão. O certo seria cortar gasto, mas o Congresso dos EUA não aprova. Político é tudo igual.



Se a China não aprecia o renminbi para exportar menos e consumir mais. Se corte fiscal nos EUA não dá, já que agravaria a recessão. Se outros “se” são por ora inamovíveis, restam as emissões contra as quais o mundo se prepara. E nós? Com Dilma ou Serra, a resposta terá de ser rápida e contundente quando se fizer necessária.



Mais etanol nos EUA



A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, EPA, em inglês, aumentou de 10% para 15% a mistura de etanol a gasolina, mas só para carros e comerciais leves lançados depois de 2007. É um avanço importante num país viciado em petróleo mais pelo simbolismo da decisão.



O impacto será pequeno nos EUA e irrelevante para a indústria de álcool brasileira. Pelos dados da UNICA, que representa as usinas brasileiras, veículos fabricados depois de 2007 são apenas 18% da frota dos EUA. A UNICA reivindica o fim ou a redução da tarifa que tornam gravosas as exportações de etanol para os EUA.



O pleito tem a simpatia da EPA. Nos EUA, o etanol é de milho, que disputa espaço com a produção para consumo humano. O desinteresse das montadoras e o lobby dos ruralistas, porém, travam a decisão nos EUA

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Emergentes terão de "engolir" moeda forte, dizem bancos

11/10/2010 - 08h15
da Folha de São Paulo


LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Banqueiros e investidores mandaram um recado aos países emergentes e desenvolvidos após a conclusão aguada do encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional): acostumem-se ao novo equilíbrio da economia global, câmbio incluso.

"A mensagem aos emergentes é: acostumem-se com suas moedas fortes. Estamos em um mundo diferente" disse Philip Suttle, economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais).

"Os mercados veem isso, se ajustam e colocam capital nesses países. Quem tentar resistir a isso vai fracassar."

Para o diretor-presidente do fundo de investimentos Pimco, o maior na gestão de papeis emergentes, trata-se de uma nova normalidade que impõe desafios a todos.

"Isso aparece na migração acelerada das dinâmicas de crescimento e riqueza em direção aos emergentes", disse Mohamed El-Erian em apresentação do Banco Mundial.

O egípcio disse estar "impressionado" com o Brasil.

AGENDA FROUXA

A reunião do FMI terminou com uma agenda frouxa, em que a principal proposta é o monitoramento do quanto a política econômica de um país prejudica a dos demais.

Mas o modelo e a data de início não foram definidos.

O debate principal em Washington --os desequilíbrios globais e o câmbio, que opõe EUA (com desajustes fiscais) e China (com moeda subvalorizada) -- ficou inconcluso, com uma vaga expectativa de definição deixada para a reunião do G20, em novembro, em Seul.

Voz dissonante no IIF, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, enfatizou que os emergentes estão agindo no câmbio para "se proteger".

Mas o brasileiro disse depois à Folha ver risco no fato de cada pais tomar medidas de forma independente. "A otimização de cada uma das partes não vai levar à otimização do mundo, vai levar a uma confusão", disse.

Setubal afirmou que não espera "nenhum desastre" no câmbio e que a bola está nas mãos do G20. Para o banqueiro, no entanto, o Brasil terá de se acostumar com um deficit em conta corrente de até 5% do PIB (para 12 meses até julho, foi de 2,2%).

"É administrável, mas acho importante o setor público aumentar o nível de poupança para acomodar a compra de dólar e manter o nível de reservas", afirmou. Ele espera que o dólar varie entre R$ 1,70 e R$ 1,80.

REGULAÇÃO EXCESSIVA

O IIF, que reúne mais de 400 grandes bancos, reclamou do que vê como excesso de regulamentação imposto às instituições após a crise, o que, afirma, encarece o crédito e solapa a capacidade de financiar a retomada global.

"Algumas regulamentações foram longe demais", afirmou Josef Ackerman, diretor-presidente do grupo, citando o recente acordo de Basileia 3, que fixa parâmetros de alavancagem e proteção para os bancos na tentativa de evitar nova bolha.

Os banqueiros criticaram a tentativa de criar uma lista de "instituições grandes demais para falhar", que acabou fora do acordo pelo temor de que virasse uma lista negra na mira dos governos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Condenado no caso Société Générale diz que está deprimido e que pagou por todos

06/10/2010 - 08h47
da Folha de São Paulo

DA FRANCE PRESSE, EM PARIS

Um tribunal francês condenou nesta terça-feira o ex-trader do banco Société Générale Jerome Kerviel a três anos de prisão e a devolver à empresa 4,9 bilhões de euros (US$ 6,8 bilhões), valor do prejuízo que provocou à instituição, em um processo emblemático para os problemas do mercado financeiro.

O Tribunal Correcional de Paris considerou Kerviel, 33 anos, culpado de abuso de confiança, falsificação e introdução fraudulenta de dados em um sistema de informática.

Segundo a corte, que julga crimes penais, o ex-trader "não respeitou as regras de seu mandato ao tomar posições especulativas sem que o banco soubesse e em proporções gigantescas".

"Ficou claramente demonstrado que o comportamento de Jerome Kerviel e suas mentiras era tão sofisticados que o banco não podia suspeitar do que estava fazendo", afirmou Jean Veil, um dos advogados do Société.

Como havia solicitado o Société Générale durante o julgamento, que aconteceu de 8 a 25 de junho, o tribunal condenou Kerviel a devolver ao banco os 4,9 bilhões de euros --como danos e prejuízos-- que a instituição alega ter perdido por culpa do ex-funcionário.

Joel Saget/AFP

O operador financeiro Jerome Kerviel chega para a audiência no Tribunal de Paris, na França, escoltado por policial
Kerviel foi julgado por ter assumido posições financieras especulativas de bilhões de euros com operações fictícias. A acusação havia solicitado cinco anos de prisão --um em liberdade condicional-- para o jovem que se tornou um símbolo dos disparates financeiros mundiais.

O escândalo foi revelado em janeiro de 2008, meses antes da explosão da crise financeira internacional. Kerviel foi o único acusado no processo.

Após a leitura da sentença, o advogado de Kerviel, Olivier Metzner, anunciou que vai entrar com recurso por considerar o veredicto "totalmente irrefletido e inverossímil". Meztner havia solicitado a absolvição do cliente, que se declarou inocente de todas as acusações.

Durante o processo, Kerviel manteve a mesma linha de defesa: admitiu ter perdido o senso de realidade, mas repetiu que os superiores permitiam sua livre atuação e, inclusive, o estimulavam a assumir riscos desde que isso permitisse ganhos financeiros.

Mas o tribunal considerou que os elementos mencionados pela defesa não permitem deduzir que o banco Société Générale tivesse conhecimento das atividades fraudulentas.

O tribunal anunciou os três anos de prisão e mais dois de liberdade condicional. No entanto, o tribunal não decidiu por uma multa nem ordenou o envio do ex-trader de maneira imediata para a prisão.

Kerviel, que passou 38 dias em prisão provisória em 2008, se apresentou no início do julgamento como "consultor de informática" com salário mensal de 2.300 euros. Com a quantia, levaria 17.000 anos para pagar os 4,9 bilhões de euros que deve ao Société Générale.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A irresponsabilidade dos bancos centrais

30 de setembro de 2010

Paul Krugman

Parece haver atualmente dois tipos de pensadores no mundo dos bancos centrais. De um lado temos as pessoas responsáveis – aquelas que acreditam que devemos aumentar os juros diante do alto desemprego e da inflação cada vez menor porque… bem, é isso que as pessoas responsáveis fazem.

Do outro lado temos as pessoas irresponsáveis, que acreditam que os bancos centrais devem combater tanto a inflação quanto a deflação na tentativa de impedir que o declínio atual se transforme num estado semipermanente de depressão. Haverá limites para o ridículo?

Na Suécia, meu ex-colega Lars Svensson, agora trabalhando no Riksbank, está preocupado com o desejo de seus colegas de aumentar os juros diante de uma inflação muito abaixo da meta e de uma economia que ainda está longe da recuperação plena. Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Svensson é apenas um dos maiores especialistas mundiais em economia monetária, dedicando muito de seu tempo ao estudo dos problemas enfrentados pela política monetária diante do limite inferior igual a zero.

Na Grã-Bretanha, Adam Posen, do Comitê de Política Monetária, pede a adoção urgente de medidas adicionais:

Só saberemos se a flexibilização quantitativa e as outras formas de estímulo terão sido suficientes quando houver claros indicadores de que nossas medidas estão alterando as variáveis desejadas – juros do mercado, salários, produção, emprego e expectativas de inflação – suficientemente, no sentido correto e num processo sustentado.

Não acho que um banco central possa simplesmente dizer, ‘veja, expandimos nosso balanço patrimonial mais do que em qualquer outro momento da história’, ou ‘fizemos coisas que nunca tínhamos feito antes’, e com isso sugerir que já tenhamos feito o bastante ou até demais (não que o Banco da Inglaterra tenha de fato feito muito).

Na minha opinião, trata-se de um caso de lógica invertida. Equivale a dizer ‘o incêndio deve ter sido apagado, pois já usamos contra ele mais água do que em todos os incêndios anteriores’ ou ‘já devemos ter chegado ao nosso destino, pois estamos viajando há horas e já usamos um tanque cheio de gasolina’.

Mas por que deveríamos dar ouvidos a ele? Posen é apenas o maior especialista anglo-saxão na década perdida japonesa.

Ironias à parte, a ascensão do caucus da dor é realmente impressionante – sou um cínico experiente, e nem mesmo eu fui capaz de prever esta. Como destaca Posen, as principais teorias macroeconômicas – que sugerem a necessidade de muito mais estímulo, tanto fiscal quanto monetário – se sustentaram bastante bem nesta crise; acima de tudo, elas fizeram as precisões corretas a respeito da inflação e dos juros, enquanto as doutrinas subjacentes ao caucus da dor se mostraram equivocadas quanto a tudo.

Ainda assim, os “responsáveis” pela política econômica estão rejeitando as teorias que funcionam para favorecer aquelas que dão errado.