terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Telexfree: EUA negam fiança a brasileiro pego com US$ 20 milhões no colchão

Do UOL, em São Paulo
  • Divulgação/Departamento de Justiça dos EUA
    O brasileiro Cléber Rene Rizério Rocha foi preso com cerca de US$ 20 milhões sob um colchão no início do mês
    O brasileiro Cléber Rene Rizério Rocha foi preso com cerca de US$ 20 milhões sob um colchão no início do mês
A Justiça norte-americana negou o direito ao pagamento de fiança e manteve a prisão do brasileiro Cléber Rene Rizério Rocha, 28. Ele foi detido no começo do mês com cerca de US$ 20 milhões escondidos sob um colchão em um apartamento no Estado de Massachusetts.
Em audiência em uma corte federal de Boston, na última segunda-feira (23), a juíza Judith G. Dein considerou que o brasileiro apresenta risco de fuga e, por isso, determinou que ele permaneça preso, sem direito a fiança, até que um novo julgamento seja marcado.
Rocha foi preso sob a acusação de conspiração para cometer lavagem de dinheiro em um caso conectado à investigação da Telexfree. A empresa se promovia como uma companhia de internet e telecomunicações, mas era um esquema de pirâmide financeira, de acordo com investigadores.
Rocha teria ido aos EUA para tentar recuperar parte do dinheiro do brasileiro Carlos Wanzeler, cofundador da Telexfree, que fugiu para o Brasil em 2014 e não pode ser extraditado.
O advogado de Rocha argumentou, durante a audiência, que seu cliente não tinha antecedentes criminais e poderia ser libertado com monitoramento por GPS, segundo o jornal "Boston Herald". O argumento, no entanto, não foi aceito pela juíza.

Telexfree

A prisão de Rocha foi resultado de uma investigação sobre a Telexfree, uma companhia sediada em Marlborough, Massachusetts, que vendia serviços de voz sobre Internet (Voip), serviço semelhante ao Skype, e foi fundada por James Merrill, um cidadão norte-americano, junto com o brasileiro Carlos Wanzeler.
Procuradores norte-americanos disseram que a Telexfree era um grande esquema de pirâmide financeira, ganhando pouco dinheiro com a venda de serviços e fazendo milhões de dólares com milhares de pessoas que pagavam uma taxa de assinatura para serem "promotores comerciais" e publicarem anúncios online para a empresa.

Falência

A Telexfree pediu falência em abril de 2014, com dívida de US$ 5 bilhões a seus participantes, de acordo com procuradores. No total, cerca de 965 mil vítimas nos EUA, Brasil e outros países perderam US$ 1,76 bilhão com o fracasso da companhia, segundo eles.
Merril foi preso em maio de 2014 e se declarou culpado de conspiração e fraude eletrônica em outubro. Wanzeler fugiu para o Brasil em 2014 e não pode ser extraditado

Justiça brasileira

No Brasil, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas tenham investido suas economias na empresa.
A Telexfree começou a atuar no país em março de 2012 e foi proibida de operar no final de junho de 2013. Em 2015, foi considerada culpada de praticar pirâmide financeira

Clientes vão receber dinheiro de volta?

A condenação da Telexfree no Brasil abriu caminho para que quem investiu na empresa possa pedir a devolução do dinheiro, segundo a supervisora institucional da Proteste (órgão de defesa do consumidor), Sonia Amaro.
No entanto, segundo ela, não é possível dizer em quanto tempo a devolução será feita. Não dá para garantir nem mesmo que irá acontecer. Além disso, a empresa pode recorrer da decisão e, com isso, os pedidos de reembolso devem demorar mais para serem julgados. 

Como pedir reembolso?

Para pedir o reembolso, os clientes devem procurar a Justiça na cidade onde moram. É possível entrar com processos individuais ou em grupo. Caso a pessoa não tenha condições de pagar um advogado, ela pode solicitar auxílio da Defensoria Pública.
Antes de entrar com o processo, é preciso juntar documentos que comprovem vínculo com a Telexfree, como contratos, cobranças, cartas e e-mails, segundo a supervisora da Proteste. 
Os valores a serem devolvidos aos divulgadores referem-se à compra de kits e caução pagos à empresa. Do total a ser reembolsado, devem ser abatidos valores recebidos pelo divulgador como comissão de venda ou bonificação, inclusive por postagens de anúncios.

Formulário na Justiça dos EUA

A Secretaria do Estado de Massachusets disponibilizou em seu site um formulário de reclamação para pessoas que se sentiram lesadas pelas atividades da Telexfree. Além dos norte-americanos, divulgadores de outros países, inclusive o Brasil, também podem registrar suas queixas para ajudar o órgão a identificar possíveis vítimas e, eventualmente, ressarci-las no futuro.
O formulário está em inglês, e é preciso declarar dados como a quantia total investida, quando o investimento foi feito, quantos pacotes de telefonia foram comprados e quantos foram efetivamente vendidos.
O cadastro também pergunta quem indicou a Telexfree, e se o vendedor usava o serviço de VoIP oferecido pela empresa.
(Com Associated Press)

O que é lavagem de dinheiro?

Revista Superinteressante - por  Érica Montenegro

 31 out 2016

Lavagem de dinheiro é o procedimento usado para disfarçar a origem de recursos ilegais. Quando alguém ganha dinheiro de forma ilícita – por exemplo, com crimes como tráfico de drogas, contrabando, seqüestro e corrupção – não pode simplesmente sair torrando a grana. Tem de armar estratégias para justificar a fonte e, assim, evitar suspeitas da polícia ou da Receita Federal.
A expressão “lavar dinheiro” surgiu nos Estados Unidos para designar um tipo de falsificação de dólares que incluía colocar as notas na máquina de lavar para que adquirissem aparência de gastas. De lá para cá, a “lavanderia” sofisticou seus métodos. A integração do sistema financeiro mundial permite que os recursos viajem entre contas bancárias de diferentes países em questão de segundos e, assim, o dinheiro sujo acaba incorporado à economia formal.
De acordo com o FMI, de 2,5% a 5% do PIB (produto interno bruto) de cada país no mundo têm origem ilícita. No Brasil, isso equivale a um montante de 37,5 bilhões a 75 bilhões de reais.

Lavanderia nacional

Conheça os cinco jeitos mais comuns de se lavar dinheiro no Brasil
Empresas de fachada
Criminosos abrem uma empresa em nome de um laranja, num ramo que lida com bastante dinheiro em espécie, como bingo ou restaurante. O dinheiro sujo entra na conta corrente da empresa como tendo sido obtido com os serviços e, por isso, fica limpo
Vantagem: A movimentação na conta bancária de uma empresa não costuma levantar suspeitas
Pista: Movimentar somas incompatíveis com a natureza do negócio pode chamar a atenção
Empréstimos faz-de-conta
Um integrante da quadrilha pede empréstimo no banco e usa, como garantia, imóveis, investimentos ou ações obtidos com dinheiro sujo. O banco concede o empréstimo e limpa, sem querer, os recursos ilegais
Vantagem: O dinheiro originário de um banco pode ser reinvestido sem levantar suspeitas
Pista: Sucessivos empréstimos, e facilidade para saldá-los, podem levantar suspeitas
Compra de jóias, pedras preciosas ou obras de arte
Método bastante usado, já que vendedores de objetos valiosos não costumam questionar sobre a origem do dinheiro. Para limpar a grana, basta revender os quadros ou jóias
Vantagem: Em caso de fuga, esses objetos são transportados facilmente
Pista: Várias compras e revendas de objetos caros, feitas por pessoas que não podem comprovar a fonte do dinheiro
Paraísos fiscais
Criminosos compram empresas em paraísos fiscais – como são conhecidos os países que guardam sob sigilo todas as informações financeiras de quem tem conta em banco. Assim, é difícil ligar o dinheiro da empresa ao criminoso que detém as ações. Depois, basta reinvesti-lo através de bancos no Brasil
Vantagem: É muito difícil encontrar o verdadeiro dono do dinheiro
Pista: Nenhuma
Conto do bilhete premiado
Alguém com acesso ao nome dos premiados da loteria informa o criminoso, que procura o sortudo e oferece uma quantia ainda maior para comprar o bilhete
Vantagem: É um método simples, mas não pode ser usado abusivamente. Afinal, ninguém (além do ex-deputado João Alves) ganha 200 vezes na loteria
Pista: O nome de sortudos repetidos costuma ser enviado ao Ministério da Fazenda
Fontes consultadas: Paulo Falcão, delegado-chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal, e Antônio Gustavo Rodrigues, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, Ministério da Fazenda

Dicionário do dinheiro sujo

Paraísos fiscais
Países onde a tributação de renda é inferior a 20% do patrimônio. As frouxas regras bancárias atraem muitos criminosos.
Empresas offshore
São empresas de investimento – proibidas de produzir qualquer coisa no território do país onde estão – localizadas quase sempre em paraísos fiscais.
Laranja ou testa-de-ferro
Alguém que empresta/aluga seu nome para que outra pessoa movimente contas bancárias, abra empresas ou compre imóveis.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Correndo atrás das mansões de Mansur

Veículo: O ESTADO DE S. PAULO - SP
Veiculação: 08/01/2017

Justiça americana bloqueia movimentação financeira ligada a ex-dono do Mappin

Dezoito anos após a falência das lojas Mappin e Mesbla, investigadores privados conseguem as primeiras evidências de que Ricardo Mansur possui bens não declarados no exterior. Assinaturas do empresário em movimentações de contas bancárias em nome de uma empresa com sede nos Estados Unidos foram consideradas indícios suficientes pelo juiz americano da Corte de Falências da Flórida, Ro-bert Mark, para determinar o bloqueio de qualquer movimentação financeira direta ou indiretamente ligada a Mansur. O juiz deu ainda poderes para que o síndico da massa falida no exterior, o advogado Afonso Braga, investigue o empresário.
Na prática, com essa decisão, os investigadores privados que fazem o trabalho para os credores do Mappin terão agora poder de polícia para ir atrás de bens não declarados de Mansur. Além disso, qualquer pessoa que movimentar recursos que, de alguma forma, sejam usufruídos por ele - ou seja, "laranjas" -estará descumprindo uma decisão judicial e, portanto, sujeita a prisão. É como se o juiz tivesse cortado o cartão de crédito de Mansur.
De acordo com algumas fontes, diante dessa decisão que bloqueou o acesso ao dinheiro, Mansur teria deixado os Estados Unidos, onde estaria morando, e voltado ao Brasil. Seu advogado, Rodrigo Rocha Leal Gomes de Sá, garante, no entanto, que o empresário mora em São Paulo. Diz ainda que todos os bens de Mansur já foram entregues à Justiça, bloqueados na falência do Crefisul, o banco que pertencia ao empresário. Gomes de Sá também disse desconhecer a decisão da Justiça americana.
A mansão em que os investigadores acreditam que Mansur estaria vivendo ocupa uma área de 3,5 mil metros quadrados na North Bay Road, um dos endereços mais luxuosos de Miami. Até pouco tempo atrás, o ator hollywoodiano Matt Damon tinha casa na região, assim como a cantora Shakira. Eram mansões de valores na casa dos US$ 20 milhões. A suposta casa de Mansur é mais modesta que a dos vizinhos famosos. Ela tem "apenas" 600 metros quadrados e vale cerca de US$ 6 milhões (ou cerca de R$ 20 milhões). A casa possui sete quartos, cinco banheiros e uma ampla piscina. Não está no nome de Mansur, mas o objetivo dos investigadores agora é justamente provar que a residência pertence ou pertenceu ao empresário.
Além da mansão em North Bay Road, os investigadores também encontraram indícios de que Mansur pode ser dono de um apartamento de 500 metros quadrados, em um prédio de frente para o mar, em Bal Har-bour, região que abriga os mais luxuosos hotéis de Miami e que custa por volta de US$ 4,5 milhões.
A lista de bens encontrados em Miami também inclui 15 carros de luxo que pertencem à empresa Society Retail & Auction. Foi nesta empresa que o juiz determinou o congelamento da conta bancária, que traria indícios fortes de pertencer a Man-sur, apesar de estar em nome de terceiros. Os carros são do quilate de um Cadillac Escalade 2016, que no Brasil custa porvol-ta de R$ 600 mil, ou de um Rolls-Royce Phantom 2012, que segundo o site Webmotors pode custar mais de R$ 3,5 milhões.
Além do processo nos Estados Unidos, os credores do Mappin também entraram com um pedido nas cortes inglesas, segundo o síndico da massa falida no Brasil, Nelson Carmona. Os casos correm em segredo de Justiça, mas são conhecidos alguns bens que o empresário possuía em Londres, como mansões em Kensington. O site Airbnb diz que Kensington "pode ser resumida por uma palavra: elegância". Uma das casas de Mansur era na verdade um palácio, o Vitoria Palace, que teria sido vendido no ano 2000 por US$ 45 milhões.
A venda do palácio foi logo na sequência da declaração da falência das lojas Mappin e Mesbla, que quebraram em julho de 1999. Naquele ano também faliu o banco Crefisul e outras empresas do grupo, como a holding Bar-nett. Antes de quebrar, Mansur era conhecido como o rei do varejo. Quando comprou as lojas Mappin e Mesbla, tinha por estratégia construir um império das vendas de varejo, com estratégia de comprar em grande quantidade todo tipo de produtos para vender a preços altamente competitivos. Mas as lojas, que já tinham dificuldades financeiras quando foram adquiridas, conforme conta um advogado ligado a Mansur na época, acabaram tendo problema de crédito.
Mansur acusou o Bradesco de ter sido o responsável pela falência, justamente por ter deixado de conceder crédito. O empresário processou o banco, pedindo uma indenização milionária. O caso foi julgado em primeira instância contra Mansur, por questões processuais, e o mérito do pedido de indenização sequer foi analisado, segundo Gomes Leal. O litígio hoje está emjulga-mento no Superior Tribunal de Justiça, que deve analisar a questão no dia 05 de fevereiro. A decisão do STJ pode extinguir de vez o processo ou então mandar retornar o caso à primeira instância para que o juiz analise a chamada questão de mérito - ou seja, se Mansur teria direito a indenização. Procurado, o Bradesco afirmou que não comentaria o assunto.
Há mais de cinco anos, Mansur foi condenado pela Justiça Federal a 11 anos de prisão por gestão fraudulenta, mas ele recorreu e até hoje o recurso não foi julgado. Com a demora para julgar o caso, a pena do empresário prescreveu.
Quanto à falência de suas empresas, apesar de já ter acontecido há quase 18 anos, até hoje o quadro geral de credores do Mappin, por exemplo, não foi sequer divulgado. Isso significa que o valor devido aos credores não é conhecido. No processo judicial nos Estados Unidos, o síndico da falência no exterior, Afonso Braga, alegou que apenas o rombo fiscal soma pelo menos R$ 350 milhões. Esse foi um dos argumentos para convencer o juiz a bloquear as contas das empresas que são suspeitas de pertencer a Mansur. Braga não quis dar entrevista porque, apesar de o processo na Flórida ser público, ele diz que as investigações são sigilosas.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Lavagem da Telexfree> brasileiro guardava US$ 20 milhões em colchão

por Assem Neto
 
6 de janeiro de 2017

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Procuradores federais dos Estados Unidos anunciaram na quinta-feira que apreenderam US$ 20 milhões dentro de um colchão que seria de um brasileiro. Segundo as autoridades norte-americanas, Cléber Rene Rizério Rocha, de 28 anos, foi preso no mesmo apartamento, em Massachusstes, onde o montante foi descoberto. Rocha é acusado de lavagem de dinheiro em um esquema multibilionário de fraudes que envolve a TelexFree, uma empresa de telefonia por internet (Voip), acusada de promover pirâmides financeiras.
De acordo com a investigação norte-americana, Rocha atuava como mensageiro do sobrinho do brasileiro Carlos Wenzeler, sócio da TelexFree. No dia 31 de dezembro, Rocha chegou aos Estados Unidos e entregou uma maleta com US$ 2,2 milhões a uma pessoa que colabora com as investigações da procuradoria de Boston. Depois desse encontro, agentes federais seguiram Rocha até um apartamento em Westborough, em Massachusetts, onde o brasileiro foi detido. Após a prisão, os investigadores voltaram ao imóvel e descobriram o dinheiro. O próprio brasileiro afirmou que o montante chegava a US$ 20 milhões.