terça-feira, 25 de agosto de 2009

Governo americano rastreia operações suspeitas de Dantas

25/08/2009 - 04h15

da Folha Online


O investigador do Departamento de Justiça dos Estados Unidos Kenneth Lyn Counts afirmou, em testemunho à Corte de Justiça do Distrito de Columbia, em Washington (EUA), ter obtido indícios de que o banqueiro Daniel Dantas fez uma série de operações financeiras, fora do Brasil, de forma a "evitar revelar os verdadeiros proprietários" de US$ 242 milhões transferidos do Opportunity Fund, no paraíso fiscal das ilhas Cayman, informa reportagem de Rubens Valente, publicada nesta terça-feira pela Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal).

Counts, ex-agente especial do Programa de Crime de Colarinho Branco do FBI, com 23 anos de experiência, foi encarregado pela Seção de Bloqueio de Bens e Lavagem de Dinheiro da Divisão Criminal do Departamento de Justiça dos EUA de averiguar as informações enviadas pelo delegado da Polícia Federal Ricardo Saadi, coordenador da Operação Satiagraha.

Segundo a reportagem, o principal foco da investigação é a "Conta Tiger Eye", custodiada nos EUA pelo BBH (Brown Brothers Harriman) e sobre a qual haveria "motivo para acreditar" que seja controlada pelos irmãos Dantas. Em 31 de dezembro de 2008, essa conta mantinha US$ 450 milhões. Ela foi fundada com um depósito inicial de US$ 56 milhões feito pela empresa Tiger Eye Investment.

Outro lado

O Opportunity, por meio de sua assessoria de imprensa, nega as irregularidades. O banco informou que a gestão do Opportunity Fund, nas ilhas Cayman, fica a cargo de uma empresa específica, chamada de "agente de registro e transferência" (RTA), que "só aceita aplicações" de bancos baseados em países "que possuem legislação e procedimentos" de combate à lavagem de dinheiro.

De acordo com o banco, "a captação dos clientes do Opportunity Fund, pessoas físicas e jurídicas, é feita por bancos estrangeiros. Os dados são mantidos pelo RTA do fundo, também situado em Cayman".

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O lucro dos bancos americanos: maquiagem & pilhagem do povo

O lucro dos bancos americanos: maquiagem & pilhagem do povo

Os EUA têm, atualmente, um trabalhador empregado para cada cinco que estão desempregados ou subempregados. A produção continua a cair. No entanto, de repente, alguns grandes bancos anunciam lucros colossais no primeiro trimestre e prometem farta distribuição de bônus a acionistas e executivos. Eis aqui alguns fatos por trás dessa mágica de bancos falidos

CARLOS LOPES

Em artigo no último dia 17, o economista norte-americano Paul Krugman abordou o lucro do Goldman Sachs, único “banco de investimento” (ou seja, banco puramente especulativo) que restou em Wall Street depois de iniciada a atual crise, com a quebra do Lehman Brothers, em 15 de setembro do ano passado. Diz Krugman:

“A economia norte-americana continua em horrendo aperto, com um trabalhador empregado para cada seis desempregados ou subempregados. Apesar disso, o Goldman Sachs anunciou lucros trimestrais recordes e prepara-se para distribuir bônus muito maiores do que aqueles que estava pagando antes da crise. O que pode nos dizer esse contraste?” Primeiro, ele nos diz que o banco é muito bom naquilo que faz. Infelizmente, o que ele faz é ruim para os EUA.

“Segundo, ele mostra que os maus hábitos de Wall Street - sobretudo o sistema de compensação que ajudou a causar a crise financeira - ainda não foram eliminados.

“Terceiro, ele mostra que, ao socorrer o sistema financeiro sem reformá-lo, Washington não fez nada para nos proteger de uma nova crise, e, de fato, não tomou qualquer atitude que protegesse os cidadãos da crise e, na verdade, tornou mais provável outra crise” (Paul Krugman, “Goldman Sachs’ profits prove that bad Wall Street habits die hard”, The New York Times, 17/07/2009).

O Goldman Sachs foi o primeiro banco dos EUA a anunciar lucro neste trimestre - e nada menos do que o maior lucro que já auferiu num trimestre desde que foi fundado, há 140 anos: US$ 3,4 bilhões. Além disso, segundo o “The New York Times”, o banco prometeu, até o fim do ano, distribuir bônus no valor total de US$ 11,4 bilhões aos acionistas e aos seus 30 mil funcionários.

Depois do Goldman Sachs, os bancos “comerciais” - o JPMorgan Chase também divulgou um lucro recorde, o Bank of America e o Citigroup divulgaram um lucro menor, mas nada desprezível.

Um sinal de que algo está errado nesses números é que as ações desses bancos, ao invés de se valorizarem nas Bolsas de Valores dos EUA, despencaram com o seu anúncio. Especuladores percebem quando seus colegas estão tentando vender a ponte de Brooklin ao público. Portanto, desconfiaram que esses lucros eram algo semelhantes aos resultados do afamado Madoff – que, por sinal, chegou a presidente da Nasdaq, a Bolsa das empresas do setor eletrônico.

Krugman, que não está completamente isento de responsabilidade pelas ilusões financeiras que desembocaram na crise atual - não se ganha um Prêmio Nobel de Economia, nem se é colunista do “The New York Times”, remando completamente contra a maré ideológica monopolista - faz uma colocação genérica, embora importante, sobre o assunto:

“Os imensos bônus que o Goldman distribuirá em breve mostram que os gananciosos da indústria financeira estão ainda operando sob um sistema em que eles, em cima, sempre ganham, e as outras pessoas, embaixo, sempre perdem. Se você é um banqueiro e gera grandes lucros de curto prazo, sempre conseguirá ser prodigamente recompensado – e não tem que devolver o dinheiro se e quando aqueles lucros se mostrarem uma miragem. Você terá toda razão, portanto, para manipular investidores a arcarem com riscos que não entendem.

“E os acontecimentos do ano passado têm mesmo deformado mais esses incentivos, colocando na forca os contribuintes, tanto quanto os investidores, se as coisas dão errado”.

O problema é que Krugman se queixa inutilmente, uma vez que também diz que não havia outra saída, senão locupletar os bancos com bilhões (na verdade, trilhões) de dólares de dinheiro público:

“Você pode argumentar que tais resgates eram necessários, se queremos evitar um replay da Grande Depressão. De fato, eu concordo”.

Entretanto, mais interessante é a continuação:

“Mas o resultado é que os passivos do sistema financeiro estão agora lastreados por uma implícita garantia governamental”.

Certamente, esse é o problema – e, também, é a origem dos lucros anunciados pelos bancos dos EUA, no mesmo momento em que o emprego e a produção desabam e não param de desabar. Vejamos apenas três fatos, embora, em se tratando de privilégios para os bancos, parece existir uma verdadeira miríade deles nos EUA de hoje.

MAQUIAGEM

Em abril deste ano, o Financial Accounting Standards Board, o órgão que estabelece as normas dos balanços das empresas nos EUA, cedeu ao lobby dos bancos e permitiu que eles pudessem desobedecer à regra do “fair value” (também conhecida por “market to market”).

O que era a regra do “fair value” (algo que pode ser traduzido como “valor justo”)? A obrigação que têm as empresas com ações negociadas nas Bolsas de Valores dos EUA de contabilizarem seus ativos a preços de mercado. Em outras palavras, a contabilidade não pode (ou, melhor, não podia) ser feita com o valor nominal de títulos que no mercado financeiro valem muito menos. Pelo contrário, era obrigatório que esses títulos fossem contabilizados pelo “valor de mercado” e não pelo “valor de face”, que é puramente nominal, isto é, não é real.

Com a decisão do Financial Accounting Standards Board, desde abril os bancos dos EUA não estão mais obrigados a lançar no balanço os valores de uma série de ativos em “preços de mercado”. Entre esses ativos, naturalmente, estão os créditos para a habitação, os títulos sobre hipotecas que foram ao fundo do poço no último trimestre do ano passado. Em poucas palavras, os balanços e a contabilidade dos bancos se tornaram, em boa parte, uma produção da Disneylândia.

O próprios funcionários dos bancos declararam, na época dessa alteração, que seu resultado prático seria “aumentar os lucros em 20%”. Se esse é o cálculo que divulgaram – sob o pretexto de que tal aumento, apesar de fictício, ajudaria a economia a recuperar-se – pode-se inferir com alguma segurança que essa maquiagem do balanço proporcionou aumentos ainda maiores nos números dos lucros bancários.

Porém, o Financial Accounting Standards Board não ficou nisso. Também aprovou que os bancos pudessem fazer tal alteração já nos balanços do primeiro trimestre, apesar desse trimestre já ter se encerrado na data da decisão (cf. Monitor Mercantil, 02/04/2009).

DINHEIRO PÚBLICO

Não nos referimos primeiramente ao dinheiro público injetado no sistema financeiro dos EUA, porque tal fato é mais conhecido. Em maio, o “The Wall Street Journal” já avaliava o montante colocado pelo governo nos bancos e demais instituições financeiras em US$ 14,9 trilhões, portanto, mais do que o próprio PIB dos EUA (cf. “U.S. Rescue Aid Entrenches Itself”, The Wall Street Journal, 21/05/2009).

Portanto, Krugman tem razão, ao dizer:

“O que está claro é que Wall Street, de maneira geral, e o Goldman, em particular, se beneficiaram demasiado do programa de socorro do governo norte-americano – com a garantia de que grandes instituições financeiras receberão ajuda caso algo dê errado”.

Em suma, os bancos dos EUA simplesmente eliminaram o lixo antigo que tinham nos balanços, usando dinheiro público. Portanto, fizeram isso às custas da população. O que não é garantia, como nota Krugman, de que a crise passou, nem mesmo a própria crise bancária:

“Se os esforços dos lobistas forem bem sucedidos, teremos criado o cenário para um novo desastre financeiro que irá acontecer em pouquíssimos anos. A próxima crise poderia ser algo como a bagunça das poupanças e dos empréstimos dos anos 80, época em que bancos desregulamentados brincavam com o sistema financeiro e, às vezes, roubavam o dinheiro dos contribuintes”.

De nossa parte, achamos otimista a estimativa de “pouquíssimos anos”, assim como a descrição de que os bancos “às vezes” roubavam o dinheiro dos contribuintes. A rigor, eles não estão fazendo outra coisa.

GARANTIA DO GOVERNO

Entretanto, isso não é tudo. Em novembro, portanto antes da posse do atual presidente dos EUA, o governo norte-americano instituiu o “Term Liquidity Guarantee Program” - TLGP (Programa de Garantia de Liquidez a Termo), através da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), a agência do governo encarregada dos seguros de depósitos.

Esse programa foi mantido pelo atual governo. Seu conteúdo é simples: o governo passou a dar garantia aos títulos de dívida emitidos por bancos e grandes empresas. Até um articulista do insuspeito (nesse caso) “The Wall Street Journal” escandalizou-se, na edição do último dia 28:

“É um presente que não acaba mais.

“(....) O Citigroup economizou quase US$ 600 milhões no último trimestre com os US$ 44,6 bilhões em títulos de médio prazo que emitiu com garantia do programa, ou cerca de 14% de seu lucro de US$ 4,28 bilhões.

“O Goldman Sachs Group Inc., que divulgou lucro trimestral de US$ 3,44 bilhões, reduziu os custos de captação em US$ 205,5 milhões por trimestre emitindo títulos com a assistência do governo, em vez de por conta própria. ‘Não dá para ignorar o TLGP quando você analisa os resultados dos bancos’, diz Daniel Alperto, diretor-gerente do banco de investimentos Westwood Capital LLC. ‘[o TLGP] reduziu o custo de financiamento deles e garantiu que o mercado contasse exatamente com a liquidez de que necessitava’.

“Desde então as empresas já emitiram US$ 339 bilhões em títulos com os mais variados vencimentos sob o TLGP.

“Um exemplo dos custos de financiamento menores propiciados pela assistência do governo americano: em 25 de novembro o Goldman emitiu US$ 5 bilhões em títulos com vencimento em junho de 2012. O título tinha juro anual de 3,25%. No mesmo dia em que os títulos garantidos pelo governo foram vendidos, a dívida do Goldman a vencer em setembro de 2012 era negociada no mercado aberto com juros de 8,15%. (....) No total, o Goldman deve embolsar uns US$ 2,33 bilhões com os juros menores de todas as dívidas que emitiu com garantia do governo.

“A FDIC terá de arcar com a despesa se qualquer uma dessas empresas não pagar as dívidas, mas isso é considerado uma possibilidade remota se a economia não piorar muito mais” (Mark Gongloff, “Banks Profit From U.S. Guarantee”, The Wall Street Journal, 28/07/2009).

DRENAGEM

Desse jeito, com tanto dinheiro, tanta proteção e tantas garantias, não há como não lucrar - mas isso significa que o lucro foi obtido, além da maquiagem dos balanços, com uma drenagem monstruosa dos recursos da população norte-americana, e, realmente, não apenas da população norte-americana. Também significa que, se essa drenagem se tornar insustentável politicamente, os lucros vão acabar rápido.

Essa parece ser, inclusive, a tendência principal. A revolta geral nos EUA, constatada por vários observadores, em relação aos privilégios concedidos aos bancos, que já era grande, está crescendo cada vez mais. Não é para menos, diante dessa descrição de Krugman, um homem muito longe de qualquer coisa que possa ser intitulada como “esquerda”:

“Ao longo da última geração - depois da desregulamentação bancária dos anos Reagan - a economia dos EUA tem sido “financeirizada”. O negócio de movimentar dinheiro para todos os lados, de fatiar, de picar e reembalar títulos financeiros, subiu muito em importância, comparado com a produção real de bens materiais úteis. O setor oficialmente rotulado como ‘títulos financeiros, contratos de commodities e investimentos’ cresceu excepcionalmente rápido, de somente 0,3% do PIB dos EUA no final da década de 70 para 1,7% do PIB em 2007.

“Tal crescimento seria bom se a financeirização realmente cumprisse com suas promessas – se as instituições financeiras ganhassem dinheiro pelo direcionamento do capital para seus usos mais produtivos, desenvolvendo meios novos de diluir e reduzir os riscos. As instituições financeiras, nós sabemos agora, direcionaram vastas quantidades de capital para a construção de casas invendáveis e shopping centers vazios. Elas aumentaram o risco ao invés de diminuí-lo, e concentraram esse risco, ao invés de dilui-lo. Com efeito, a atividade [financeira] estava vendendo drogas perigosas para consumidores incautos.

Note-se que durante muito tempo os economistas conservadores, inclusive os keynesianos do tipo de Krugman - isto é, keynesianos do tipo imperialista - sempre rejeitaram falar em “financeirização” da economia. Somente Marx abordou o problema, com seu conceito de “capital fictício” - e Marx, para esses economistas, era um espectro a rondar as suas academias.

Portanto, não deixa de ser um avanço que alguns deles, agora, em meio à catástrofe, reconheçam pelo menos uma parte do problema. Mas, provavelmente, qualquer um poderia chegar facilmente a essa conclusão depois do que houve a partir do último trimestre do ano passado. O impressionante é que foi necessária uma catástrofe para que eles reconhecessem o óbvio – o parasitismo, saque, pilhagem que se constitui no centro da vida econômica dos EUA.

Nesse sentido, é interessante a descrição que Krugman faz do Goldman Sachs:

“O papel do Goldman na financeirização dos EUA foi similar àquele de outros jogadores, exceto por uma coisa: o Goldman não acreditava em seu próprio entorpecente. Outros bancos investiram pesadamente no mesmo tóxico devastador que estavam vendendo por atacado ao público. O Goldman, notoriamente, ganhou montes de dinheiro vendendo títulos lastreados por hipotecas subprime, e depois ganhou mais dinheiro ainda vendendo títulos lastreados por hipotecas de curto prazo, pouco antes de seu valor desabar. Todas essas operações foram perfeitamente legais, mas o resultado foi que o Goldman fez seus lucros transformando o resto de nós em otários”.

Por último, Krugman faz uma observação reveladora do que pode ser esperado do futuro imediato, exceto se a equipe econômica do governo Obama, quase toda originária da Kissinger Associates - um sub-ramo ideológico dos Rockefellers - mudar de rumo, o que é difícil, ou a própria equipe econômica for mudada, o que é mais fácil.

“Vale lembrar que a última expansão equiparável da rede de proteção ao sistema financeiro foi a criação do seguro federal de depósitos, na década de 30, e regulado por leis muito mais rígidas. O intuito era proteger os bancos sem que eles abusassem de seus privilégios. Desta vez, novas regras ainda estão sendo rascunhadas e o lobby financeiro já está lutando contra as mais elementares regras de proteção ao consumidor”.

A paciência do consumidor e do contribuinte – isto é, do povo -, mesmo nos EUA, não é infinita. E, também, o governo Obama, por mais que seja temeroso, não é o governo Bush. Evidentemente, continuar nesse caminho, por mais que em algumas áreas sejam tomadas medidas progressistas e populares, é o chamado suicídio político.

Hora do Povo, 5.8.2009

Justiça bloqueia bens do clã Maluf

quarta-feira, 5 de agosto de 2009, 22:28 | Online



Veículos, joias, imóveis e aplicações financeiras da família do ex-prefeito estão indisponíveis
Bruno Tavares e Marcelo Godoy, de O Estado de S.Paulo Tamanho do texto? A A A A
SÃO PAULO - A 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo concedeu liminar em ação civil proposta na segunda-feira, 3, pelo Ministério Público Estadual e bloqueou os bens do ex-prefeito e atual deputado Paulo Maluf (PP-SP), de sua mulher Silvia e dos filhos do casal, Flávio, Lina Otávio e Lígia.

A decisão também atinge Jacqueline de Lourdes Coutinho Torres, ex-nora de Maluf, e o jordaniano Hani Bin al Kalotni, administrador de fundos na Ilha de Jersey, paraíso fiscal onde Maluf manteria contas e ações.

Todos estão com seus veículos, joias, imóveis e dinheiro em aplicações financeiras - incluindo cadernetas de poupança - indisponíveis. O saldo das contas correntes dos acusados que exceder R$ 5 mil também deve ser bloqueado. A Justiça estendeu o bloqueio aos bens das empresas Macdoel Investiment, Kildare Finance e Durant International Corporation, todas offshore que teriam sido usadas no suposto esquema de lavagem de dinheiro desviado da prefeitura de São Paulo durante a gestão Maluf (1993-1996).

O juiz Alessio Martins não concedeu, entretanto, o bloqueio dos bens da Eucatex, empresa controlada pela família Maluf e suposta beneficiária de US$ 166 milhões desviados, sob a alegação de que a medida poderia levar à falência da empresa, provocando dano irreparável antes que o mérito da ação fosse julgado.

O magistrado assinalou que, se decretada, a medida contra a Eucatex poderia prejudicar eventual ressarcimento aos cofres públicos, além de comprometer a credibilidade e até o crédito da empresa em relações comerciais e bancárias. A Eucatex segue desde 2005 plano de recuperação judicial homologado pela Justiça.

A ação proposta pelos promotores Silvio Antonio Marques e Saad Mazloum, da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da capital, pedia o bloqueio dos bens para garantir o ressarcimento dos cofres públicos.

A Eucatex teria sido beneficiada pela suposta propina paga por empreiteiras responsáveis pelas obras da Avenida Água Espraiada (atual Avenida Jornalista Roberto Marinho) e do túnel Ayrton Senna, ambos na zona sul da capital. Documentos anexados à ação movida pelo advogado inglês Andrew Witts, contratado pela prefeitura, mostrariam o "caminho do dinheiro".

Só entre os dias 8 e 28 de janeiro de 1998, a construtora Mendes Júnior teria repassado US$ 11 milhões ao ex-prefeito e seu filho Flávio. Segundo a acusação, a quantia seguiu para a conta Chanani, no Banco Safra de Nova York, sendo remetida depois para as offshore Durant e Kildare, na Ilha de Jersey.

Os promotores sustentam que, entre 1997 e 1998, parte desse dinheiro retornou para a Eucatex disfarçado de investimento - empréstimos, compra de ações e adiantamento de contratos de exportação.

Os promotores pretendem recorrer da decisão da 4ª Vara da Fazenda Pública, reiterando a necessidade de bloquear bens e recursos da Eucatex. O juiz decretou ainda segredo de Justiça no caso, a fim de garantir que apenas as partes tenham acesso à quebra de sigilo.

Resposta

Por meio de sua assessoria de imprensa, Maluf afirma que "não tem e nunca teve contas no exterior". A construtora Mendes Júnior, citada na ação em tramitação em Jersey, informou não ter conhecimento dos fatos mencionados. Informa que "não faz nem nunca fez recebimentos ou pagamentos que não sejam rigorosamente legais e transparentes". Frisa ainda que "a movimentação de recursos do grupo no Brasil e no exterior é realizada de acordo com a legislação brasileira e dos países em que se instala".

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ministério Público entra com ação contra Paulo Maluf para devolução de R$ 300 milhões aos cofres públicos

03/08/2009 - 20h40


Do UOL Notícias

Em São Paulo

O Ministério Público, por meio da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social, ajuizou no início da noite desta segunda-feira (3) ação civil pública contra o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, pedindo a devolução de mais de R$ 300 milhões.
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Segundo a ação, a quantia foi desviada em superfaturamento de obras públicas, ilegalmente remetida ao exterior e utilizada para a compra de ações da Eucatex, em um esquema fraudulento envolvendo doleiros e "laranjas".
Acusação alcança membros da família Maluf

Investigação tem 55 mil documentos, em 277 volumes, e denuncia superfaturamento de preços das obras da avenida Água Espraiada (Jornalista Roberto Marinho) e do Túnel Ayrton Senna, durante a gestão Maluf na Prefeitura de SP (1992-96)
SP pede retorno de US$ 22 mi que seriam de Maluf
Pitta e corretoras são alvos de ação para restituir R$ 40 mi à Prefeitura de São Paulo
Paulo Maluf lidera "corruptômetro" do Ministério Público; Pitta é vice


A ação é proposta ainda contra a mulher de Maluf, Sylvia; os filhos Flávio, Otávio, Lígia e Lina; a ex-nora Jacquelline de Lourdes Coutinho Torres, ex-mulher de Flávio; três empresas off-shore sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas, e a Eucatex, empresa da família Maluf. O suposto esquema é investigado pelo Ministério Público desde julho de 2001.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, Paulo Maluf declara que "não tem e nunca teve conta no exterior" e que o aumento de capital da Eucatex "foi feito em 1997, de forma legal e juridicamente perfeita, e aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários". "Esta ação é mais uma invencionisse do promotor Sílvio Marques", diz o texto.

Na ação, os promotores de Justiça Sílvio Antonio Marques e Saad Mazloum afirmam que, entre 1993 e 1998, o hoje deputado federal Paulo Maluf desviou cerca de US$ 160 milhões dos cofres públicos municipais, por meio de superfaturamento de preços das obras da avenida Água Espraiada (hoje avenida Jornalista Roberto Marinho) e do Túnel Ayrton Senna, ambas realizadas quando Maluf era prefeito de São Paulo (1992-96). Segundo a promotoria, Maluf recebeu recursos indevidamente até dois anos depois de ter deixado o cargo.

Maluf diz que "nunca teve conta no exterior" e a ação contra ele é mais uma "invencionisse"
UOL Notícias


Dinheiro no exterior
De acordo com o Ministério Público, o dinheiro foi remetido ilegalmente para contas secretas no exterior, especialmente em bancos dos Estados Unidos, Suíça, Inglaterra, Ilhas Jersey, França e Luxemburgo, por meio de empresas offshore controladas por familiares de Maluf. Entre 1997 e 1998, a maior parte desse dinheiro retornou ao Brasil, na forma de investimento.

Documentos enviados pelos países em que as operações foram realizadas mostram, segundo o MP, que fundos de investimento controlados pelas empresas offshore da família Maluf adquiriram ações da Eucatex. Outros valores foram repatriados por meio de empréstimo, compra de valores mobiliários e pagamento de adiantamento a contrato de exportação, todos favorecendo a empresa. A operação movimentou mais de US$ 165 milhões, cerca de R$ 310 milhões.

A movimentação foi rastreada com a colaboração de governos estrangeiros, por meio de cooperação jurídica internacional. Na ação, os promotores pedem a repatriação e devolução desse valor, bem como o congelamento de bens dos envolvidos no Brasil e nas Ilhas Jersey.