quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

UBS - Maior banco suíço paga US$ 780 mi e revela sonegadores

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009, 11:03

UBS foi multado nos EUA por ajudar titulares de conta a migrar para paraísos fiscais e sonegar impostos
Efe Tamanho do texto? A A A A
BERNA, Suíça - O UBS, maior banco da Suíça, vai pagar multa de US$ 780 milhões ao fisco dos EUA por ajudar cerca de 250 titulares de conta a sonegar impostos. A instituição se comprometeu ainda a revelar a identidade dos envolvidos. Nesta quinta-feira, 19, o presidente da Suíça, Hans Rudolf Merz, disse que o sigilo bancário continuará intacto no país, apesar do caso UBS, porque "essa é a vontade do governo" suíço. Merz informou ainda que o país tenta evitar possível indiciamento do UBS em processo nos EUA.

Apesar de o acordo extrajudicial ter sido aceito por um juiz federal de Fort Lauderdale, na Flórida, a possibilidade de indiciamento poderia no pior cenário ameaçar a existência do UBS, algo que o governo suíço quer evitar a todo custo. Merz disse que o UBS é de grande importância para a economia suíça.

Segundo a promotoria dos EUA, "os banqueiros viajaram frequentemente aos Estados Unidos para vender o sigilo bancário suíço a clientes americanos interessados em tentar sonegar impostos de renda". Usaram celulares com códigos cifrados e outras medidas para a proteção de dados, com o objetivo de esconder suas atividades e a identidade dos clientes, indicaram as autoridades americanas.

O governo baseou grande parte de sua investigação nas revelações do ex-banqueiro do UBS Bradley Birkenfeld. Em 19 de junho de 2008, Birkenfeld se declarou culpado de ajudar americanos ricos a ocultar seus bens através da criação de empresas ou contas "fantasmas" em paraísos fiscais.

Os americanos não eram identificados como beneficiários dessas empresas e não declaravam o dinheiro ao fisco. Birkenfeld explicou que essas contas contêm US$ 20 bilhões que geram receitas anuais de US$ 200 milhões ao banco. Como parte do acordo, o UBS se comprometeu a fechar os negócios.

A lei americana obriga os cidadãos a informar de suas contas no exterior se estas ultrapassarem o valor de US$ 10 mil. Alexander Acosta, promotor do Distrito Sul da Flórida, disse que os diretores do UBS sabiam que essas atividades violavam a lei, mas não fizeram nada para impedir.

Birkenfeld será sentenciado em 1º de maio. Além disso, o executivo do UBS Raoul Weil foi acusado de supervisionar a fraude e foi declarado foragido da lei. O fisco busca, agora, os titulares das contas.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Britânico que perdeu poupança no caso Madoff se suicida

Ele descobriu que toda sua poupança, estimada em US$ 1 milhão, havia sido colocada no fundo de Madoff

Mary Jordan, do The Washington

LONDRES - Um ex-soldado britânico se matou após perder a poupança acumulada durante toda a vida, no alegado esquema de fraude de US$ 50 bilhões do financista Bernard Madoff.

William Foxton, 65 anos, um soldado condecorado que perdeu um braço durante seu serviço militar e trabalhou em missões humanitárias da Organização das Nações Unidas, morreu vítima de um tiro na cidade inglesa de Southampton, segundo informes policiais.

Ele aparentemente caminhou até um parque nas imediações da cidade, sentou-se num banco e se matou.

O filho de Foxton, Willard, disse aos jornalistas que seu pai descobrira recentemente que toda sua poupança, estimada em US$ 1 milhão, que ele investia em fundos hedge, havia sido colocada no fundo de Madoff.

Foxton havia retornado recentemente do Afeganistão, onde trabalhava como um contratado de defesa, quando ficou sabendo que suas poupanças estavam vinculadas a Madoff. O administrador financeiro está em prisão domiciliar em Nova York desde dezembro, acusado de gerir um enorme esquema de pirâmide financeira em escala global.

"Eu desejo que Madoff e outros envolvidos saibam que têm o sangue de meu pai nas mãos", teria dito Willard Foxton. "Fiquei furioso. Meu primeiro pensamento foi aparecer no julgamento de Madoff em Nova York e atirar as medalhas de meu pai no seu rosto."

Um vizinho disse numa entrevista telefônica no sábado que a esposa e os amigos de Foxton estavam desconsolados. Foxton trabalhou em Kosovo e fez muitas obras boas, disse o vizinho, que pediu para não ser nomeado.

Em certa ocasião, Foxton salvou uma criança num campo minado da antiga Iugoslávia e por isso foi condecorado pela rainha Elizabeth II, segundo notícias da imprensa confirmadas pelo vizinho.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Operador da Bolsa que afundou a Société Générale é convidado para dar aulas em Harvard

5/2/2009 - UOL Notícias / El Pais


Por: Antonio Jiménez Barca




Há um ano Jérôme Kerviel, um sujeito obscuro de inteligência média-alta, de 32 anos, com um certo ar de Tom Cruise, que não se destacou em nada, nem na escola nem em qualquer outro lugar, se transformava no personagem mais procurado da França. Em 24 de janeiro de 2008, quando a economia mundial começava a despencar, o presidente do banco em que Kerviel trabalhava, a Société Générale, confessou que o operador da Bolsa tinha criado um buraco de 4,9 bilhões de euros ao comprar e vender ações sem rede de segurança e sem autorização.

Um ano depois, Kerviel não é o mesmo homem desconhecido de ar confuso: mudou de advogado, enfrentou a instrução de seu caso, que está quase terminando, e acusou sua antiga empresa de fazer vista grossa e deixá-lo em paz enquanto ganhava dinheiro. Não só isso. Deixou-se retratar de braços cruzados e olhar desafiador, mais parecido que nunca com Tom Cruise. Além disso, recebeu ofertas de Harvard para dar cursos e de marcas de carros e de roupas para estrelar campanhas de publicidade.

Quem é ele na realidade? Como tudo começou?

Há alguns dias Kerviel confessou em uma longa entrevista exclusiva ao jornal "Le Parisien": "De agosto a dezembro de 2007 ganhei todos os dias. E isto criou uma espécie de vício. Perdi pouco a pouco a noção real das quantias que estavam em jogo. (...) Para mim, uma jornada de um milhão de euros não era nada. Às vezes conseguia lucros astronômicos, que me causavam um prazer quase orgásmico".

Ele começou no departamento de controle. Lá aprendeu os mecanismos dos bancos para vigiar seus funcionários. Depois saltou para a arena, para comprar e vender em um turbilhão de milhões que acabou o engolindo. Também, segundo ele conta, passou a ver o mundo reduzido a uma tela de números que subiam e desciam.

"No dia dos atentados de Londres, em julho de 2005, ganhei 500 mil euros para o banco, graças a ter operado com ações de uma seguradora dias antes. Era o prêmio gordo. E eu estava encantado. Mas depois percebi que estava me divertindo com algo que, no fundo, havia matado pessoas com bombas. Fui para o banheiro e vomitei", continua na entrevista.

Uma de suas práticas consistia em comprar enormes quantidades de ações de uma empresa em Tóquio ou em Hong Kong e revendê-las imediatamente depois em Paris ou Nova York, aproveitando pequenas diferenças de cotação, às vezes de centavos de euro por ação. Movimentava enormes somas de dinheiro de ida e volta, porque senão o lucro seria ridículo. Os bancos permitem que seus operadores façam essas transações desde que cubram as compras com as vendas quase no mesmo instante, para evitar riscos astronômicos.

"Quando deixei o controle e passei a operar, me cruzaram os cabos. Não existia outra coisa além do banco. Pensava nele de manhã à noite, não havia mais nada na minha vida. (...) Mudei de vida, me separei de minha namorada", acrescenta.

Também começou a burlar as regras. Comprava grandes pacotes de ações, mas depois não as vendia imediatamente. As segurava, confiando em seu faro financeiro e porque sabia como escondê-las. Não por acaso conhecia os controles que eram efetuados para evitá-los. Ele mesmo tinha passado anos vigiando os demais.

Acreditou que o mercado subiria. Mas não previa (ninguém previa) que a economia mundial caminhava para o abismo e que as Bolsas cairiam durante vários meses. Quando o mercado flutuava, isto é, subia e descia, os enxágues de Kerviel seguiam em frente. Mas com as Bolsas despencando, empurradas por uma crise incontrolável, era impossível sair ileso. Ele mesmo confessou isso na citada entrevista: "Meu problema é que não percebi que o período dos grandes ganhos tinha chegado ao fim".

Para tapar o imenso buraco que tinha nas mãos, empreendeu a fuga para a frente: embarcou no que dentro do mundo da Bolsa se chama mercado de futuros. Ali a pessoa se compromete em um prazo determinado, de semanas ou meses, a vender ou comprar um número enorme de ações. É como jogar o dobro, como apostar no já instável mercado de valores.

Kerviel arriscou sua mentira no futuro. Chegou a ter comprometidos 50 bilhões de euros, mais do que seu banco ganhava em dez anos. Uma soma que ele manejava na corda bamba quando foi descoberto em 18 de janeiro de 2008.

O banco comprovou com horror o alcance da brecha. E tentou consertar tudo vendendo a toda pressa as ações de Kerviel em um mercado em queda livre, que a decisão desesperada da Société Générale, por sua vez, contribuiu para afundar um pouco mais.

Na instrução do processo, Kerviel denunciou seus superiores por permitir seu desatino. "Era como se eu pilotasse uma Ferrari com um motor de foguete. Eu passo diante deles a 3 mil quilômetros por hora. Eles me vêem e não dizem nada. Quem acredita nisso?"

Seu superior imediato, Eric Cordelle, lhe disse em um confronto: "Estou farto de ter na minha frente um mentiroso". O advogado do banco considera obscuro o motivo último de Kerviel. Há quem suspeite que nas transferências de bilhões que durante meses ele teve nas mãos, às escondidas do banco, conseguiu desviar uma soma para uma conta secreta. Como bom ex-controlador, sabe bem apagar o rastro do dinheiro. Há outros que consideram que o ex-operador da Bolsa só pretendia aumentar os lucros do banco para embolsar a recompensa das porcentagens. O fato de que a polícia francesa não tenha encontrado ainda o dinheiro nas contas de Kerviel parece confirmar a segunda hipótese.

De qualquer maneira, esse homem enfrenta a possibilidade de uma sentença de até oito anos de prisão. Já passou um mês preso, quando se entregou, poucos dias depois de se transformar no homem dos 5 bilhões. Saiu em liberdade provisória, acusado de falsificação, invasão informática e abuso de confiança. Desde então se dedicou exclusivamente a elucidar o processo para encarar o julgamento que se aproxima. Também a estudar as ofertas que recebe para ser professor em Harvard ou estrela da publicidade.

Não é mais o que era um ano atrás. É ele quem diz: "Eu nasci de novo em 18 de janeiro de 2008, dia em que fui chamado pelo banco para me explicar".

Mas também não se transformou completamente, segundo afirma na única entrevista que concedeu: "O banco e minha atividade de corretor na Bolsa me fazem falta. Tenho saudade. Sobretudo com esta crise. Às vezes me surpreendo olhando para as cotações e dizendo: 'É preciso comprar isto ou vender aquilo'".

Empresário japonês preso por fraude bilionária

5/2/2009 - G1



TÓQUIO, 5 Fev 2009 (AFP) - Um empresário japonês de 75 anos, dono de uma empresa de colchões e camas que criou uma moeda paralela e um esquema de investimentos "pirâmide", foi preso por uma fraude de 126 bilhões de ienes (US$ 1,411 bilhão) que afetou 37.000 pessoas.

A polícia confirmou a prisão de Kazutsugi Nami, proprietário da empresa falida L and G, e de 20 colaboradores, mas não revelou o valor da fraude.

Segundo a agência de notícias Jiji, as suspeitas são de que Nami arrecadou desde 2001 vários bilhões de ienes para realizar investimentos, com a promessa de rendimentos gigantescos, de até 36% ao ano, o que não conseguiu cumprir.

Alguns meios de comunicação calcularam a fraude em até 226 bilhões de ienes (2,567 bilhões de dólares) e o número de vítimas em 50.000.

Kazutsugi Nami também emitiu em 2004 uma moeda eletrônica virtual, batizada de "enten", combinação de dois ideogramas que significam "iene" e "paraíso", que era utilizada em vários hotéis e lojas.

Por um mínimo de 100.000 ienes pagos a Nami, os clientes recebiam o equivalente em "enten" e podiam recuperar, em tese, os investimentos ao fim de 12 meses.

Em reuniões com os investidores, Nami prometia "revolucionar a economia mundial", transformando o "enten" em moeda única planetária, o que segundo ele salvaria o mundo e o transformaria em um "paraíso de luz", segundo a imprensa.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Justiça dos EUA recupera quase US$ 1 bi de Madoff

04/02/2009 - 23h12
Justiça dos EUA recupera quase US$ 1 bi de Madoff

Nova York, 4 fev (EFE).- O administrador legal dos bens de Bernard Madoff assegurou hoje que foram encontrados quase US$ 950 milhões que podem ser destinados às vítimas da gigantesca "pirâmide financeira" montada pelo investidor americano.

Em uma audiência em um tribunal de Nova York, Irving Picard, advogado designado pelas autoridades para administrar os bens vinculados a Madoff, detalhou hoje ao juiz Burton Lifland que foram achados US$ 111,4 milhões em dinheiro de diferentes instituições financeiras.

Fora isso, na semana passada JPMorgan Chase e Bank of New York Mellon asseguraram que poderiam transferir a Picard US$ 534,9 milhões em ativos da companhia de Madoff.

O juiz americano aprovou hoje os termos dessa transferência, segundo a documentação divulgada pela corte, na qual também se detalha que Picard localizou ações com um valor próximo a US$ 300 milhões.

Madoff, que desde dezembro passado se encontra em prisão domiciliar em troca de uma fiança de US$ 10 milhões e outra série de requisitos, não foi à audiência.

Segundo as autoridades, o americano confessou após sua detenção em 11 de dezembro que a fraude poderia chegar a US$ 50 bilhões.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Terra Magazine entrevista o delegado Protógenes Queiroz

Terra Magazine publica abaixo a primeira parte da entrevista com o delegado Protógenes Queiroz. Leia aqui a segunda parte.

Terra Magazine - Poderia esclarecer o atentado que diz ter sofrido?
Protógenes Queiroz - Fui ao Rio de Janeiro cumprir uma agenda familiar. Me dirigi ao carro que eu sempre uso no Rio, ele fica na rua. Vezes eu o uso, vezes não, por medida de segurança. Esse carro estava parado desde dezembro em frente ao prédio onde mora meu filho. Entrei. Dei uma volta no quarteirão e "bum". Uma explosão no painel do carro. De maneira injustificada. O carro enfumaçou inteiro, parecia que estava pegando fogo. Enquanto isto, saíram dois esguichos de água fervente e ácida sobre o meu corpo. Sorte que eu estava de calça jeans e sapato. Poderia ter sido pior, caso eu estivesse em alta velocidade. Poderia, na verdade, ter sido fatal. Sorte que eu estava a 40 km/h. Parei o carro imediatamente e saí. Fui socorrido por populares e peguei um taxi para me dirigir a um hospital de emergência. No meio do caminho, decidi ir a um médico de confiança minha para que, se fosse uma lesão mais grave, ser encaminhado a um hospital próprio para o caso. Foi grave. Queimadura de segundo grau profundo. Por isto é que vim me tratar no Hospital das Clínicas em São Paulo, onde tem mais recursos, no setor de Queimados e Cirurgia Plástica. Fiz uma pequena cirurgia para tirar a pele. Quanto à razão, não dá para afirmar que foi somente acidente, porque existem fatos anteriores que me autorizam a pensar em sabotagem provocada por terceiros. Isto já é considerado por quem cuida do caso e estamos tomando as devidas providências.

O que te leva a pensar que foi um atentado e não um acidente?
Vigilâncias, pressões e ameaças durante e depois da operação Satiagraha. Coisas não explicadas até agora. Mas já existem duas investigações iniciadas, uma em Brasília e a outra em São Paulo, ambas sob a responsabilidade do Ministério Público Federal. Até agora não se chegou a nenhuma conclusão, até porque os dados estão sendo tratados em sigilo.

É verdade que se negou a receber auxílio da Polícia Federal?
Surgiu uma história que me leva a crer que realmente existe algo obscuro no acidente. Logo depois de noticiado o meu acidente, publicou-se uma notícia mentirosa, de grupos interessados, dizendo que eu tinha me recusado a ir à Polícia Civil do Rio de Janeiro, negado auxílio da PF e que o carro tinha sido alvejado por um disparo de arma de fogo no radiador. Inventaram também que um carro da Polícia Civil tinha parado lá... Isso tudo é falácia. Mentira. Foi lançado na mídia pelos mesmos grupos que ainda me acompanham, seguem, vigiam. Fui socorrido por populares, como te disse. O carro? Guardado em local seguro para uma avaliação.

Acredita que o bloqueio de recursos do Opportunity tenha quebrado a tese de Daniel Dantas de que as investigações passaram a ser perseguições pessoais?
Agora, as investigações contra o grupo Opportunity e contra o banqueiro bandido Daniel Dantas existem em quatro países. Em ordem cronológica, os bloqueios se deram no Brasil, que bloqueou em setembro, por decisão do Fausto De Sanctis, quase meio bilhão de dólares, Inglaterra (US$45 milhões), Suíça e Estados Unidos. Ou seja, já foram bloqueados quase US$ 3 bilhões. Durante as investigações, tínhamos indícios de que Dantas desviou do Brasil para paraísos fiscais uma quantia aproximada de US$ 16 bilhões. E, como sabemos, dinheiro originário dos cofres públicos e corrupção, isto desde as privatizações. Então, este bloqueio não é nenhuma surpresa porque eram valores já identificados pela operação Satiagraha. Isto mostra que tudo o que coletamos durante as investigações são dados que provam o indício de ilícito e fraude no mercado financeiro. Não só no Brasil, mas com reflexos em outros países. Agora que estes localizaram o dinheiro brasileiro, bloquearam.

Como surgiu o bloqueio?
O bloqueio nasce com dados levantados aqui no Brasil. Identificamos as contas no exterior mantidas pelo grupo Opportunity. Com isto, enviamos os dados aos países com registros de que tenham recepcionado ou mantenham em seus depósitos valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A partir daí, o país vai avaliar a proveniência do dinheiro e, caso não seja justificada a origem, pedem mais informações para verificar possíveis semelhanças de valores. Para pedir o bloqueio e o repatriamento do dinheiro. Mas é preciso lembrar que estes são valores identificados na primeira fase da investigação. Ainda não chegamos aos valores da segunda fase, ainda em andamento. Acredito que o nome dos investidores fraudulentos e os responsáveis pela remessa de dinheiro suspeito sem origem serão descobertos a partir da quebra de sigilo dos HDs que foram apreendidos.

O dinheiro apreendido representa quantos por cento das operações do Opportunity no exterior?
O valor que conseguimos identificar representaria em torno de 20% das operações do Opportunity no exterior.

O que implica essa diferença entre os valores apresentados pelo Ministério da Justiça e Ministério Público Federal?
Pode ter ocorrido o mesmo que no caso Maluf, o desencontro pode estar na remessa dos documentos enviados. Não se trata de uma diferença de valores. Houve o anúncio de bloqueio pelo Ministério e Secretaria Nacional de Justiça e também houve uma manifestação do Ministério Público Federal divergindo dos valores bloqueados. Mas o que importa é que existem US$ 2 bilhões bloqueados à disposição do Brasil para o repatriamento. O desencontro de informações não interessa.

O que quer dizer que "não tem origem provada"? Que todo mundo que está ali vai perder o que tem se não provar a origem?
Um dinheiro sem registros, sem declarações no imposto de renda, sem origem provada e sem justificativas às autoridades brasileiras sobre o porquê da remessa ao exterior. Ou seja, valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Tem muitos brasileiros envolvidos. Muitas pessoas importantes que, caso queiram manter o valor desbloqueado, terão de se apresentar à justiça brasileira e provar a origem do valor, a legalidade do dinheiro. Essas pessoas terão que explicar o porquê das contas no exterior. Na minha avaliação, são pessoas da mesma linha que Dantas.

Quem são?
Tenho que manter sigilo, mas garanto que não tem nenhum trabalhador honesto que sai de casa cedo pela manhã e sabe o quanto paga num pãozinho.

Dantas já desviou quase US$ 16 bi, diz Protógenes

Terra Magazine - Operação Satiagraha - Exclusivo
Quinta, 29 de janeiro de 2009, 10h29 Atualizada às 10h34



Dantas já desviou quase US$ 16 bi, diz Protógenes

Marcela Rocha
Especial para Terra Magazine

Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, o delegado que comandou a operação Satiagraha, Protógenes Queiroz, conta que a investigação sobre o banqueiro Daniel Dantas apontou indícios de que foram desviados cerca de US$ 16 bilhões do Brasil para paraísos fiscais no exterior. O dinheiro, segundo Protógenes, é "originário dos cofres públicos e corrupção".

Veja também:
» Satiagraha: governo bloqueia US$ 2 bi enviados ao exterior
» Opine aqui sobre a operação Satiagraha da Polícia Federal
» De Grandis: Bloqueio derruba tese de Dantas

Na última quinta-feira, 22, foram bloqueados US$ 2 bilhões que haviam sido enviados ao exterior pelo grupo Opportunity. A paralisação da movimentação dos ativos suspeitos é a maior da história do Brasil.

O delegado da Polícia Federal revela:

- O valor que conseguimos identificar, (os US$ 2 bilhões apreendidos) representaria em torno de 20% das operações do Opportunity no exterior.

Protógenes explica que se trata de um dinheiro sem registros, sem declarações no imposto de renda, sem origem provada e sem justificativas às autoridades brasileiras sobre o porquê da remessa ao exterior. Prossegue: "Ou seja, valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Tem muitos brasileiros envolvidos".

Responsável também pela prisão do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, Queiroz está de licença médica após ter sido vítima de "um atentado", segundo suas próprias palavras.

No incidente, houve uma explosão no painel do carro que esguichou água fervente e ácida sobre seu corpo. Ele acredita ter sofrido o atentado por sofrer vigilâncias, pressões e ameaças durante e depois da operação Satiagraha.

- Já existem duas investigações iniciadas, uma em Brasília (sobre a legitimidade das interceptações telef�?nicas feitas durante a operação Satiagraha) e a outra em São Paulo (sobre vazamento de informação sigilosa sobre a operação). Ambas estão sob a responsabilidade do Ministério Público Federal. Até agora não se chegou a nenhuma conclusão, até porque os dados estão sendo tratados em sigilo.

Terra Magazine publica abaixo a primeira parte da entrevista com o delegado Protógenes Queiroz. A segunda parte será publicada às 14h00 horas desta quinta-feira, 29.

Terra Magazine - Poderia esclarecer o atentado que diz ter sofrido?
Protógenes Queiroz - Fui ao Rio de Janeiro cumprir uma agenda familiar. Me dirigi ao carro que eu sempre uso no Rio, ele fica na rua. Vezes eu o uso, vezes não, por medida de segurança. Esse carro estava parado desde dezembro em frente ao prédio onde mora meu filho. Entrei. Dei uma volta no quarteirão e "bum". Uma explosão no painel do carro. De maneira injustificada. O carro enfumaçou inteiro, parecia que estava pegando fogo. Enquanto isto, saíram dois esguichos de água fervente e ácida sobre o meu corpo. Sorte que eu estava de calça jeans e sapato. Poderia ter sido pior, caso eu estivesse em alta velocidade. Poderia, na verdade, ter sido fatal. Sorte que eu estava a 40 km/h. Parei o carro imediatamente e saí. Fui socorrido por populares e peguei um taxi para me dirigir a um hospital de emergência. No meio do caminho, decidi ir a um médico de confiança minha para que, se fosse uma lesão mais grave, ser encaminhado a um hospital próprio para o caso. Foi grave. Queimadura de segundo grau profundo. Por isto é que vim me tratar no Hospital das Clínicas em São Paulo, onde tem mais recursos, no setor de Queimados e Cirurgia Plástica. Fiz uma pequena cirurgia para tirar a pele. Quanto à razão, não dá para afirmar que foi somente acidente, porque existem fatos anteriores que me autorizam a pensar em sabotagem provocada por terceiros. Isto já é considerado por quem cuida do caso e estamos tomando as devidas providências.

O que te leva a pensar que foi um atentado e não um acidente?
Vigilâncias, pressões e ameaças durante e depois da operação Satiagraha. Coisas não explicadas até agora. Mas já existem duas investigações iniciadas, uma em Brasília e a outra em São Paulo, ambas sob a responsabilidade do Ministério Público Federal. Até agora não se chegou a nenhuma conclusão, até porque os dados estão sendo tratados em sigilo.

É verdade que se negou a receber auxílio da Polícia Federal?
Surgiu uma história que me leva a crer que realmente existe algo obscuro no acidente. Logo depois de noticiado o meu acidente, publicou-se uma notícia mentirosa, de grupos interessados, dizendo que eu tinha me recusado a ir à Polícia Civil do Rio de Janeiro, negado auxílio da PF e que o carro tinha sido alvejado por um disparo de arma de fogo no radiador. Inventaram também que um carro da Polícia Civil tinha parado lá... Isso tudo é falácia. Mentira. Foi lançado na mídia pelos mesmos grupos que ainda me acompanham, seguem, vigiam. Fui socorrido por populares, como te disse. O carro? Guardado em local seguro para uma avaliação.

Acredita que o bloqueio de recursos do Opportunity tenha quebrado a tese de Daniel Dantas de que as investigações passaram a ser perseguições pessoais?
Agora, as investigações contra o grupo Opportunity e contra o banqueiro bandido Daniel Dantas existem em quatro países. Em ordem cronológica, os bloqueios se deram no Brasil, que bloqueou em setembro, por decisão do Fausto De Sanctis, quase meio bilhão de dólares, Inglaterra (US$45 milhões), Suíça e Estados Unidos. Ou seja, já foram bloqueados quase US$ 3 bilhões. Durante as investigações, tínhamos indícios de que Dantas desviou do Brasil para paraísos fiscais uma quantia aproximada de US$ 16 bilhões. E, como sabemos, dinheiro originário dos cofres públicos e corrupção, isto desde as privatizações. Então, este bloqueio não é nenhuma surpresa porque eram valores já identificados pela operação Satiagraha. Isto mostra que tudo o que coletamos durante as investigações s� �o dados que provam o indício de ilícito e fraude no mercado financeiro. Não só no Brasil, mas com reflexos em outros países. Agora que estes localizaram o dinheiro brasileiro, bloquearam.

Como surgiu o bloqueio?
O bloqueio nasce com dados levantados aqui no Brasil. Identificamos as contas no exterior mantidas pelo grupo Opportunity. Com isto, enviamos os dados aos países com registros de que tenham recepcionado ou mantenham em seus depósitos valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A partir daí, o país vai avaliar a proveniência do dinheiro e, caso não seja justificada a origem, pedem mais informações para verificar possíveis semelhanças de valores. Para pedir o bloqueio e o repatriamento do dinheiro. Mas é preciso lembrar que estes são valores identificados na primeira fase da investigação. Ainda não chegamos aos valores da segunda fase, ainda em andamento. Acredito que o nome dos investidores fraudulentos e os responsáveis pela remessa de dinheiro suspeito sem origem serão descobertos a partir da quebra de sigilo dos HDs que foram apreendidos.

O dinheiro apreendido representa quantos por cento das operações do Opportunity no exterior?
O valor que conseguimos identificar representaria em torno de 20% das operações do Opportunity no exterior.

O que implica essa diferença entre os valores apresentados pelo Ministério da Justiça e Ministério Público Federal?
Pode ter ocorrido o mesmo que no caso Maluf, o desencontro pode estar na remessa dos documentos enviados. Não se trata de uma diferença de valores. Houve o anúncio de bloqueio pelo Ministério e Secretaria Nacional de Justiça e também houve uma manifestação do Ministério Público Federal divergindo dos valores bloqueados. Mas o que importa é que existem US$ 2 bilhões bloqueados à disposição do Brasil para o repatriamento. O desencontro de informações não interessa.

O que quer dizer que "não tem origem provada"? Que todo mundo que está ali vai perder o que tem se não provar a origem?
Um dinheiro sem registros, sem declarações no imposto de renda, sem origem provada e sem justificativas às autoridades brasileiras sobre o porquê da remessa ao exterior. Ou seja, valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Tem muitos brasileiros envolvidos. Muitas pessoas importantes que, caso queiram manter o valor desbloqueado, terão de se apresentar à justiça brasileira e provar a origem do valor, a legalidade do dinheiro. Essas pessoas terão que explicar o porquê das contas no exterior. Na minha avaliação, são pessoas da mesma linha que Dantas.

Quem são?
Tenho que manter sigilo, mas garanto que não tem nenhum trabalhador honesto que sai de casa cedo pela manhã e sabe o quanto paga num pãozinho.





Quinta, 29 de janeiro de 2009, 14h02 Atualizada às 16h17



Protógenes: HDs na CIA fragilizam investigação

Marcela Rocha
Especial para Terra Magazine

Na segunda parte da entrevista a Terra Magazine (confira aqui a primeira), o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz fala sobre o envio dos HDs de Daniel Dantas à Agência Central de Inteligência norte-americana, a CIA.

Para Queiroz, a entrega dos discos rígidos dos computadores apreendidos na Operação Satiagraha "fragiliza muito as investigações". Explica:

- Um dos principais bancos dos EUA, o City Group, participou dessa fraude no Brasil. Mas acredito que não tiveram outra saída (enviar as provas à CIA), haja vista que o sistema brasileiro de inteligência foi desmontado de maneira insana e irresponsável.

Veja também:
» Dantas já desviou quase US$ 16 bi, diz Protógenes
» Opine aqui sobre a operação Satiagraha da Polícia Federal
» Satiagraha: governo bloqueia US$ 2 bi enviados ao exterior
» De Grandis: Bloqueio derruba tese de Dantas

A justiça brasileira pediu ajuda aos Estados Unidos para descriptografar discos rígidos apreendidos. Com essa medida, diz Protógenes, "tentam retardar o processo investigativo, e ele requer velocidade". Questiona:

- Será que nós, no Brasil, somos incapazes mesmo?

O delegado critica o andamento de dois inquéritos abertos. Um em Brasília, sobre a legitimidade das interceptações telef�?nicas feitas durante a operação Satiagraha. O outro em São Paulo, sobre vazamento de informação sigilosa da operação.

- Até agora o único andamento foi a busca e apreensão que eu e meus familiares sofremos. (...) Mas quero ressaltar que ainda não apareceu nenhuma confirmação de grampo.

Protógenes Queiroz conta que a investigação sobre sua atuação na Satiagraha foi iniciada pela PF e segue "num ritmo bem acelerado, disponibilizando recursos e material humano. Porém, até agora, não fui ouvido, chamado para depor", diz. "Pedi várias vezes para ser ouvido", revela.

Para o delegado, o recente vazamento de relatórios oficiais da operação precisa ser investigado. "Existe um documento oficial e alguém entregou. Então, quem elaborou os relatórios, o mesmo que investiga, é o primeiro suspeito".

Adianta que, "caso não tenham sido instauradas investigações sobre esses três vazamentos", irá representar, "junto ao MP, a requisição da instauração de inquérito policial".

Protógenes está afastado de suas atividades por licença médica. Dia 15 de janeiro houve uma explosão no painel de seu carro que esguichou água fervente e ácida sobre seu corpo. Ele acredita ter sido vítima de um atentado por sofrer vigilâncias, pressões e ameaças durante e depois da operação Satiagraha.

O delegado revela que, quando retomar suas atividades, passará a atuar na coordenação de segurança responsável por sem-terra, índios e segurança de dignitários, ministros e presidente da República - a Coordenação Geral de Defesa Institucional (CGDI). "Fiz um concurso para delegado federal, onde não se pode escolher com o que trabalhar".

Enquanto se recupera do que considera ter sido um atentado, aproveita o tempo livre para retomar algumas práticas do dia-a-dia. Terra Magazine pergunta:



- O que está fazendo agora?



- Lendo.

- O quê?

- A corporação, Caso Telecom Itália e Gomorra que conta a história da máfia italiana Camorra.

Confira a entrevista:

Terra Magazine - A Polícia Federal não tinha condições de abrir os discos rígidos aqui, no Brasil? Era necessário mandá-los para CIA nos Estados Unidos?
Protógenes Queiroz - Eu entendo que, ao enviar os discos rígidos para a CIA, antecipam-se informações às autoridades estrangeiras. Isto pode trazer graves conseq�?ências à investigação. Haveria necessidade de pedir apoio? Sim, mas nesse momento as autoridades brasileiras deveriam enviar técnicos daqui para acompanhar o trabalho que está sendo realizado nos EUA. Até porque um dos principais bancos dos EUA, o City Group, participou dessa fraude no Brasil. Assim, fragilizam muito as investigações. Mas acredito que não tiveram outra saída, haja vista que o sistema brasileiro de inteligência foi desmontado de maneira insana e irresponsável. Desmontou-se todo o sistema de inteligência do departamento de PF, o qual poderia estar trabalhando para descriptografar esses discos rígidos . Eu mesmo, ao longo da operação, consegui obter algumas informações assim. Por que pedir auxílio e dizer que, no Brasil, não há como fazer isso? Na minha avaliação isso tudo é conseq�?ência do mesmo processo que vivi lá. Tentam retardar o processo investigativo, e ele requer velocidade. Tenho a certeza de que os colegas estão dando o melhor de si para acelerar a operação, mas o establishment imp�?s a ordem de desmontar uma estrutura (tecnológica e de recursos humanos) que poderia ser útil ao País, caso lhes dessem condições. Será que nós, no Brasil, somos incapazes mesmo? Não existe tecnologia capaz disto aqui? Acredito que existe sim, veja os centros de tecnologia da USP, UFRJ, UnB. Mas o Estado não disponibiliza o aparato necessário à PF. Sem saída, tiveram que recorrer.

Como está o andamento do inquérito sobre vazamentos? Aquele que entrou com uma representação para investigar a sua saída e a cúpula da PF.
Até agora o único andamento foi a busca e apreensão que eu e meus familiares sofremos.

Refiro-me à representação para investigar a cúpula da PF...
Entrei com a representação para abrir uma investigação logo depois da deflagração da operação. Está em andamento e corre em segredo de justiça. Acredito que os colegas da procuradoria logo darão uma resposta. A investigação que a PF iniciou contra mim seguiu num ritmo bem acelerado, disponibilizando recursos e material humano. Porém, até agora, não fui ouvido, chamado para depor. Pedi várias vezes para ser ouvido e me respondem que o serei no momento oportuno. O que é interessante é que já houve três vazamentos dessa investigação contra mim e cadê a providência que a PF tem que tomar em relação a vazamentos? Eu quero saber das providências. Foram três vazamentos seguidos, quero saber das três novas investigações distintas, pois são fatos distintos. Se foram instauradas e estão em sigilo, ok. Mas por que, quando instauraram uma contra mim, deram notícia, publicidade? Por que nesses vazamentos da investigação contra mim não deram publicidade nenhuma, caso haja investigações sobre? Então, estou coletando informações com os meus advogados para que, caso não tenham sido instauradas investigações sobre esses três vazamentos, vou representar, junto ao MP, a requisição da instauração de inquérito policial. E é evidente que não fui eu nem ninguém da minha equipe que vazou.

Por quê?
Porque estão estampando documentos O-FI-CI-AIS da operação em jornais. O jornal O Estado de S. Paulo publicou um documento oficial da Polícia Federal. Cadê o documento oficial vazado da Operação Satiagraha? Não existe. Estão me acusando de vazamento? Então cadê os documentos oficiais publicados na imprensa? A única coisa que a imprensa publicou foi o vazamento dentro da PF em abril e não apuram nada. Instauraram inquérito contra mim dizendo que houve vazamento no dia da execução da operação. Vazou algum relatório da PF enquanto eu estava coordenando a operação? Algum órgão de imprensa publicou algum relatório de inteligência? Não. E a estrutura do Estado funcionou para se voltar contra mim. E não funciona para investigar três vazamentos sucessivos de dados oficiais da operação Satiagraha. São dados de backup da operação. Tem que existir backup, mas hoje estão sendo divulgados pela imprensa. Quem va zou? Eu não fui. Eu não produzi aqueles relatórios que a imprensa está publicando. Quem produz é quem investiga atualmente. Ou seja, as pessoas que estão ME investigando atualmente são as que precisam prestar contas sobre os vazamentos.

Na nossa outra conversa, quando falava em vazamentos, se referia à "cúpula". Quem é a cúpula? Sabemos que acima do senhor tinha, na área de Inteligência, o Sr. Daniel Lorenz, diretor de Inteligência, e seu diretor, e o Sr. Luis Fernando, diretor geral. É a eles que se refere?
Sim, eles são os meus superiores hierárquicos. Mas não serei leviano de apontar ninguém, porque até então os indícios não são ainda sólidos o suficiente para dizer que Fulano ou Sicrano vazou para o jornalista ou jornal. É como o vazamento da investigação sobre o vazamento. Existe um documento oficial e alguém entregou. Então, quem elaborou os relatórios, o mesmo que investiga, é o primeiro suspeito. Não posso apontar, mas já encaminhei dados suficientes ao Ministério Público Federal para que julguem quem é mesmo o responsável pelos vazamentos.

Com o avanço das investigações da PF em Brasília (sobre o suposto grampo no STF) e da PF em São Paulo (sobre o vazamento), não há confirmação (inclusive analisando seus computadores) de um grampo contra Gilmar Mendes. Como o senhor acha que isso vai se desenrolar?
O inquérito do grampo sobre o ministro Gilmar Mendes encerra agora em fevereiro, pelo que tenho acompanhado, via imprensa. Vamos aguardar. Mas quero ressaltar que ainda não apareceu nenhuma confirmação de grampo.

Até quando vai ficar afastado? Voltará a trabalhar na mesma área?
Estou de licença médica. Mas acredito que só até fevereiro. Em março retorno às atividades na PF. Fui informado por telefone pelo Dr. Fontel, diretor executivo, que eu estaria lotado, no início, na coordenação de defesa institucional, na CGDI. É a coordenação responsável por sem-terra, índios e segurança de dignitários, ministros e presidente da república. Mas ele disse que é uma lotação inicial, pode um dia haver uma alteração. Nada é definitivo. Eu só não poderia ficar sem uma lotação para ficar.

Para um delegado com 10 anos de trabalho no combate à corrupção, é confortável mudar de área de atuação?
Eu sou delegado de PF. Trabalho em qualquer setor. Mas a minha especialização em 10 anos de PF é voltada para a área de inteligência, terrorismo e crimes financeiros. O setor para o qual serei encaminhado requer outras especializações, e eu não tenho nenhum curso nessa área.

Acredita que isto é para te afastar das investigações?
É, não foi afirmado isso. Mas me disseram que foi o primeiro lugar que encontraram para me colocar. Fiz um concurso para delegado federal, onde não se pode escolher com o que trabalhar.

O que está fazendo agora?
Lendo.

O quê?
A corporação, Caso Telecom Itália e Gomorra que conta a história da máfia italiana Camorra.