quinta-feira, 15 de junho de 2017

Brasileiro é alvo de operação que investiga desvio de US$ 45 milhões do BC de Angola

Por O GLOBO - RJ - by CHICO OTAVIO ALOY JUPIARA
Veiculação: 15/06/2017

MPF e PF atenderam a pedido da Justiça francesa, que acompanhou ação
O empresário brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, um dos homens mais ricos e poderosos de Angola, foi alvo ontem da Operação Le Coc, que mobilizou cerca de 60 agentes da Polícia Federal (PF) no Rio para o cumprimento de quatro mandados de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão. A pedido da Justiça francesa, o Ministério Público Federal, em parceria com a PF, investiga a utilização de intermediários em contratos entre o governo angolano e empresas estrangeiras na produção de papel moeda mediante pagamento de US$ 45 milhões em propina. Duas juízas francesas acompanharam a operação.
Minoro e Oscar Henrique Durão Vieira, um dos sócios do negócio, não foram encontrados pela PF, mas os agentes conduziram, sob coerção, Vicente Cordeiro de Lima e Gerson Antônio de Souza Nascimento, com quem foram apreendidos 127 relógios no valor superior a R$ 1 milhão. Os quatro são acusados de participar de esquema que lesou contratos do Banco Central angolano com a empresa francesa Oberthur, especializada na fabricação de papel moeda.
De acordo com investigações iniciadas na França, os brasileiros, associados a angolanos e fazendo-se de representantes da Oberthur, teriam recebido comissões de 35% no valor dos contratos com o Banco Central, entre 2001 e 2012, à revelia da empresa francesa. Para isso, criaram uma cadeia de empresa de fachada, localizadas em Portugal e Hong Kong, que recebiam a propina.
Em sociedade com autoridades angolanas, Minoru construiu um império de negócios de mais de 20 empresas, tendo como cliente o governo do país. Em dezembro de 2011, O GLOBO publicou um perfil do empresário. À época, ele era sócio, como pessoa física, de autoridades, ex-autoridades ou pessoas próximas a dirigentes governamentais, como Pedro Sebastião Teta, então vice-ministro da Ciência e Tecnologia, na empresa Júpiter; do brigadeiro Leopoldino Fragoso, o Dino, na Supermar; e da irmã da primeira-dama, Artemísia Cristina Cristóvão de Lemos, no Bob's. A proximidade entre Minoru e a família do presidente José Eduardo dos Santos, há três décadas no comando de Angola, é conhecida no país. Os negócios de Minoru em Angola começaram com a empresa Macon, de transportes coletivos, antes concentrados em lotadas de táxi e caminhonetes. Reportagem da revista "The Economist" questionou a utilidade de investimentos do governo, mostrando que foram comprados três mil ônibus, quando o país só tinha 1.500 motoristas habilitados.
No começo desta década, suas empresas lucravam R$ 90 milhões anuais com contratos públicos em Angola.
Minoro não foi localizado para comentar as investigações. A Polícia suspeita que ele esteja em Luanda. Na época, o empresário negou ao GLOBO irregularidades em seus negócios e relações com autoridades angolanas. Minoru confirmou ter sociedade com autoridades governamentais angolanas, sem citar seus nomes, afirmando que os negócios eram legais porque elas podiam ser sócias desde que não atuassem como executivas. ALVO DE OUTRAS INVESTIGAÇÕES Reconheceu ainda que foi alvo de denúncias em Angola, feitas por opositores ao regime, mas garantiu que pediu a investigação delas e que nada de irregular fora constatado. Na época, disse ter participação majoritária em "cinco ou seis", minoritária em "dez ou 12" e, no restante das 20 empresas, ter cerca de 30%.
Ele foi acusado em Angola de selar negócios com o Ministério da Saúde, a Casa Militar, o Ministério das Finanças e governos provinciais, supostamente transferindo recursos para empresas suas situadas em paraísos fiscais, como Ilha da Madeira, Ilhas Cayman, Suíça e Miami.

quarta-feira, 14 de junho de 2017