sábado, 20 de fevereiro de 2010

Sérios desequilíbrios na Europa

Editorial do jornal D. Pernambuco de 20.02.2010

Grande é a expectativa em relação ao que ocorre hoje na Europa comunitária, envolvida pelo que se passa na Grécia, enquanto a crise financeira que abalou o mundo encontra-se longe de bater ponto final. O abalo teve o epicentro nos Estados Unidos, cujo sistema bancário se mostrou profundamente contaminado por papéis podres - investimentos de risco elevadíssimo (subprime) sem lastro em ativos reais. A ousadia extrema na aplicação de capitais revelou a ganância irresponsável de Wall Street. Como castelo de cartas, o terremoto se espalhou mundo afora. As consequências, que atingiram os cinco continentes, exigiram medidas severas por parte do estado, que precisou abrir os cofres para evitar a repetição da tragédia de 1929.

Pacotes de estímulo fiscal, resgate dos bancos e queda na arrecadação de impostos elevaram a dívida pública a níveis insustentáveis. O quadro ganhou cores mais sombrias nos países ricos. Desanuviar o cenário exigirá tempo e grande esforço de estabilização. Não será tarefa fácil. Impõe compatibilizar a saída da crise com o aperto do orçamento. Cumprir essas condições é o grande desafio para prosseguir a recuperação global, que, com certeza, será lenta, dolorosa e descontínua, com soluços aqui e ali.

Os Estados Unidos, conhecidos como a locomotiva do consumo, crescerão menos nos próximos anos. Mas a insolvência constitui cenário improvável. A grande preocupação reside na zona do euro. Na União Europeia ocorreu a unificação de moeda sem a necessária integração fiscal e trabalhista. Espanha e Grécia apresentam os maiores desequilíbrios. De um lado, inflação de preços e salários. De outro, desemprego elevado. No meio, orçamento público deficitário.

A Grécia está em pior estado em razão da longa farra fiscal que antecedeu a crise. Amarga déficit público de 12,7% do PIB quando o teto fixado pela UE é de 3%. Acumula US$ 28 bilhões de dívidas que precisa honrar em abril e maio. A situação grega repercute já em todo o mundo, colocando a chamada zona do euro no centro das atenções da imprensa internacional.A Comissão Europeia, diante desse angustiante panorama, já anunciou abertura de investigações, em consequência de denúncias, segundo as quais a Grécia teria alterado os números das suas dívidas para se incorporar ao euro. Tais denúncias também dão conta de que outros países europeus teriam agido da mesma forma, quando se preparavam para o respectivo ingresso na zona do euro, sendo, inclusive, ajudados por grandes bancos internacionais. A Alemanha quer novas regras nas relações entre governos e a banca, a fim de que a contabilidade dos estados nacionais reflita, nos seus registros, a transparência dos respectivos acordos. A situação da Grécia é muito delicada.

Sem ajuda, corre o risco de quebrar. A União Europeia relutava em socorrer o parceiro. Temia que o mau exemplo contagiasse outros membros que também atravessam dificuldades. Em vez de submeter-se a duro programa de ajuste, preferiu esperar o atendimento no pronto-socorro de Bruxelas. A Europa, porém, apesar do perigo de abrir o precedente, deve estendera mão a Atenas. Mas impondo condições. A mais amarga: duras medidas de ajuste fiscal.

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