foto/El Pais
 
O banco Opportunity vive uma fase da transição. Acossado pela Satiagraha, decidiu transferir a administração de sua carteira de fundos de investimento para o BNY Mellon Serviços Financeiros, braço do The Bank of New York Mellon Coporporation.
Seis dos cerca de 40 fundos administrados pelo banco já foram repassados ao BNY Mellon. Entre eles o de R$ 535,8 milhões, que foibloqueado pela Justiça na última quarta (10). Os outros seguirão o mesmo caminho.
Concluída a operação, a casa bancária fundada por Daniel Dantas e hoje controlada por Dório Ferman perderá a razão de ser. O blogperguntou a Ferman: O Opportunitty pode fechar? E ele: “Em relação à instituição financeira, é uma hipótese.”
Neste caso, explicou Ferman, sobreviveriam as gestoras de fundos do grupo. São três. Uma controlada por ele e duas por Daniel Dantas. Continuarão ditando a linha dos investimentos submetidos à administração do BNY Mellon.
O movimento tem muito a ver com a Satiagraha. Antes da prisão de Dantas, de Ferman e de outros executivos do grupo, em julho, a carteira de fundos do Opportunity era de cerca de R$ 16 bilhões. Hoje, soma R$ 13,087 bilhões.
Atribui-se um pedaço da diferença à fuga de investidores (R$ 1,834 bilhão). O resto é debitado na conta do movimento de queda na Bolsa de Valores. Vai abaixo a entrevista de Dório Ferman:
- Por que transferiu  o fundo de R$ 535,8 milhões para o BNY Mellon?
Não houve transferência de um fundo do Opportunity para outro fundo. Mudou apenas o administrador, não o gestor. Tudo transparente. Publicamos dois ‘fatos relevantes’ no jornal Valor. Um, no dia 1º de agosto, avisando sobre a conclusão das negociações para a transferência da administração dos fundos do Opportunity para o BNY Mellon DTVM. Outro, em 8 de setembro, informando sobre o início do processo, com a transferência dos primeiros seis fundos.
- O Opportunity Special Fundo, retido pela Justiça, estava entre os seis?
Sim. Esse fundo de ações, o Special, e cinco fundos mais simples. Por que o Special? Ele deve ter uns 20 cotistas. E a gente conseguiu a unanimidade. No caso de fundos com um número maior de cotistas, a gente tem que fazer uma assembléia com dez dias e, depois, esperar mais 30 dias.
- Por que está sendo feita essa transferência de administração?
Insisto: o fundo continua custodiado no mesmo lugar, tem os mesmos cotistas, o mesmo CNPJ e o mesmo gestor. Muda só o administrador –do banco Opportunity para a BNY Mellon DTVM.
- Então por que tirar a administração das mãos do Opportunity?
Já era uma idéia nossa. Antes da Operação Satigraha, em 2004, tivemos nosso escritório invadido numa busca e apreensão da Polícia Federal.
- Refere-se à Operação Chacal?
Exatamente. O computador foi levado. Eles abriram o computador e divulgaram nomes e os saldos de clientes. Vários jornalistas ligaram para clientes nossos. Ficamos sem condições de resguardar a privacidade das pessoas. Nessa situação, passamos a pensar em mudar, ficando apenas como gestores.
- A mudança alcançará todos os fundos do Opportunity?
Sim, todos os fundos hoje administrados pelo Opportunity passarão para o BNY Mellon.
- Completando-se o processo, o que será do Opportunity?
Vamos pensar.
- Vai mudar a natureza do negócio?
Do banco, possivelmente sim. A gente vai pensar.
- Pode fechar?
Em relação à instituição financeira é uma hipótese.  
- De quem é o banco Opportunity?
O banco é meu. Tenho 99,9% do controle.
- E o Daniel Dantas?
O banco opera como administrador de recursos. Não é gestor, só administrador. E temos as gestoras dos fundos. Uma é minha e duas são do Daniel. A maioria dos fundos é de gestoras dele. Mas o banco é apenas meu.
- Fechando-se o banco, ficaria o quê?
As gestoras dos fundos. Operaríamos como todos os demais gestores de fundos do Brasil.
- A carta patente do BC não seria mais necessária, é isso?
Exatamente. Já não somos um banco de fato. Não fazemos empréstimos. Não emitimos CDB. Somos um prestador de serviço de administração de fundos. Mudaria a atividade. Seria uma empresa de investimento. Pode caminhar pra isso. O Icatu, por exemplo, caminhou nessa direção. Mas é só uma hipótese.
- Isso está ocorrendo por conta da Satiagraha?
Eu diria que já era uma hipótese que considerávamos. Nenhuma ‘Asset’ tem banco para prestar serviços só para ela. Voltamos ao tema por conta da exposição e da agressão que estamos sofrendo.
- Quantos fundos de investimentos são geridos pelo Opportunity?
Temos entre 35 e 40 fundos.
- Só seis tiveram a administração transferida para o BNY Mellon. E o resto?
A maioria depende ainda da anuência dos cotistas. E há também dificuldades técnicas. Nós somos muito grandes. Vamos representar um aumento de 20% no total que o BNY administra.
- Quanto dá isso em dinheiro?
Eles administram R$ 62 bilhões e vão somar mais R$ 13 bilhões.
- Então, a carteira do Opportunitty é de R$ 13 bilhões?
Para ser exato, R$ 13,087 bilhões.
- Qual o tamanho da fuga provocada pela Satiagraha?
Perdemos 11,3%. O total resgatado dá R$ 1,834 bilhão. Há uma diferença aí que ocorre porque a Bolsa caiu muito.
- A que atribui a conclusão do COAF de que a transferência do fundo de R$ 535,8 milhões foi uma "atuação irregular no mercado financeiro"?
Na melhor das hipóteses foi uma avaliação equivocada.
- E na pior...
Não sei, não sei.
- Para o COAF, os senhores sumiriam com esse dinheiro.
Não sei porque imaginar uma coisa dessas. Tenho convicção de que vão constatar que a transferência foi regular e que o dinheiro tem origem lícita.
- Está seguro de que a origem não é questionável?
É impossível questionar a origem desse dinheiro. São posições muito antigas. Tudo declarado, tudo certinho.
- Que providências jurídicas o Opportunity tomará para liberar os recursos?
A gente vai tomar providências como pessoas físicas O advogado [Nélio Machado] pediu acesso aos autos e não obteve ainda.