quinta-feira, 13 de maio de 2010

CRISE FINANCEIRA NA EUROPA

Controle das despesas
Editorial do Diário de Pernambuco de 13.05.2010

O velho ditado de que quem ri por último ri melhor nunca esteve tão atual, embora quem tenha esse direito abra mão de fazê-lo. Quando a crise imobiliária eclodiu em setembro de 2008, nos Estados Unidos, com consequências devastadoras mundo afora, inclusive no Brasil, os governos da Zona do Euro, que engloba boa parte da Europa, desdenharam o poder do dólar norte-americano. Além disso, deixaram claro que faltou tato à administração Obama ao não detectar antes sinais do estouro da bolha imobiliária, origem da catástrofe. Na ocasião, Inglaterra, França, Alemanha e Itália sustentaram que nada derrubaria a moeda da União Europeia, afirmando que o dólar dos EUA estava com seus dias contados.

Agora, menos de dois anos depois de a crise financeira abalar o mundo, a Europa sente na pele os reflexos das crises vividas pela Grécia (pior situação), Espanha e Portugal, tendo que tomar medidas de emergência para socorrer esses mercados, aprovando um pacote de 750 bilhões de euros para conter a turbulência que ameaça outros países. Segundo o Citigroup, a exposição de bancos estrangeiros às dívidas de Grécia, Portugal e Espanha gira em torno de 1,2 trilhão de euros. "O mega-aporte proporcionará algum alívio ao mercado, mas é apenas uma solução de curto prazo", alertou Marek Belka, diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Vale dizer que nem toda crise financeira se deve à falta ou não de conhecimento prévio da possibilidade de ela ocorrer. Os modelos financeiros desregrados dos EUA causaram centenas de bilhões de dólares de prejuízo ao redor do mundo, a partir de setembro de 2008. Os países europeus riram antes do tempo, mesmo que os norte-americanos agora não estejam achando graça alguma no que se passa na Grécia e outras nações do Velho Continente. Na verdade, a situação europeia preocupa porque o euro não é apoiado por um forte governo central, faltando uma consolidação fiscal na sua zona. A consciência dos governos nesse refluxo da crise via Europa tem de estar resguardada pela verdade e não pela mentira, por fatos distorcidos e atitudes visionárias. Vivemos o século 21, com toda a vida do planeta conectada on-line. Não há espaço para decisões tomadas por um círculo restrito de países amigos.

Os governos europeus precisam o quanto antes moderar seus gastos, fazer reformas e economizar, pois o mundo das finanças e da economia não tem uma continuidade previsível. Pôr despesas na mesma prateleira das receitas é o que deve ser feito por qualquer pessoa de bom senso, e por governos, também. A crise grega é uma grave advertência. Ela deve servir de exemplo a muitos países do mundo, que gastam mais do que podem, aumentando assustadoramente a sua dívida pública, e comprometendo, dessa forma, o próprio equilíbrio das finanças internacionais, como ocorre agora na Europa, onde a moeda comunitária requer urgentes medidas de proteção, em face do que se passa em Atenas e em outras praças do velho continente. Precaução nunca é demais, diante de um quadro dessa natureza.

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