06/10/2010 - 08h47
da Folha de São Paulo
DA FRANCE PRESSE, EM PARIS
Um tribunal francês condenou nesta terça-feira o ex-trader do banco Société Générale Jerome Kerviel a três anos de prisão e a devolver à empresa 4,9 bilhões de euros (US$ 6,8 bilhões), valor do prejuízo que provocou à instituição, em um processo emblemático para os problemas do mercado financeiro.
O Tribunal Correcional de Paris considerou Kerviel, 33 anos, culpado de abuso de confiança, falsificação e introdução fraudulenta de dados em um sistema de informática.
Segundo a corte, que julga crimes penais, o ex-trader "não respeitou as regras de seu mandato ao tomar posições especulativas sem que o banco soubesse e em proporções gigantescas".
"Ficou claramente demonstrado que o comportamento de Jerome Kerviel e suas mentiras era tão sofisticados que o banco não podia suspeitar do que estava fazendo", afirmou Jean Veil, um dos advogados do Société.
Como havia solicitado o Société Générale durante o julgamento, que aconteceu de 8 a 25 de junho, o tribunal condenou Kerviel a devolver ao banco os 4,9 bilhões de euros --como danos e prejuízos-- que a instituição alega ter perdido por culpa do ex-funcionário.
Joel Saget/AFP
O operador financeiro Jerome Kerviel chega para a audiência no Tribunal de Paris, na França, escoltado por policial
Kerviel foi julgado por ter assumido posições financieras especulativas de bilhões de euros com operações fictícias. A acusação havia solicitado cinco anos de prisão --um em liberdade condicional-- para o jovem que se tornou um símbolo dos disparates financeiros mundiais.
O escândalo foi revelado em janeiro de 2008, meses antes da explosão da crise financeira internacional. Kerviel foi o único acusado no processo.
Após a leitura da sentença, o advogado de Kerviel, Olivier Metzner, anunciou que vai entrar com recurso por considerar o veredicto "totalmente irrefletido e inverossímil". Meztner havia solicitado a absolvição do cliente, que se declarou inocente de todas as acusações.
Durante o processo, Kerviel manteve a mesma linha de defesa: admitiu ter perdido o senso de realidade, mas repetiu que os superiores permitiam sua livre atuação e, inclusive, o estimulavam a assumir riscos desde que isso permitisse ganhos financeiros.
Mas o tribunal considerou que os elementos mencionados pela defesa não permitem deduzir que o banco Société Générale tivesse conhecimento das atividades fraudulentas.
O tribunal anunciou os três anos de prisão e mais dois de liberdade condicional. No entanto, o tribunal não decidiu por uma multa nem ordenou o envio do ex-trader de maneira imediata para a prisão.
Kerviel, que passou 38 dias em prisão provisória em 2008, se apresentou no início do julgamento como "consultor de informática" com salário mensal de 2.300 euros. Com a quantia, levaria 17.000 anos para pagar os 4,9 bilhões de euros que deve ao Société Générale.
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