sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fed confirma novas emissões de dólares, e cresce fuga para outros ativos e moedas como o real

Fed confirma novas emissões de dólares...

Correio Braziliense – Brasil S/A – 15/10/2010



Esse é o caminho que deve acelerar a queda do dólar no mundo, que chega a 40% em dez anos, tanto quanto seria o atraso do renminbi



Por Antonio Machado

machado@cidadebiz.com.br



O que os representantes dos 187 países associados ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial que foram à assembléia anual das duas organizações em Washington no fim de semana queriam ouvir só foi conhecido quando eles se preparavam para voltar.



Entre os feriados de segunda-feira, nos EUA, e terça, no Brasil, o Federal Reserve (Fed) divulgou a ata da reunião de setembro de seu comitê de política monetária, o Copom americano, trazendo a confirmação sinistra do que todos temiam: o reinício das emissões de dólares para a aquisição de papéis do Tesouro dos EUA.



É o caminho que deverá acelerar a depreciação do dólar em curso no mundo, 40% nos últimos dez anos – tanto quanto se diz que seria o atraso do renminbi sobre o dólar. E senha para a guerra cambial anunciada pelo ministro Guido Mantega para desconforto dos chefões das finanças globais, que preferiam tratar reservadamente o que já está visível há tempos, com risco de colapsar o comércio mundial.



O jogo é bruto e não há iminência de acordo. Não houve na reunião do FMI/Banco Mundial. E dificilmente haverá na cúpula do Grupo dos 20 (G-20), daqui a um mês em Seul, se o G-2, de EUA e China – que têm os maiores desequilíbrios entre déficits e superávits globais -, não encontrar um meio harmônico de equalizar as suas contas.



Não se descarta nem mesmo que o G-2 simule uma confusão do capeta e se entenda nos bastidores à custa dos “outros” - como a zona do euro, os produtores de petróleo e grandes emergentes, tipo Brasil, os mais frágeis diante dos EUA, que têm o poder das emissões, e a China, com US$ 2,5 trilhões de reservas e moeda colada o dólar. Se ele cai, o renminbi vai atrás; se sobe, idem com batatas.



A coisa está assim: ou aceitam por bem ou aceitam por mal. Com os juros de política monetária zerados nos EUA, tanto o dólar como os ativos denominados na moeda perdem valor no confronto cambial, sem desvalorizações competitivas. Mas o despejo de mais dólares poderá ser de tal monta que até os mecanismos de defesa empregados pelos bancos centrais se tornarão impotentes. Basta acompanhar o real.



Havia a crença no mercado de que nem por um dilúvio a Fazenda e o Banco Central tolerariam dólar abaixo de R$ 1,70. Está a R$ 1,65. Já se acreditou que o piso seria R$ 1,80, R$ 1,90 etc.



O BC compra todo o fluxo líquido de divisas, o Tesouro faz o mesmo e a Fazenda dobrou para 4% o IOF sobre o capital estrangeiro aplicado em renda fixa e fundos de investimento. E nada, o dólar só cai.



Ao Guido, com respeito



O ministro Guido Mantega, sempre loquaz sobre questões cambiais, já tendo até feito sugestões ao presidente Barack Obama – aumentar gastos fiscais em vez de imprimir dinheiro -, com todo o respeito, deveria é parar de dizer que o governo está preparado para comprar todo o fluxo líquido de dólares que entrar no país.



A essa altura, depois da ata do Federal Reserve, que soa como uma espécie de ultimato, a declaração de Mantega parece um convite aos dólares ociosos no mundo a vir para o Brasil. Outros países com a mesma dificuldade do real, como Japão, muito mais preparados que o Brasil, insinuam ações mais drásticas.



Aproxima-se o dia em que um deles, provavelmente da Ásia - Tailândia e Malásia são candidatos, segundo os especialistas -, anunciará a centralização cambial.



Novas bolhas inflando



As valorizações dos preços das commodities agrícolas e metálicas, sem nenhuma conexão com a demanda, demonstram a progressão da fuga do dólar na direção de ativos reais - tema para outra coluna.



Não é de somenos a ameaça de novas bolhas nem de inflação global, quanto mais os EUA tentem escapar da deflação. A desinflação que a China exporta há duas décadas é brinquedo perto do que pode vir.



A ata do Federal Reserve previne que novas “acomodações podem ser adequadas em pouco tempo” e que a decisão dependerá da situação da economia. Traduzindo: depois das eleições legislativas em novembro devem recomeçar as emissões para recompra de papéis do Tesouro.



O que fará o governo?



O Fed não disse quanto. Mas se pode deduzir: só o déficit fiscal de 2011 está projetado em US$ 1,15 trilhão. O certo seria cortar gasto, mas o Congresso dos EUA não aprova. Político é tudo igual.



Se a China não aprecia o renminbi para exportar menos e consumir mais. Se corte fiscal nos EUA não dá, já que agravaria a recessão. Se outros “se” são por ora inamovíveis, restam as emissões contra as quais o mundo se prepara. E nós? Com Dilma ou Serra, a resposta terá de ser rápida e contundente quando se fizer necessária.



Mais etanol nos EUA



A Agência de Proteção Ambiental dos EUA, EPA, em inglês, aumentou de 10% para 15% a mistura de etanol a gasolina, mas só para carros e comerciais leves lançados depois de 2007. É um avanço importante num país viciado em petróleo mais pelo simbolismo da decisão.



O impacto será pequeno nos EUA e irrelevante para a indústria de álcool brasileira. Pelos dados da UNICA, que representa as usinas brasileiras, veículos fabricados depois de 2007 são apenas 18% da frota dos EUA. A UNICA reivindica o fim ou a redução da tarifa que tornam gravosas as exportações de etanol para os EUA.



O pleito tem a simpatia da EPA. Nos EUA, o etanol é de milho, que disputa espaço com a produção para consumo humano. O desinteresse das montadoras e o lobby dos ruralistas, porém, travam a decisão nos EUA

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