terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Brasil tem que agir com rapidez

Editorial de O Diário de Pernambuco
Edição de terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Brasil tem que agir com rapidez

Depois de superar os Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil, a China vai se tornando cada vez mais predatória para a indústria brasileira. Em acelerado processo de desequilíbrio, as relações bilaterais terão a chance de um ponto de inflexão em abril, quando a presidente Dilma Rousseff visitará o gigante asiático. Mas as pressões internas exigem respostas rápidas, sem muito tempo para negociações diplomáticas, em geral de longa maturação e efeitos demorados.

Afinal, aproxima-se de 70% o número de indústrias verde-amarelas competidoras dos chineses no exterior (e elas representam 52% do parque industrial) que já perderam participação no mercado, sendo que 4% delas deixaram de exportar. Pesa a dificuldade de uma concorrência justa com produtos de um país pouco transparente, de Estado forte, que exerce pleno domínio sobre a economia, manipulando o valor da moeda e concedendo incentivos aos exportadores.

Não surpreende que, nessas condições, os chineses tenham conseguido expandir suas exportações de US$ 249 bilhões no início do novo milênio para US$ 1,2 trilhão em 2009, apesar da crise financeira internacional que eclodiu em 2008. Tão extraordinário desempenho até faz soar ingênua a afirmação de que a China é incipiente em práticas capitalistas, embora só há 10 anos o país tenha tido acesso à Organização Mundial do Comércio (OMC).

A propósito, a maior potência comercial do planeta obteve de Brasília, em 2004, o reconhecimento como economia de mercado, status ainda hoje não formalizado. Em Pequim, Dilma certamente terá de se equilibrar entre os apelos do colega Hu Jintao, para que oficialize o compromisso, e as pressões da indústria brasileira para que não conceda mais vantagem ao concorrente. Mais que isso, esses industriais buscam compensações imediatas, sobretudo para a forte subvalorização do iuan.

Não se pode esquecer de que, dadas as necessidades chinesas de alimentos e recursos naturais, é importante que ambos os lados evitem o confronto e busquem uma relação justa. Da parte brasileira, embora avantagem de pelo menos US$ 5 bilhões no atual intercâmbio, há que se considerar a hipótese de aumentar esse superavit com um parceiro que acumula reservas internacionais próximas dos US$ 3 trilhões. Mas, à parte a cautela no campo diplomático, o país não pode prescindir - desde logo - de usar todas as armas disponíveis para evitar a desindustrialização, fenômeno que pode se transformar numa grave ameaça ao próprio desenvolvimento do país.

E não falta o que fazer, inclusive internamente. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já admite a possibilidade de elevar as tarifas do Imposto de Importação de produtos que chegam ao país para fazer concorrência injusta e o governo estuda proposta de desoneração da contribuição patronal para o INSS no setor exportador. Precisamos, diante desse perigoso quadro, proteger as estruturas de produção industrial do país, em face do que ocorre hoje nas relações comerciais entre o Brasil e a China. Trata-se, aliás, de um assunto que deve ter prioridade na agenda do governo, sabendo-se que esse desequilíbrio nas relações entre os dois países vem se arrastando no curso dos últimos anos.

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