segunda-feira, 21 de março de 2011

Avanço tem que ser provocado

EDITORIAL DIÁRIO DE PERNAMBUCO 21.03.2011

Avanço tem que ser provocado

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, concluiu a sua visita de dois dias ao Brasil levando na bagagem mais demandas que agradecimentos. Mesmo assim, o saldo é positivo para o país. Afinal, viagens presidenciais, principalmente nas circunstâncias que enfrenta o atual presidente norte-americano, não têm como ir além da emissão de sinais de boa vontade. E isso não faltou. Mesmo pressionado pela decisão de colocar seu país numa nova guerra (na Líbia) e pelos poderosos lobbies que, no Congresso dos EUA, amarram as mãos do morador da Casa Branca, Obama, que veio para falar, não deixou de ouvir.

Orador de notória capacidade para agradar às plateias, Obama se esmerou em destacar, especialmente no discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, as semelhanças entre os dois povos. Foi um bom preâmbulo para confirmar o interesse em retomar e fortalecer a histórica parceria comercial e política com o Brasil, relação arranhada nos últimos anos por atitudes que mais afastaram do que aproximaram os dois países.

Essa retomada interessa a ambos. Mergulhado nas consequências da crise financeira iniciada em 2008 e da qual foi o epicentro, o país de Obama enfrenta dramática necessidade de criar empregos. Para isso, precisa desesperadamente de exportar e de se livrar dos enormes déficits comercial (de décadas) e fiscal (engrossado pelo socorro aos bancos e grandes empresas, durante a crise). Obama veio vender a tecnologia e a disposição das corporações de seu país de ganharem dinheiro fornecendo materiais e financiamento para os próximos esforços brasileiros em infraestrutura, energia limpa e nos megaeventos da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Mas teve de ouvir - e nisso a presidente Dilma Rousseff soube ser firme, sem perder a deferência com que devem ser recebidos os chefes de estado - que o Brasil será pragmático nessa relação.

Afinal, depois de muitos anos, o país está em desvantagem de quase US$ 8 bilhões na balança comercial entre os dois países. Além disso, tem sofrido com as medidas de desvalorização do dólaradotadas pelo governo norte-americano. Dilma foi clara ao se referir a esse incômodo e ao pedir o fim das barreiras contra o aço, o etanol, o açúcar, o algodão, a carne bovina e o suco de laranja brasileiros. Obama se limitou a responder a essas questões comerciais, que, na prática, dependem mais do Congresso do que dele, por meio da assinatura de acordos de cooperação para combater essas dificuldades.

É verdade que avançou menos que poderia e que desejava o governo brasileiro, na sua pretensão de conseguir o decisivo apoio dos Estados Unidos para a candidatura do país a um assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU, como o próprio Obama ofereceu à Índia, em 2010. No máximo, ele disse reconhecer o Brasil como um líder global que passou de receptor de ajuda internacional para doador. Mesmo assim, o saldo é positivo e cabe ao Brasil, com maturidade e profissionalismo, provocar os próximos avanços.

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