domingo, 1 de fevereiro de 2009

Terra Magazine entrevista o delegado Protógenes Queiroz

Terra Magazine publica abaixo a primeira parte da entrevista com o delegado Protógenes Queiroz. Leia aqui a segunda parte.

Terra Magazine - Poderia esclarecer o atentado que diz ter sofrido?
Protógenes Queiroz - Fui ao Rio de Janeiro cumprir uma agenda familiar. Me dirigi ao carro que eu sempre uso no Rio, ele fica na rua. Vezes eu o uso, vezes não, por medida de segurança. Esse carro estava parado desde dezembro em frente ao prédio onde mora meu filho. Entrei. Dei uma volta no quarteirão e "bum". Uma explosão no painel do carro. De maneira injustificada. O carro enfumaçou inteiro, parecia que estava pegando fogo. Enquanto isto, saíram dois esguichos de água fervente e ácida sobre o meu corpo. Sorte que eu estava de calça jeans e sapato. Poderia ter sido pior, caso eu estivesse em alta velocidade. Poderia, na verdade, ter sido fatal. Sorte que eu estava a 40 km/h. Parei o carro imediatamente e saí. Fui socorrido por populares e peguei um taxi para me dirigir a um hospital de emergência. No meio do caminho, decidi ir a um médico de confiança minha para que, se fosse uma lesão mais grave, ser encaminhado a um hospital próprio para o caso. Foi grave. Queimadura de segundo grau profundo. Por isto é que vim me tratar no Hospital das Clínicas em São Paulo, onde tem mais recursos, no setor de Queimados e Cirurgia Plástica. Fiz uma pequena cirurgia para tirar a pele. Quanto à razão, não dá para afirmar que foi somente acidente, porque existem fatos anteriores que me autorizam a pensar em sabotagem provocada por terceiros. Isto já é considerado por quem cuida do caso e estamos tomando as devidas providências.

O que te leva a pensar que foi um atentado e não um acidente?
Vigilâncias, pressões e ameaças durante e depois da operação Satiagraha. Coisas não explicadas até agora. Mas já existem duas investigações iniciadas, uma em Brasília e a outra em São Paulo, ambas sob a responsabilidade do Ministério Público Federal. Até agora não se chegou a nenhuma conclusão, até porque os dados estão sendo tratados em sigilo.

É verdade que se negou a receber auxílio da Polícia Federal?
Surgiu uma história que me leva a crer que realmente existe algo obscuro no acidente. Logo depois de noticiado o meu acidente, publicou-se uma notícia mentirosa, de grupos interessados, dizendo que eu tinha me recusado a ir à Polícia Civil do Rio de Janeiro, negado auxílio da PF e que o carro tinha sido alvejado por um disparo de arma de fogo no radiador. Inventaram também que um carro da Polícia Civil tinha parado lá... Isso tudo é falácia. Mentira. Foi lançado na mídia pelos mesmos grupos que ainda me acompanham, seguem, vigiam. Fui socorrido por populares, como te disse. O carro? Guardado em local seguro para uma avaliação.

Acredita que o bloqueio de recursos do Opportunity tenha quebrado a tese de Daniel Dantas de que as investigações passaram a ser perseguições pessoais?
Agora, as investigações contra o grupo Opportunity e contra o banqueiro bandido Daniel Dantas existem em quatro países. Em ordem cronológica, os bloqueios se deram no Brasil, que bloqueou em setembro, por decisão do Fausto De Sanctis, quase meio bilhão de dólares, Inglaterra (US$45 milhões), Suíça e Estados Unidos. Ou seja, já foram bloqueados quase US$ 3 bilhões. Durante as investigações, tínhamos indícios de que Dantas desviou do Brasil para paraísos fiscais uma quantia aproximada de US$ 16 bilhões. E, como sabemos, dinheiro originário dos cofres públicos e corrupção, isto desde as privatizações. Então, este bloqueio não é nenhuma surpresa porque eram valores já identificados pela operação Satiagraha. Isto mostra que tudo o que coletamos durante as investigações são dados que provam o indício de ilícito e fraude no mercado financeiro. Não só no Brasil, mas com reflexos em outros países. Agora que estes localizaram o dinheiro brasileiro, bloquearam.

Como surgiu o bloqueio?
O bloqueio nasce com dados levantados aqui no Brasil. Identificamos as contas no exterior mantidas pelo grupo Opportunity. Com isto, enviamos os dados aos países com registros de que tenham recepcionado ou mantenham em seus depósitos valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A partir daí, o país vai avaliar a proveniência do dinheiro e, caso não seja justificada a origem, pedem mais informações para verificar possíveis semelhanças de valores. Para pedir o bloqueio e o repatriamento do dinheiro. Mas é preciso lembrar que estes são valores identificados na primeira fase da investigação. Ainda não chegamos aos valores da segunda fase, ainda em andamento. Acredito que o nome dos investidores fraudulentos e os responsáveis pela remessa de dinheiro suspeito sem origem serão descobertos a partir da quebra de sigilo dos HDs que foram apreendidos.

O dinheiro apreendido representa quantos por cento das operações do Opportunity no exterior?
O valor que conseguimos identificar representaria em torno de 20% das operações do Opportunity no exterior.

O que implica essa diferença entre os valores apresentados pelo Ministério da Justiça e Ministério Público Federal?
Pode ter ocorrido o mesmo que no caso Maluf, o desencontro pode estar na remessa dos documentos enviados. Não se trata de uma diferença de valores. Houve o anúncio de bloqueio pelo Ministério e Secretaria Nacional de Justiça e também houve uma manifestação do Ministério Público Federal divergindo dos valores bloqueados. Mas o que importa é que existem US$ 2 bilhões bloqueados à disposição do Brasil para o repatriamento. O desencontro de informações não interessa.

O que quer dizer que "não tem origem provada"? Que todo mundo que está ali vai perder o que tem se não provar a origem?
Um dinheiro sem registros, sem declarações no imposto de renda, sem origem provada e sem justificativas às autoridades brasileiras sobre o porquê da remessa ao exterior. Ou seja, valores suspeitos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Tem muitos brasileiros envolvidos. Muitas pessoas importantes que, caso queiram manter o valor desbloqueado, terão de se apresentar à justiça brasileira e provar a origem do valor, a legalidade do dinheiro. Essas pessoas terão que explicar o porquê das contas no exterior. Na minha avaliação, são pessoas da mesma linha que Dantas.

Quem são?
Tenho que manter sigilo, mas garanto que não tem nenhum trabalhador honesto que sai de casa cedo pela manhã e sabe o quanto paga num pãozinho.

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