quarta-feira, 15 de abril de 2009

Bancos legalizam nos EUA a fraude contábil nos balanços

O fim da marcação a mercado nos EUA?



Hora do Povo, 15.4.2009



O órgão federal responsável pelas normas contábeis mudou padrões para permitir que bancos atribuam o valor que queiram a seus papéis podres e possam disfarçar rombos. Com isso, vários bancos zumbis anunciaram “altos lucros” neste primeiro trimestre



Se a febre é muito alta, e não há como baixá-la, que tal quebrar o termômetro? Já que nem o bail out, nem reza brava, andavam impedindo bancos dos EUA de irem, um após outro, à lona, o que sucedeu nos últimos três meses a 23 deles, o órgão federal responsável pelas normas contábeis nos bancos, o “Financial Accounting Standards Board (Fasb), mudou os padrões de contabilidade para permitir que os bancos atribuam o valor que queiram a seus “ativos ilíquidos” – conforme a revista “The Economist” classifica os papéis podres. E, para melhorar ainda mais a maquiagem, também autorizou que possam disfarçar os monumentais rombos através do expediente de esticar sua contabilização por prazos maiores, isto é, diluírem o atual balancete. Com tal prestidigitação, esses bancos podem exibir uma “recuperação” em suas reservas de capital, sem se livrarem do lixo tóxico. Uma beleza. Antes mesmo da nova “norma”, o pra lá de arrombado Citibank já havia anunciado fantasmagórico “lucro”, sendo seguido pelo Wells Fargo/Wachovia, e, agora, pelo Goldman Sachs.



“ENRONOMICS”



Digamos que isso, antigamente, seria conhecido como falsificação de balancete, “enronomics”, mas os bancos arrombados acabam de obter a legalização da fraude contábil. Como os papéis podres em poder dos mastodônticos bancos norte-americanos agora valem 10% - e até menos - do valor de face, foi para o espaço aquela história de que é o “mercado” que “determina tudo” e, no lugar do preço “mark-to-market” (determinado pelo mercado), fabricaram o “mark-to-model” (marcado segundo o “modelo”, isto é, a fantasia que quiserem). A falseta deve integrar o esforço dos banqueiros a favor da re-regulamentação, dentro do espírito “cara, o especulador ganha”, “coroa, o contribuinte perde”. Ironicamente, a revista relatou que “atiraram no mensageiro”, para acrescentar: “regras de contabilidade estão sob ataque”.



Referindo-se ao bail out fase II, sob Thimothy Geithner na Secretaria do Tesouro em substituição a Henry Paulson, a “Economist” descreveu os ativos podres (“legados”) em mãos dos dez maiores bancos dos EUA como US$ 3,6 trilhões no final de 2008, ou cerca de um terço dos ativos deles”. Considerou, ainda, que “a vasta maioria” dos papéis podres ainda não tinha tido baixa contábil por parte desses “dez maiores” bancos e, estimou em 3% - uma diferença minúscula - entre o valor real desses ativos e o de “mercado”. Como se alguém fosse se aventurar a deglutir esse lixo a rodo, para ganhar 3%. De acordo com tal raciocínio, essa diferença de 3%, “que poderia não parecer muito”, implicaria em praticamente dizimar “um - quarto” das reservas de capital desses dez maiores.



Mas vamos aos bons ventos na Goldman Sachs, que segundo o “Washington Post” “registrou fortes lucros” de US$ 1,66 bilhão no primeiro trimestre do ano e que pretende “levantar US$ 5 bilhões” em capital novo, e se livrar dos controles decorrentes do bail out. As receitas no período foram 13% maiores em relação ao ano passado, para US$ 9,43 bilhões. Mas o jornal observou que em dezembro, ainda houve uma perda de US$ 1 bilhão, “enfatizando como a fortuna pode mudar rapidamente”. O motivo alegado pelo responsável financeiro da Goldman, David Viniar, para deixar o bail out foi que o banco “estaria sob menos escrutínio, e menos pressão”. Menos escrutínio, quase certamente, e o bônus agradece, assim como os esforçados executivos e operadores de derivativos. Quanto a “menos pressão”... Como um analista de outra arapuca do ramo, a Barclays inglesa, notou, “caso se olhe a maioria das condições” que levaram ao bail out dos bancos, “tais condições não mudaram”.



ANTONIO PIMENTA

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