quinta-feira, 7 de maio de 2009

Bancos centrais sucumbem novamente aos atrativos das barras de ouro

07/05/2009

Javier Blas e Patti Waldmeir

Financial Times

Hoje (07/05) faz dez anos que o Tesouro do Reino Unido fez com que os preços do ouro despencassem ao anunciar que venderia uma parcela das suas reservas do metal.

Em uma questão de semanas, os preços caíram para US$ 250 a onça, o valor mais baixo em 22 anos, e, no decorrer de 1999, bancos centrais diversos, desde á Austrália até a Suíça e a Holanda anunciaram planos para vender uma grande parcela das suas reservas de ouro.

"Houve a sensação de que os países estavam competindo uns com os outros para vender ouro", diz Jonathan Spall, diretor de commodities do Barclays Capital, em Londres, e especialista em atividades com ouro dos bancos centrais.

Uma década depois, o quadro é diferente - as vendas na Europa diminuíram bastante e uma nova demanda está emergindo em outras regiões.

O mais nítido sinal da nova tendência é o anúncio de Pequim de que a China quase que dobrou secretamente as suas reservas de ouro para tornar-se o quinto maior proprietário mundial do metal. Bancos centrais em países como Rússia, Venezuela, México e Filipinas também estão comprando ouro, embora em pequena quantidade.

Enquanto isso, o preço da barra recuperou-se, e está sendo vendido a um recorde de US$ 900 a US$ 1.000, à medida que os temores quanto à debilidade do dólar norte-americano e à crise financeira fazem com que os investidores corram atrás da segurança proporcionada pelo metal.
Essa mudança é, em parte, resultado de um fim natural das grandes vendas consumadas pela Europa, afirma John Reade, estrategista especializado em metais preciosos da UBS, em Londres.

Mas isso também reflete um novo interesse de setores oficiais em outras áreas. "Está bem claro que alguns países emergentes, especialmente Rússia e China, desejam criar reservas de ouro", afirma Reade.

Essa mudança é importante para o mercado de ouro em duas frentes: o interesse proporcionou apoio psicológico e, o mais importante, reduziu uma fonte de oferta. No ano passado, os bancos centrais venderam 246 toneladas, que, embora representassem a menor quantidade comercializada em dez anos, equivaleram a 10% do ouro extraído de minas em todo o mundo.

Fontes da indústria de ouro chinesa acreditam que a China deverá continuar adquirindo o metal discretamente, a fim de diversificar as suas reservas estrangeiras. Não se sabe exatamente quais são os motivos pelos quais Pequim está comprando ouro, mas analistas da indústria estão apostando que haverá mais aquisições, já que a China não faz segredo do seu desejo de diversificar as suas reservas estrangeiras e distanciar-se do dólar. Embora o ouro seja avaliado em dólares, o preço do metal geralmente aumenta quando a moeda norte-americana se desvaloriza.

"Estou convicto de que eles continuarão comprando porque as reservas de ouro da China são muito pequenas em relação ao tamanho da economia do país e à significância cada vez maior da sua moeda", afirma Paul Atherley, diretor de gerenciamento da Leyshon Resources na China.

As atuais reservas de ouro da China representam apenas cerca de 1,6% das reservas estrangeiras totais do país, uma percentagem muito menor do que a média global de 10,5%.

A crise financeira também conferiu uma nova importância ao ouro, mesmo entre os bancos centrais europeus que venderam barras. Os bancos centrais austríacos dizem: "O aumento dos preços do ouro e a desvalorização simultânea do dólar estadunidense nos últimos anos demonstraram claramente como o ouro é um instrumento para a diversificação de carteiras de bancos centrais".

O Fortis Bank prevê que neste ano o mercado de ouro continuará seguindo o rumo para "a menor venda anual líquida por bancos centrais em uma década". No ano passado os bancos centrais da zona do euro venderam a menor quantidade de ouro desde 1999, e os especialistas preveem neste ano uma nova queda das vendas.

A proposta de venda de 400 toneladas de ouro do Fundo Monetário Internacional (FMI) poderia compensar essa queda, mas em 2008 os bancos centrais fora da Europa compraram mais do que venderam, e poderiam criar uma pressão para o aumento da demanda oficial.

A última ocasião em que o setor oficial foi um comprador líquido de ouro - embora pequeno - foi em 1988. Grandes aquisições oficiais de ouro - na casa das centenas de toneladas - não eram presenciadas desde 1965.

Philip Klapwijk, diretor do GFMS, a consultoria da área de metais preciosos, acredita que é "extremamente improvável" que os bancos centrais retornem ao mercado em grande escala, e prevê que nos próximos anos esses bancos possam oscilar entre pequenas vendas e aquisições líquidas. Começou uma nova era no mercado de ouro.

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