terça-feira, 30 de junho de 2009

Um admirável mundo "novo"

(trechos da matéria "O neoliberalismo acabou?", Le Monde Diplomatique Brasil, junho/2009, por Silvio Caccia Bava)

"É verdade que está instalada uma grande confusão. Quando o Estado se torna acionista de grandes conglomerados financeiros e industriais, em alguns casos assumindo o controle e a direção; quando uma imensa quantidade de recursos públicos é entregue ao grande capital; tudo ao contrário do que prega o neoliberalismo, pode-se pensar que algo mudou. (...)

Não há dúvida de que esta é uma crise de proporções inéditas. Um verdadeiro abalo na lógica de mercado. Mas o poder não mudou de mãos. Seria por demais ingênuo acreditar que o neoliberalismo deixou de ser a referência para os governos dos países ricos. Os gestores atuais da crise são os promotores do neoliberalismo. E já começam a esboçar uma nova proposta para substituir esta doutrina e legitimar novas formas de dominação capitalista: a social-democracia global. (...)

O economista Samir Amin alerta para o fato de que os pacotes de resgate do sistema financeiro foram concebidos no FMI, em articulação com o G8, e foram as corporações financeiras que pediram aos governos para nacionalizá-las [na verdade, os governos compraram ações preferenciais, e não ordinárias, o que faz uma enorme diferença]. As medidas para salvar essas instituições foram concebidas por elas mesmas, que controlam a maior parte dos recursos públicos destinados a socorrê-las. (...) A crise está gerando, portanto, uma concentração ainda maior de poder e riqueza. Basta ver as recentes aquisições do Bank of America (Merril Lynch, Countrywide Financial Corporation) ou da Fiat (Chrysler, Opel). (...)

Hoje, depois de algum alvoroço que pretendia atribuir a crise à falta de regulamentação e supostos excessos, tudo continua como antes. Nem mesmo nos paraísos fiscais se tocou".



Essa matéria nunca sairá nas páginas de uma Veja/Época (Time/Warner). No auge da crise, "escapou" que não menos do que cerca de 60% da população economicamente ativa da Inglaterra trabalha no sistema financeiro. A Rainha de lá tem sob seus domínios mais de 80% dos paraísos fiscais do planeta. Até o final da Idade Média, os ingleses foram os mais notórios piratas, de mercadorias. Nos tempos "modernos", eles continuam com a mesma vocação, só que agora atuam no "ramo" da pirataria financeira. E pouca coisa vai mudar. A única mudança possível no cenário pós-crise será a inclusão dos BRICs, provavelmente por adesão incondicional.



Portanto, a se dar algum crédito à crítica do jornal francês, não virá "mais regulamentação" nem "mais fiscalização". Pelo contrário, continuaremos na mesma toada. Daqui a pouco, retornará o discurso do Estado mínimo e etc e tal.

Nenhum comentário: