segunda-feira, 6 de julho de 2009

Brasil pode recuperar 200 US$ bilhões da Suíça

2/7/2009 - Correio do Brasil


Por: Rui Martins


Como o Brasil poderá recuperar dos secretos bancos suíços o equivalente a 200 bilhões de dólares escondidos por brasileiros. O banco suíço UBS parece aquelas maldições gregas pelas quais a desgraça chega. Seus dias estão praticamente contados mas vai levar na sua queda um país inteiro.

A vida tem suas ironias – faz uns dez anos, o desesperado diretor da empresa aérea Swissair telefonou para o antigo diretor do banco UBS pedindo a liberação do equivalente a US$ 200 milhões para pagar o querosene dos aviões, caso contrário, por falta de dinheiro em caixa, seria obrigado a declarar a falência da empresa.

A Swissair era o orgulho dos suíços, seus aviões levavam o orgulho de um pequeno país rico para todo o mundo. Muita gente aplicava suas economias na empresa Swissair, cujas ações eram sinônimo de coisa segura e estável.

Mas será que um banco com os cofres abastecidos com dinheiro subtraído do mundo inteiro, seja pela evasão fiscal, seja pela transferência do dinheiro público de ditadores tem patriotismo? O suíço, diretor do banco UBS, Marcel Ospel, que talvez tenha bandeirinha suíça no seu chalé como é de hábito, estava pouco ligando para o orgulho do seu povo e negou os US$ 200 milhões.

A Swissair faliu e começou a série de desgraças, iniciada com a queda do Muro de Berlim. Sim, porque a fôrça da Suíça era ser neutra num mundo envolvido numa guerra fria, entre o capitalismo e o comunismo. Com a implosão da URSS, a Suíça perdeu sua utilidade e até os agentes secretos de Moscou e da CIA deixaram o país.

As maldições pronunciadas por seus próprios filhos Max Frisch, Durenmatt, Jean Ziegler iam se realizar uma a uma e a Suíça iria pagar seus pecados de soberba, de egoismo e de prepotência. E nessa descida ao inferno está sempre acompanhada daquele que foi seu primeiro e principal banco e que um dia desses deixará de existir – o UBS.

Veio, logo a seguir, a revelação de que os bancos suíços tinham se aproveitado do extermínio de judeus ricos, nos campos de concentração nazistas, para ficarem com suas contas bancárias, negando-se mesmo a entregá-las quando surgiam diante do Caixa alguns descendentes sobreviventes. Dizem mesmo que certos gerentes de bancos suíços tinham o desplante de pedir atestado de óbito de Auschwitz, para procurarem se havia alguma conta em seu nome.

Shame, shame. Até um guarda-noturno precisou se refugiar nos EUA para escapar à fúria do UBS, por ter salvado da destruição quilos de documentos da época das ascenção do nazismo na Alemanha, quando milhares de apartamentos e propriedades de judeus enviados às câmaras de gás ficaram sem dono. E Bill Clinton assinou um ato inédito, concedeu o green card ao primeiro suíço refugiado nos EUA, pois o guarda-noturno do UBS corria o risco de cinco anos de prisão, num processo aberto em Zurique pela Justiça suíça.

Enquanto os cofres fortes suíços se enchiam com dinheiro subtraído dos países pobres da África e da América Latina, nada ameaçou o império dos banqueiros suíços. Mas surgiu novamente o UBS, cujo excesso de impunidade levou ao erro fatal.

O banco UBS instalou nos Estados Unidos um esperto sistema (com as mesmas artimanhas que bancos estrangeiros fazem no Brasil) para extorquir os impostos do fisco norte-americano, um leão muito mais bravo do que o leão brasileiro. E assim o banco UBS, que quase quebrou com o escândalo dos subprimes hipotecários norte-americanos, poderá quebrar quando vier a sentença e o quantum a pagar de multa por incitação à fraude fiscal nos EUA.

E, como no caso da Swissair, o escândalo da fraude fiscal do UBS despertou o mundo para os paraísos fiscais e para a Suíça. Hoje, acuada, cercada de um lado pela União Européia e do outro pelos EUA, a Suíça é obrigada a acabar pouco a pouco com seu lucrativo segredo bancário.

Mas é aí que pode entrar o Brasil. O segredo bancário suíço só vai continuar para os países latino-americanos, africanos e asiáticos. E como existem nos cofres suíços cerca de US$ 200 bilhões escondidos por brasileiros, o Brasil poderá muito bem, sozinho ou com o grupo dos 20, exigir ter o mesmo tratamento dos EUA e da União Européia em matéria de evasão fiscal e de taxação do capital brasileiro escondido nos bancos suíços.

A hora é agora – atacada pelos europeus e norte-americanos, a Suíça não terá como negar ao Brasil o benefício de um estatuto próprio em termos fiscais. E, em nome do restabelecimento da verdade fiscal, o Brasil poderá exigir (como exigem agora os EUA os nomes de 52 mil clientes norte-americanos do UBS), a identidade dos brasileiros com dinheiro escondido na terra de Guilherme Tell, e assim recuperar ou taxar os US$ 200 bilhões armazenados na Caverna suíça de Ali Babá.

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