terça-feira, 9 de novembro de 2010

A guerra do câmbio e o G-20

Editorial de O Diário de Pernambuco
Edição de terça-feira, 9 de novembro de 2010


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita Dilma Rousseff chefiam a delegação brasileira à cúpula do G-20, que reúne os chefes de Estado das 20 maiores economias do planeta, em Seul, capital da Coreia do Sul. Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega (que também participa do encontro), já declararam para a torcida interna que vão gritar o quanto puderem contra a chamada guerra cambial liderada pela China e pelos Estados Unidos e, principalmente, em protesto pelas recentes medidas de expansão monetária do Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano.

Estão mais do que certos nossos representantes. É bom que façam o maior barulho possível, mesmo sabendo que isso vai adiantar muito pouco ou quase nada. Pode servir apenas de explicação prévia para eventuais medidas que o Brasil venha a tomar para se defender da verdadeira tempestade que está se tornando visível no horizonte.

Só quem não acha importante acompanhar o que se passa no mundo, especialmente nas economias centrais, não sabe que o comércio internacional e as finanças públicas vão de mal a pior e que isso afeta a todos os países. Mas o Brasil só vai cometer os erros do passado, quando julgou ser uma ilha de estabilidade em um mundo em crise, se quiser ou se ninguém se dispuser a alertar o governo para o insucesso da avestruz que enfia a cabeça na areia, para fugir do perigo. O encontro de Seul dificilmente vai produzir consenso em torno de ação conjunta de alguma consequência.

Será proveitoso se servir para mostrar que a ilusão dos tapinhas nas costas e das gentilezas protocolares são apenas parte do cerimonial diplomático. O que realmente conta é o interesse econômico de cada país envolvido. Nesta hora, conta mais que tudo o peso específico de cada país e cada vez menos a saudável ideia da multilateralidade. O jogo passa a ser bruto e fica evidente que a velha máxima dos amigos à parte na hora dos negócios não foi inventada à toa.

Todos vão partir para a batalha. A maior economia do mundo já deu seus primeiros passos. Começaram rebaixando os juros para próximo de zero. Seguiu-se a desvalorização do dólar. Esta semana veio a injeção de US$ 600 bilhões na economia, uma medida que prejudica todo mundo, tomada antes da reunião do G-20 para tornar-se fato consumado. O passo seguinte é a viagem do presidente Barack Obama à Ásia, em busca de acordos bilaterais, que tendem a atropelar negociações em bloco. Os norte-americanos confirmam sua velha postura: eu me arrumo e o G-20 e o mundo que se virem.

Mais do que protestos, o que resta ao Brasil é trabalho árduo. Com os contratos em dia e a moeda estabilizada, o país tem hoje muito a perder. É hora de voltar ao dever de casa: conter os gastos públicos para poder baixar os juros, deixar de atrair capital especulativo, não demandar mais dívidas e não precisar retirar mais fôlego da sociedade via impostos. Caso se confirme um novo tsunami mundial, será melhor estarmos mais uma vez preparados para fazer dele uma marolinha. Se ele não vier, melhor ainda.

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