terça-feira, 9 de novembro de 2010

'Não podemos assumir prejuízos para ajudar os Estados Unidos'

Meirelles afirma que o Brasil já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial
09 de novembro de 2010 | 0h 00

Jamil Chade CORRESPONDENTE / BASILEIA - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, garantiu que o País já está fazendo sua parte para garantir o crescimento da economia mundial e que "não cabe ao Brasil assumir os prejuízos para ajudar a economia americana".
Em entrevista ao Estado, Meirelles admitiu que a injeção de liquidez de US$ 600 bilhões feita pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode ter um impacto negativo. Mas insiste que o Brasil está tomando "todas as medidas necessárias" para proteger sua economia.
Meirelles participou nos últimos dois dias do encontro entre os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo, em evento na Basileia, Suíça. A seguir, a entrevista.
O Brasil deu sinais de ter resistido bem à crise de 2008. A onda de liquidez atual pode ameaçar a economia brasileira em 2011 ou gerar risco de criar bolha de ativos?
O Brasil está tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira do excesso de liquidez mundial e impedir a formação de bolhas nos preços de ativos. Como exemplo, o Banco Central do Brasil tem comprado o excesso de liquidez em dólares, e esterilizado os reais que são emitidos em consequência da compra de reservas. Além disso, o Banco Central tem reforçado as regras prudenciais, para evitar que o excesso de liquidez se transforme em aumento inadequado do risco de crédito no sistema financeiro brasileiro. Também foram adotadas medidas fiscais, através do IOF.

Qual a posição do Brasil em relação à política de expansão monetária americana?

A posição do Brasil é de que esse aumento da liquidez americana, que gera fluxos de entrada em países que estão mostrando solidez na economia, é negativa para o Brasil. O País está crescendo com uma expansão robusta do mercado doméstico. Portanto, como não precisamos dessa excessiva liquidez externa, ela torna-se prejudicial à economia brasileira.

O governo americano insiste que a injeção de US$ 600 bilhões é de interesse de todos, já que seria de interesse de todos ver o crescimento da economia americana. Além disso, declaram que o objetivo não é desvalorizar a moeda. O sr. acha que a recuperação da economia dos Estados Unidos é uma meta que deve ser buscada por todos e que de fato merece o sacrifício de outras economias?

O Brasil já está dando a sua devida contribuição para a recuperação da economia mundial através de um crescimento substancial da demanda doméstica, portanto consideramos que o Brasil já cumpriu sua parte. Não cabe ao Brasil assumir prejuízos para ajudar a economia americana. Em consequência, estamos tomando todas as medidas necessárias para proteger a economia brasileira.

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, falou que a incerteza é o que marca a atual etapa da economia mundial. De que forma isso afeta o Brasil e os planos de crescimento do País em 2011?

O Banco Central do Brasil está levando em consideração essa incerteza em seu processo decisório. Estamos tomando todas as providências para evitar que mudanças de cenário sejam prejudiciais para o Brasil. Atualizamos as nossas hipóteses de trabalho constantemente, visando adaptar a economia brasileira às incertezas da economia mundial. Por exemplo, o desempenho abaixo do esperado da economia mundial, a partir do segundo trimestre, foi imediatamente incorporado nas hipóteses de trabalho do BC e no seu processo de tomada de decisões. A força da economia brasileira, aliada aos bons fundamentos, ao forte crescimento da demanda doméstica e à não dependência da demanda externa, faz com que as perspectivas de crescimento para o Brasil em 2011 sejam sólidas.

Basileia 3 deve ser aprovada nesta semana. Qual será o impacto para o Brasil? O Brasil terá bancos entre aqueles considerados como influência sistêmica e que exigirão maior capital?

O impacto para o Brasil será limitado, na medida em que grande parte das diretrizes aprovadas já estão implantadas no Brasil. Faremos algumas mudanças pontuais, como a do crédito fiscal intertemporal, mas haverá tempo suficiente para adaptação do sistema até 2019. Não estão finalizados os critérios para a definição de quais são os bancos sistemicamente importantes e, portanto, é prematuro definir se existirão instituições brasileiras classificadas nessa categoria.

No próximo governo, o sr. aceitaria um posto que não fosse o de presidente do Banco Central?

No momento adequado, vou pensar no assunto.

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