sexta-feira, 11 de julho de 2008

Daniel Dantas vê motivação política em prisão
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da Folha Online

O banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, disse em entrevista exclusiva publicada nesta sexta-feira na Folha (íntegra disponível para assinantes do UOL e do jornal) que sua prisão durante a Operação Satiagraha, da Polícia Federal, teve motivação política. Na reportagem de Claudio Dantas Sequeira, o banqueiro especulou uma possível perseguição por parte do ex-ministro Luiz Gushiken (Núcleo de Assuntos Estratégicos), opositor aos negócios do banqueiro junto à cúpula do governo.
Segundo a reportagem, Dantas concedeu a entrevista no lobby do hotel em que se hospedou depois de deixar a carceragem da Superintendência da PF de São Paulo. Temendo estar sendo monitorado, falou ao lado de uma coluna e levava a mão à boca quando respondia às perguntas.
O banqueiro disse que é inocente e classificou como "superficiais" as evidências reunidas contra ele no processo. "São acusações totalmente infundadas. Estou convicto de minha inocência", declarou.
Para banqueiro, informações que ele teria dado a promotores de Milão no caso Telecom Italia são uma das razões para operação da PF.
Dantas foi solto por decisão do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, que concedeu habeas corpus por considerar sua prisão "desnecessária". Cerca de 10 horas depois, a Justiça Federal em São Paulo decretou nova prisão do banqueiro, desta vez preventiva, por corrupção ativa.
A prisão preventiva de Dantas foi expedida pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo a pedido da PF e do Ministério Público Federal com base em documentos encontrados na casa dele na terça-feira. O depoimento de Hugo Chicaroni, também preso durante a operação, reforçou o pedido de prisão.
Segundo a Procuradoria, Chicaroni detalhou no depoimento à PF os preparativos da tentativa de suborno de um delegado federal para que o nome de Dantas e de integrantes da sua família fosse retirado de um inquérito da PF sobre supostas operações ilícitas.
Segundo a denúncia, o dinheiro teria sido oferecido ao delegado federal Vitor Hugo Rodrigues Alves por dois emissários de Dantas: Chicaroni e Humberto José da Rocha Braz --também conhecido por Guga--, assessor de Dantas e ex-diretor da Brasil Telecom, empresa que pertenceu ao grupo Opportunity. A defesa do banqueiro nega a acusação.
"Para o Ministério Público Federal, no entanto, diante do resultado da operação, não havia mais o que esperar, uma vez que na casa de Chicaroni no dia em que a Operação Satiagraha foi deflagrada a Polícia Federal apreendeu R$ 1,28 milhão. Além disso, em depoimento à Polícia Federal, na presença de seu advogado, Chicaroni detalhou os preparativos da corrupção", diz a Procuradoria em nota.
Antes de a Justiça decretar novamente a prisão de Dantas, o advogado Nélio Machado, que defende o banqueiro, havia dito em entrevista coletiva que seu cliente prestaria depoimento ainda hoje à PF, o que não ocorreu. Machado também voltou a negar que Dantas tenha tentado subornar o delegado federal.
Após a prisão de Dantas, o advogado Nélio Machado, que defende o banqueiro, foi à PF para saber a situação de seu cliente. O advogado disse que "possivelmente" deve entrar com novo habeas corpus em favor de seu cliente, mas que primeiro pretende estudar o pedido de prisão preventiva que colocou o banqueiro novamente na carceragem.
"Não tenho conhecimento formal do depoimento de Chicaroni. Aliás, nem sei se esse é o nome dele. Tenho muita dúvida quanto a esse tipo de prova de delação premiada. Não acredito que esse seja o método correto de investigação", afirmou Machado, sobre o depoimento de Chicaroni, que continua preso.
Investigações
Segundo a PF, as investigações começaram há quatro anos, com o desdobramento das apurações feitas a partir de documentos relacionados com o caso mensalão. A partir de documentos enviados pelo STF para a Procuradoria da República no Estado de São Paulo, foi aberto um processo na 6ª Vara Criminal Federal.
Na apuração foram identificadas pessoas e empresas supostamente beneficiadas no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para intermediar e desviar recursos públicos. Com base nas informações e em documentos colhidos em outras investigações da Polícia Federal, os policiais apuraram a existência de uma organização criminosa, supostamente comandada por Daniel Dantas, envolvida com a prática de diversos crimes.
Para a prática dos delitos, o grupo teria possuído empresas de fachada. As investigações ainda descobriram que havia uma segunda organização, formada por empresários e doleiros que supostamente atuavam no mercado financeiro para lavagem de dinheiro. O segundo grupo seria comandado pelo investidor Naji Nahas.
Além de fraudes no mercado de capitais, baseadas principalmente no recebimento de informações privilegiadas, a organização teria atuado no mercado paralelo de moedas estrangeiras. Há indícios inclusive do recebimento de informações privilegiadas sobre a taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o BC americano).

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